Mulheres com cancro da mama metastático são frequentemente esquecidas, alertam especialistas
O cancro da mama é o cancro mais comum no mundo, estimando-se que, no final de 2020, pelo menos 7,8 milhões de mulheres vivam com esta doença. Nesse mesmo ano, estima-se que tenham morrido 685 000 pessoas com este tipo de cancro e que tenham sido diagnosticadas mais 2,3 milhões de pessoas. Prevê-se que esta situação se agrave, com 3 milhões de diagnósticos anuais até 2040 e um milhão de mortes anuais, sendo os países de baixo e médio rendimento os mais afetados.
Os recentes progressos na investigação e no tratamento ajudaram a reduzir o número de mortes por cancro da mama, verificando-se uma diminuição até 40% em alguns países de elevado rendimento. No entanto, o cancro da mama continua a representar um enorme fardo a nível mundial, tendo a Comissão afirmado que "a sociedade, os governos e os decisores no setor da saúde apenas veem a ponta de um icebergue".
As desigualdades nos cuidados de saúde, juntamente com os custos ocultos do cancro da mama, implicam que muitas mulheres e alguns homens sejam deixados para trás e esquecidos. Trata-se de um problema global, tendo a Comissão destacado os principais obstáculos que impedem o progresso no seu relatório, defendendo seis áreas cruciais para a mudança.
Uma dessas áreas é o cancro da mama metastático ou avançado. O relatório refere que 20 a 30% das doentes com cancro da mama inicial sofrem reincidências que normalmente não são documentadas pela maioria dos registos nacionais oncológicos. Consequentemente, desconhece-se o número de doentes que vivem com cancro da mama metastático, uma doença já de si mal compreendida. Os autores defendem que pelo menos 70% dos registos oncológicos a nível mundial devem documentar com maior rigor o estádio da doença aquando do diagnóstico, bem como as reincidências, de modo a refletir com precisão a prevalência e o impacto desta doença. Isto seria apoiado pela melhoria dos programas de diagnóstico precoce, devendo a comissão visar 60% dos casos de cancro invasivo diagnosticados no estadio I ou II.
"As doentes que vivem com cancro da mama metastático/avançado (CMB/CAA) têm sofrido durante muito tempo com o estigma, as conceções erradas e o abandono, não só da sociedade em geral, mas também dos prestadores de cuidados de saúde e grupos de defesa dos doentes. É urgente mudar a forma como o cancro da mama metastático é entendido e tratado. Esta transformação permitirá tratar a maioria, aliviar o sofrimento de todos e não esquecer ninguém que vive com MBC/ABC. Esta é uma das mensagens mais fortes da nova Comissão Lancet sobre o Cancro da Mama, que está totalmente alinhada com a luta de longa data da Aliança Global ABC", afirma Fátima Cardoso, Presidente da Aliança Global ABC e diretora da Unidade da Mama do Centro Clínico Champalimaud, Lisboa, Portugal.
O relatório sublinha também a importância de melhorar a comunicação com os doentes, afirmando que todos os profissionais de saúde do mundo devem receber preparação em competências de comunicação que permita envolver os doentes em todas as fases dos cuidados oncológicos, da melhor forma possível.
Por outro lado, o relatório afirma que existem muitos custos - físicos, psicológicos, sociais e financeiros - que são mal reconhecidos e que não são captados pelos atuais indicadores de saúde mundiais, uma lacuna que a Comissão defende que deve ser colmatada urgentemente através do desenvolvimento de novos instrumentos e parâmetros.
A nova Comissão Lancet sobre o Cancro da Mama começou a trabalhar em 2021 com o compromisso de elevar o padrão de cuidados médicos do cancro da mama e de colmatar a lacuna de equidade que existe entre e dentro dos países. As recomendações no sentido de enfrentar os desafios urgentes para as doentes com cancro da mama serão divulgadas esta terça-feira, 16 de abril, às 14h00, numa sessão online.
O registo pode ser feito através da ligação: https://www.eventbrite.co.uk/e/lancet-breast-cancer-commission-report-launch-tickets-862423932197).
O trabalho da Comissão foi financiado e apoiado pelo National Institute for Health and Care Research (NIHR), Breast Cancer Now, ABC Global Alliance e pela University of Cambridge.