Rastreio do cancro do estômago seria custo-efetivo em Portugal

Investigadores da FMUP defendem endoscopia associada a colonoscopia a cada 5 anos

A implementação do rastreio do cancro do estômago com endoscopia digestiva associada à colonoscopia, de cinco em cinco anos, seria custo-efetiva em Portugal, permitindo reduzir significativamente o número de casos e o número de mortes, revela estudo.

Vivemos num país com uma elevada incidência de cancro gástrico, um cancro com elevada letalidade, uma vez que, na maioria dos casos, é silencioso e diagnosticado em estádios avançados. A deteção precoce só é possível com o rastreio em pessoas sem sintomas e através da vigilância de indivíduos de risco”, afirma Diogo Libânio, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

Como primeiro autor de um estudo publicado no European Journal of Gastroenterology & Hepatology, o investigador analisou a relação custo-efetividade do rastreio do cancro gástrico em três países europeus com diferentes incidências desta doença, bem como o impacto da utilização da inteligência artificial na custo-efetividade deste rastreio. Os países são Portugal (com uma incidência intermédia a elevada), Itália (com uma incidência intermédia) e Holanda (com uma incidência baixa).

“Verificámos que, em Portugal, com a incidência atual de cancro gástrico e os custos atuais, há três estratégias de rastreio que são custo-efetivas. Em Portugal e em Itália, a associação de endoscopia digestiva alta à colonoscopia a cada 5-10 anos é a estratégia mais adequada”, realça o professor da FMUP.

Portugal é considerado um país de incidência intermédia de cancro gástrico quando nos comparamos com outros países, com 11 casos por 100.000 habitantes. No entanto, se olharmos para a incidência bruta (não ajustada à idade), temos valores muito superiores (26/100.000), o que nos classificaria como um país de incidência elevada.

Os resultados deste trabalho mostram que, no nosso país, o rastreio permitiria reduzir a incidência de cancro gástrico de 2950 para 2065, sendo uma percentagem significativa destas neoplasias detetadas precocemente e tratáveis por métodos minimamente invasivos, bem como reduzir o número de mortes anuais por cancro gástrico de 2332 para 895. 

Neste estudo, foi também analisada a relação custo-efetividade do rastreio do cancro gástrico (com e sem utilização de inteligência artificial), utilizando dados de incidência de cancro gástrico e de custos dos cuidados de saúde de cada país.

“O nosso estudo mostra também que a Inteligência Artificial tornaria o rastreio mais custo-efetivo nos vários países, incluindo Portugal”, afirma. Para Diogo Libânio, “a incorporação da inteligência artificial na prática clínica pode ajudar na deteção de lesões precoces e na minimização de falsos negativos, especialmente em contextos em que haja pouco treino na deteção destas lesões”.

A inteligência artificial pode ainda “auxiliar no diagnóstico e caraterização de condições pré-malignas, permitindo uma melhor identificação de doentes em maior risco de cancro gástrico e que beneficiam de vigilância específica”. Do mesmo modo, a IA pode “diminuir a necessidade de biópsias”. 

O professor da FMUP lembra que existem “recomendações recentes da Comissão Europeia que estimulam a implementação de programas de rastreio de cancro gástrico” e diz que “devemos mover esforços e lutar pela sua implementação”.

Contudo, salienta que o rastreio é “apenas uma das armas” e que a prevenção deste cancro implica igualmente “pesquisar e tratar a Helicobacter pylori, não fumar, reduzir o consumo de sal, enchidos e fumados, aumentar o consumo de legumes e de fruta, perder peso, praticar exercício físico e evitar a obesidade”.

Além de Diogo Libânio, assinam o estudo Mário Dinis Ribeiro, também da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, CI-IPO@RISE - Laboratório Associado e membros do grupo de investigação PRECAM (IPO-Porto), Miguel Areia, do IPO de Coimbra, e investigadores da Universidade Sapienza, de Roma, da Universidade Humanitas, de Milão, e da Universidade de Erasmus, de Roterdão.

Fonte: 
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP)
Nota: 
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