No final de 2023, 1339 tinham inscrições suspensas há mais de cinco anos

Portugal perde número recorde de médicos dentistas

O número de médicos dentistas com inscrição suspensa há mais de cinco anos aumentou 7,6 por cento em 2023, atingindo a 31 de dezembro o valor mais elevado de sempre. No total são 1339 profissionais que ultrapassavam o período a partir do qual se considera que não voltarão a exercer em Portugal. Segundo o estudo ‘Números da Ordem 2024’, a maioria são de nacionalidade portuguesa (74,1%). De entre os 347 estrangeiros, 175 são do Brasil.

De acordo com o estudo ‘Números da Ordem 2024’, no final de 2023 existiam 2312 profissionais com inscrição suspensa, o que representa o segundo maior aumento num só ano (235) desde que há registos. O recorde de 258 (14,2%) foi atingido em 2022. Pelo segundo ano consecutivo, a taxa de crescimento é de dois dígitos (11,3%), um facto que não ocorria desde 2019 quando o crescimento foi de 12,2%. A última vez que houve dois anos seguidos com taxas de crescimento acima dos 10% foi em 2015 (10,3%) e 2016 (10,9%).

Mais de metade (54,4%) das 2312 inscrições suspensas tiveram como objetivo trabalhar no estrangeiro. Destes 1257, 26,8% escolheram exercer em França, 18,1% no Reino Unido e 13,4% em Espanha, que supera a Itália como o terceiro destino face aos ‘Números da Ordem 2023’.

“Portugal formou e perdeu estes 1339 médicos dentistas com inscrição suspensa há mais de cinco anos. E a situação vai continuar a agravar-se, porque continuamos a despejar num mercado de trabalho saturado jovens com perspetivas muito reduzidas de conseguir uma situação profissional estável”, afirma Miguel Pavão, bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, preocupado com o atual cenário nas universidades portuguesas: “Somos o segundo país que mais médicos dentistas forma na União Europeia, conforme confirmou o Eurostat. É urgente parar e pensar numa estratégia nacional que inverta estes números”.

A preocupação com o elevado número de alunos nas instituições de ensino superior é igualmente partilhada pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES). No processo realizado este ano de acreditação dos ciclos de estudo da medicina dentária, a A3ES identificou fragilidades que promovem a perda de qualidade do ensino e, por conseguinte, a empregabilidade dos futuros profissionais. A saber: um elevado rácio docente/estudante nas unidades curriculares clínicas (em alguns casos, existe um docente para 20 estudantes, traduzindo-se num sistema de um doente para três ou quatro estudantes), um excesso de estudantes e um desadequado rácio docente/estudante no ensino pré-clínico (em alguns casos, um docente para 20 estudantes, o que condiciona a aquisição das competências necessárias para ingressar na clínica).

Em Portugal existem sete instituições de ensino superior a lecionarem o curso de mestrado integrado em medicina dentária, que foram convidadas a colaborar na produção do ‘Números da Ordem 2024’. Cinco forneceram dados relativos ao número de alunos inscritos no ano letivo 2023/2024. Ressalvando que o Instituto Universitário de Ciências da Saúde e o Instituto Universitário Egas Moniz não apresentaram qualquer valor, a verdade é que o número de alunos aumentou nas restantes. “É um retrato incompleto. Lamentamos porque as universidades são um elemento fundamental na estratégia que urge definir para a medicina dentária em Portugal”, acrescenta Miguel Pavão.

O estudo ‘Números da Ordem 2024’ confirma o aumento (2,2%) de médicos dentistas com inscrição ativa, totalizando 12 988 membros. Este aumento do número de profissionais aptos a exercer em Portugal traduz-se igualmente no aumento do rácio de médico dentista por habitantes. No final de 2023, o valor voltou a agravar-se: passou de 1MD/814 pessoas residentes em 2022 para 1MD/796. Este resultado afasta Portugal da recomendação da Organização Mundial da Saúde que define um rácio de 1MD/1500-2000 habitantes.

Numa análise mais detalhada, o estudo confirma sem surpresa as disparidades existentes entre as diferentes regiões do País. A Área Metropolitana do Porto (1MD/564) e Viseu Dão Lafões (1MD/640) têm excesso de médicos dentistas, enquanto as regiões do Baixo Alentejo (1MD/2051) e Alentejo Litoral (1MD/2052) têm falta destes profissionais.

Das 25 regiões do País há 19 com uma densidade de médicos dentistas acima da recomendada pela OMS, mais uma (Beira Baixa) do que em 2022. Oeste, Lezíria do Alentejo, Alto Alentejo e Alentejo Central são agora as únicas dentro dos parâmetros da OMS.

O estudo ‘Números da Ordem’ reúne num só documento os grandes números, estimativas e tendências da profissão. Todos os números resultam da base de dados da própria OMD, à data de 31 de dezembro de 2023. Os capítulos ‘Estudantes’ e ‘Projeções e Tendências’ resultam de informação enviada à Ordem pelas instituições de ensino superior com curso de mestrado integrado em medicina dentária.

 
Fonte: 
Ordem dos Médicos Dentistas (OMD)
Nota: 
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