Sintomas e tratamento

Mieloma Múltiplo é uma doença multissistémica

Atualizado: 
08/07/2024 - 15:41
Frequentemente confundido com carcinoma dos ossos, o Mieloma Múltiplo é uma doença oncológica multissistémica, que se caracteriza por uma "proliferação descontrolada de plasmócitos". Sem cura, a investigação e o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas permitiu, que na última década, a sobrevida dos doentes tenha melhorado substancialmente.

Os plasmócitos, explica o especialista em Hematologia, Dino Andrade Luís, são as células responsáveis pela produção de anticorpos, "que existem de forma natural na medula óssea", e que "por aquisição de mutações genéticas, ganham uma capacidade de se multiplicarem de forma descontrolada".

"Estes plasmócitos podem, em determinadas circunstâncias formar “ninhos” de células, que se chamam plasmocitomas, e que podem vitualmente localizar-se em qualquer osso do corpo", explica, adiantando que os  locais mais comuns são a coluna, a bacia, ancas e o crânio.  "Além dos plasmocitomas, o Mieloma Múltiplo pode manifestar-se também sob a forma de lesões líticas, que são locais de destruição óssea, levando a fragilidade óssea e em situações mais graves a fraturas", adianta. 

"Por apresentar envolvimento ósseo bastante significativo, em alguns casos, o Mieloma Múltiplo é frequentemente confundido com carcinoma dos ossos, no entanto, é uma doença fisiopatologicamente bastante distinta, com tratamento e prognóstico substancialmente diferente", alerta. 

De acordo com o especialista, embora não se conheça a causa exata para o desenvolvimento desta doença oncológica, reconhecem-se vários fatores de risco associados. São eles: 

  • Idade: O risco de mieloma múltiplo aumenta com a idade. A maioria das pessoas diagnosticadas com mieloma múltiplo tem mais de 65 anos.
  • Género: Os homens são mais propensos a desenvolver mieloma múltiplo do que as mulheres.
  • Raça: O mieloma múltiplo é mais comum em afro-americanos do que em pessoas de outras raças.
  • História Familiar: ter um parente próximo com mieloma múltiplo ou outro distúrbio de células plasmáticas pode aumentar o risco de vir a desenvolver a doença. 

Não obstante, o especialista alerta que "é importante lembrar que ter um ou mais fatores de risco não garante o desenvolvimento de mieloma múltiplo, e pessoas sem nenhum fator de risco conhecido também podem ser diagnosticadas com a doença."

Tratando-se de uma doença multissitémica - "pode atingir vários órgãos com diferentes níveis de intensidade" -, esta pode apresentar uma grande variedade de sintomas. 

Segundo Dino Andrade Luís,  uma vez que "a medula óssea é o principal órgão afetado, devido à infiltração de plasmócitos anormais", anemia, neutropenia ou trombocitopenia, associadas a cansaço, infeções ou hemorragias constituem a principais manifestações da doença. 

Por outro lado, o especialista explica que também os rins e o ossos são muito afetados por esta condição clínica. Assim, são sintomas frequentes a lesão renal aguda e "dor óssea devido a fraturas ou plasmocitomas". E explica: "O rim é um dos órgão mais afetados, devido à produção exagerada de proteínas (imunoglobulinas) por parte dos plasmócitos. Estas imunoglobulinas podem depositar-se nos glomérulos causando obstrução ou destruir a sua normal arquitetura,causando insuficiência renal". Já o osso "em maior ou menos grau, é quase sempre afetado no Mieloma Multiplo".

"O diagnóstico é feito sobretudo com base em análises clínicas, nomeadamente hemograma, função renal, proteínas totais, electroforese e imunofixação das proteínas séricas e urnárias e avaliação do envolvimento ósseo com raio-x de corpo, ressonância magnética ou PET", explica adiantando que "havendo a suspeita de Mieloma Múltiplo terá sempre de ser realizado uma medulograma de modo a avaliar a percentagem de plasmócitos na medula óssea". 

Segundo o especialista em Hematologia, a integração de todos os achados analíticos vão definir, "não só o diagnóstico de Mieloma Múltiplo, mas também o risco e o tratamento mais adequado".

Quando detetado em fase mais avançadas são várias as complicações associadas a esta doença: "entre as mais frequentes salientam-se dor óssea por fraturas, presença de plasmocitomas ou lesões osteoliticas, lesão renal aguda, pela deposição de CLL no parênquima renal e anemia grave, pela supressão da hematopoiese". 

"De forma semelhante, as complicações relacionadas com o tratamento de MM varia substancialmente com o tratamento aplicado. De forma global, as mais frequentes são infeção (vírica ou bacteriana), diarreia, neuropatia periférica e hemorragia", acrescenta o hematologista. 

Sem cura, o objetivo do seu tratamento é o controlo dos sintomas e a promoção de melhor qualidade de vida com vista ao aumento da sobrevivência global. 

"Depois de estabelecido o diagnóstico de MM, calculado o risco e avaliados os antecedentes pessoais do doente, o tratamento deve ser iniciado assim que possível. O tratamento baseia-se na combinação de terapêutica dirigida, como seja quimioterapia, imunoterapia, transplante autólogo progenitor hematopoiético, quer terapêutica de suporte, como antibioterapia profilática ou hidratação", explica. 

"Nos últimos anos houve um avanço significativo no desenvolvimento de fármacos eficazes no tratamento do MM, sendo que na sua maioria são usados em combinação dupla, tripla ou quadrupla. As principais classes de fármacos são: Inibidores do Proteosoma, Imunomodeladores, Anticorpos anti-CD38, Anticorpos bi-específios e terapêutica com células CAR-T", adianta ainda quanto às opções terapêuticas disponíveis. 

Estas novas abordagens, revela, permitiram "aumentar substancialmente a sobrevivência global dos doentes, mas também controlar muitos dos sintomas incapacitantes associados ao Mieloma Múltiplo". 

Importa, sublinhar que a gestão deste doentes "é multidisciplinar, com integração de várias especialidades que são fundamentais não só para o diagnóstico, mas também na gestão durante o tratamento".  Segundo Dino Andrade Luís, "especialidades como Nefrologia, Medicina Física e Reabilitação, Neurocirurgia, Radioterapia, Cardiologia ou Imuno-hemoterapia podem ser uma grande mais valia no tratamento" do Mieloma Múltiplo. 

 
Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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