São necessárias respostas sociais para combate à pobreza e promoção do envelhecimento ativo
O relatório, que analisa o impacto que o envelhecimento populacional tem (e terá) sobre as despesas em saúde e o acesso da população idosa a cuidados de saúde, avalia seis vertentes: Impacto do envelhecimento na despesa em saúde; Proteção financeira na velhice; Acesso dos idosos a cuidados de saúde; Envelhecimento ativo; Reforma e acesso a cuidados de saúde e A pandemia da solidão.
Na vertente do Impacto do envelhecimento na despesa em saúde, verifica-se que esta dependerá da evolução do perfil de morbilidade e do aumento da esperança média de vida. A meta é alcançar um cenário de compressão da morbilidade, onde vidas mais longas e saudáveis reduzem a necessidade de cuidados de saúde intensivos nos últimos anos de vida. Controlar a morbilidade na população idosa pode indiretamente controlar as despesas em saúde, ao limitar a procura por cuidados de longa duração e atenuar a pressão sobre os salários dos profissionais de saúde. Este controle é crucial num contexto onde os recursos para cuidados formais de longa duração são escassos e a oferta de cuidadores informais tende a diminuir. Além disso, um envelhecimento saudável reduz a necessidade de medicamentos inovadores, cujos preços mais elevados pressionam mais os sistemas de saúde.
No âmbito da Proteção financeira na velhice, verifica-se que sendo Portugal um dos países da OCDE onde as despesas diretas em saúde representam uma maior percentagem da despesa total dos agregados familiares, os idosos (especialmente mulheres, pessoas que vivem sozinhas e aqueles com menores rendimentos e escolaridade) enfrentam uma grande desproteção financeira, destinando uma grande parte do seu rendimento a despesas de saúde. Esta situação agrava a pobreza e o risco de pobreza entre os idosos, sendo por isso necessário reforçar a proteção financeira para despesas de saúde entre os idosos, ampliando apoios aos grupos socioeconómicos mais desfavorecidos, para corrigir a regressividade atual das despesas diretas em saúde.
No que se refere ao Acesso dos idosos a cuidados de saúde, as análises demonstram que as barreiras de acesso a cuidados de saúde entre idosos não são determinadas pela idade, mas por características socioeconómicas, como nível de educação e rendimento. Apesar de não enfrentarem maiores barreiras de acesso a urgências ou consultas, os idosos, especialmente os de estratos socioeconómicos mais baixos, têm uma maior desproteção financeira, alocando uma grande parte do seu rendimento a despesas de saúde, principalmente medicamentos. Em 2023 14,2% dos idosos relataram não adquirir todos os medicamentos que necessitavam revelando a necessidade de, para mitigar as necessidades de saúde não satisfeitas dos idosos, implementar medidas de apoio à aquisição de medicamentos mais abrangentes contribuindo desta forma para a redução da pobreza desta faixa etária.
No âmbito do Envelhecimento ativo verifica-se que, embora Portugal venha a investir em políticas para melhorar a qualidade de vida dos idosos (incentivando sua participação no mercado de trabalho e implementando estratégias para reduzir a pobreza e melhorar a sua saúde e bem-estar) comparações internacionais mostram que ainda são necessárias melhorias significativas. Não considerando o fator emprego (participação das pessoas com 60 e mais anos no mercado de trabalho) – indicador que em Portugal mais contribui para o menor Índice de Envelhecimento Ativo (IEA) – verifica-se que os indivíduos com 60 e mais anos apresentam um bom desempenho em termos de participação na sociedade, independência, saúde e segurança. ‘Portugal deve-se focar não apenas em promover o envelhecimento ativo e saudável das pessoas mais velhas, mas também implementar, entre adultos mais jovens (40-59 anos), estratégias indutoras de melhores níveis de saúde, segurança e participação na sociedade através de atividades não remuneradas’, concluem os investigadores.
Analisando o parâmetro Reforma e acesso a cuidados de saúde, verifica-se que a saída do mercado de trabalho pelos indivíduos que transitam para a reforma, não afeta nem a sua saúde nem a utilização de cuidados de saúde.
Por último, o relatório revela que A pandemia da solidão impacta de forma negativa e muito significativa o estado de saúde auto-reportado, quer em períodos de crise de saúde pública (como aconteceu durante a pandemia da COVID-19) quer em períodos ‘normais’. A solidão é um fenómeno que silenciosa, mas sustentadamente, tem vindo a ganhar relevância nos países desenvolvidos e o seu impacto na saúde e nos custos que lhe estão associados requer que os sistemas de saúde priorizem estratégias de combate ao flagelo que é a solidão.
‘Será necessário promover respostas sociais que combatam a pobreza, continuar a apostar em políticas que permitam à população idosa participar no mercado de trabalho de forma realizada, garantir que as cidades e habitações estão adaptadas à mobilidade de pessoas de mais idade e criar mecanismos que controlem o flagelo que é a solidão’ concluem os investigadores que alertam ainda para os dados do Eurostat que apontam que em 2070 Portugal atingirá previsivelmente uma significativa percentagem de população com pelo menos 60 anos (39,21%).