Num estudo, em modelo animal

Vesículas libertadas por células estaminais melhoram despigmentação da pele provocada por vitiligo

Um estudo, recentemente publicado na revista científica Advanced Science, demonstrou que os exossomas de células estaminais mesenquimais do cordão umbilical (UC-MSCs-Exos) podem representar uma solução inovadora para o tratamento do vitiligo, uma doença dermatológica crónica que afeta entre 0,1% e 2% da população e tem um impacto significativo na autoestima dos doentes.

O vitiligo é a causa patológica mais comum de falta de pigmentação da pele, caracterizando-se por manchas brancas dispersas pelo corpo que têm origem na destruição de melanócitos, as células responsáveis pela produção de melanina.

Em termos clínicos, as lesões iniciais do vitiligo são frequentemente caracterizadas pela infiltração local de células T, que desempenham um papel essencial no sistema imunológico, e pela consequente perda de melanócitos na pele afetada. No vitiligo, a função das células T reguladoras (Tregs) está comprometida, o que contribui para a progressão da doença.

Embora a causa exata do vitiligo ainda seja incerta, há evidências que sugerem uma forte ligação com fatores autoimunes e stress oxidativo. Até ao momento, não existe uma terapia eficaz que trate simultaneamente esses dois aspetos da doença, o que torna urgente o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas.

A ação terapêutica das células estaminais mesenquimais do cordão umbilical (UC-MSCs) está associada à secreção de vesículas extracelulares, em particular de exossomas, que, devido às suas propriedades imunorreguladoras e antioxidantes, apresentam potencial para o tratamento de doenças autoimunes, como o vitiligo.

O estudo publicado investigou o impacto dos exossomas derivados de UC-MSCs no tratamento do vitiligo em modelo animal. Os animais foram divididos em três grupos distintos: animais doentes (grupo controlo), animais doentes aos quais foram administrados exossomas obtidos a partir de um meio de cultura em 2D, e animais doentes aos quais foram administrados exossomas obtidos a partir de um meio de cultura em 3D, que permite replicar de forma mais fiel o ambiente fisiológico.

Após 10 semanas de tratamento, os resultados mostraram que as áreas de despigmentação nos animais tratados com exossomas eram significativamente menores comparativamente ao grupo controlo, apresentando o grupo tratado com exossomas obtidos a partir de um ambiente 3D os melhores resultados.

Além disso, os investigadores observaram uma redução considerável no número de linfócitos T infiltrados na pele e no sangue dos animais tratados, sugerindo que os exossomas, principalmente aqueles obtidos através de um meio de cultura 3D, desempenham um papel crucial na regulação do sistema imunológico e na proteção dos melanócitos contra o stress oxidativo.

Os resultados obtidos nesta primeira fase demonstraram que exossomas de UC-MSCs contribuíram simultaneamente para a redução da infiltração e da ativação dos linfócitos T e para o aumento do número de células reguladoras do sistema imunitário.

Numa segunda fase, os testes in vitro também mostraram que os exossomas derivados de células estaminais mesenquimais do cordão umbilical são eficazes na proteção dos melanócitos, diminuindo a acumulação de compostos tóxicos responsáveis pela sua destruição celular (apoptose), o que sugere a atividade antioxidante e antiapoptótica dos exossomas em resposta ao stress oxidativo.

Este estudo representa um avanço significativo no desenvolvimento de terapias com base em exossomas, oferecendo novas perspetivas para o tratamento do vitiligo. As vesículas extracelulares derivadas das células estaminais demonstraram um efeito duplo, atuando tanto nos mecanismos imunológicos quanto no stress oxidativo, ambos subjacentes à doença.

“A capacidade dos exossomas de atuar simultaneamente sobre os mecanismos imunológicos e de stress oxidativo subjacentes ao vitiligo coloca estas vesículas como um tratamento promissor e alternativo para doenças do foro autoimune. No entanto, são ainda necessários mais estudos que permitam alcançar um maior conhecimento acerca da utilização e eficácia desta abordagem terapêutica para que possa vir a ser implementada na prática clínica.”, refere Eduardo Carvalho, do Departamento de I&D da Crioestaminal.

Fonte: 
Crioestaminal
Nota: 
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