Campanha alerta para os fatores de risco do cancro do pulmão
A importância de conhecer os fatores de risco - como o tabagismo ativo ou passivo; exposição a amianto ou radão; exposição a poluição, agentes químicos ou radioativos; história familiar de doença oncológica - e poder atuar mais precocemente na deteção da doença são o mote da campanha deste ano.
De acordo com os dados do Globocan, em 2022, esta doença afetou mais de dois milhões de pessoas em todo o mundo, tendo roubado 1,8 milhões de vidas. Em Portugal, no mesmo ano, contabilizaram-se cerca de 6.000 novos casos e 5.000 mortes associadas ao cancro do pulmão, que é o 4.º com maior incidência, mas o 1.º em número de mortes.
“Habitualmente, os sintomas são inespecíficos e tardios”, confirma Cláudia Vicente, Coordenadora do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da APMGF (GRESP). “A literacia da população é muito importante para esta poder estar desperta para os fatores de risco, história familiar e sintomas.”
Ainda que na maioria das situações não exista sintomatologia associada até que a doença se desenvolva, há sinais a ter em atenção, como tosse que não passa ou que piora, tosse com sangue, dor no peito que geralmente piora com respiração profunda, rouquidão, perda de apetite, perda inexplicável de peso, falta de ar ou cansaço.
Manter um estilo de vida saudável e ter atenção reforçada aos fatores de risco é essencial quando se fala no cancro do pulmão, sobretudo para contrariar o cenário atual: “é a doença oncológica com maior mortalidade associada, em grande parte pelo facto de a maioria dos diagnósticos ocorrerem em estádio avançado da doença, em que apesar dos avanços significativos no tratamento desta patologia, os resultados são ainda modestos”, afirma Isabel Magalhães, presidente da Pulmonale (Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão).
O rastreio é uma ferramenta essencial para diagnosticar a doença precocemente pelo que é o foco de sociedades médicas e associações de doentes desta área.
“No momento, ainda não existe em Portugal um programa de rastreio, embora exista já muito debate e o esforço das sociedades científicas em emitir posições e mesmo propostas para que se dê início ao rastreio do cancro do pulmão”, refere Cláudia Vicente.
“O rastreio do cancro do pulmão realizado através de Tomografia Axial Computorizada de baixa dose demonstrou efetividade, nomeadamente nos grandes estudos realizados (National Lung Screening Trial e Estudo Nelson), reduzindo a mortalidade em pelo menos 20% ao possibilitar o diagnóstico em estádios iniciais”, acrescenta Isabel Magalhães.
Dada a relevância deste tema, existe um projeto piloto para o rastreio apresentado publicamente, bem como às autoridades de saúde, pela Pulmonale.
“Além do tabagismo ativo e passivo, há vários outros fatores de risco associados ao desenvolvimento do cancro do pulmão. Podem ser fatores de risco ambientais como exposição ao radão, substâncias químicas ou poluição do ar. Por outro lado, relacionados com a pessoa, podemos citar a história familiar, patologia respiratória prévia e estilo de vida”, confirma Cláudia Vicente.
“Em Portugal, a combinação desses fatores, pode explicar o aumento do número de casos de cancro do pulmão. A alteração do estilo de vida, cada vez mais urbano, com menos exercício e alterações de hábitos alimentares associadas à poluição do ar em áreas urbanas e a exposição a substâncias químicas em determinados ambientes de trabalho pode estar a contribuir para o aumento do cancro do pulmão. Além disso, o aumento da esperança de vida e o envelhecimento da população também podem estar a levar a um maior número de casos, já que o risco de cancro do pulmão aumenta com a idade”, reforça a especialista.
No que diz respeito aos desafios associados à jornada do doente com cancro do pulmão, Isabel Magalhães alerta para “uma falta de equidade que urge alterar. O cancro do pulmão é uma patologia complexa, cujo tratamento deveria ocorrer em centros de referência, seguindo guidelines atualizadas e com tempos máximos de resposta para cada etapa da jornada do doente. O que se constata é a existência de diferentes realidades, com as consequências que daí advêm para os doentes”.
Há ainda a salientar o papel dos cuidados de saúde primários que, segundo Cláudia Vicente, “pela sua proximidade à população, podem intervir a vários níveis. Por um lado, podem atuar na desabituação tabágica, um dever de todos os profissionais de saúde” assim como na “promoção de um estilo de vida saudável – exercício e alimentação equilibrada.”. Sobre o tema dos rastreios, a especialista refere que “devem passar pela colaboração multidisciplinar entre as várias especialidades, onde a Medicina Geral e Familiar deve estar envolvida no reconhecimento e acompanhamento dos doentes”.
A campanha “O Cancro do Pulmão Não Tira Férias” é uma iniciativa da AstraZeneca, em parceria com a Associação Careca Power, Associação Nacional das Farmácias (ANF), Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da APMGF (GRESP), Pulmonale e Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), e com o apoio da Rede Expressos.