Médicos de 29 países de língua espanhola e portuguesa lançam apelo para o combate às alterações climáticas
Chamando a atenção para o impacto negativo na saúde das alterações climáticas e da degradação ambiental, estes médicos apelam à cooperação das organizações de saúde para intervir conjuntamente nestas questões, à implementação de boas práticas de sustentabilidade ambiental no exercício das atividades de saúde, à sensibilização dos profissionais de saúde e da população, à promoção da educação e da investigação nesta área, à resiliência dos sistemas de saúde para responder à transição epidemiológica em curso e ao maior risco de eventos inesperados, ao combate às desigualdades, à proteção das populações mais vulneráveis e à adoção de comportamentos que protejam o ambiente.
As organizações subscritoras apelam ainda ao reforço da capacidade dos serviços de Medicina Interna, que consideram “uma especialidade nuclear para capacitar o sistema de saúde para responder a estes desafios”.
O Documento de Consenso intitula-se “Recomendações dos Serviços de Medicina Interna Luso-Espanhóis no Combate às Alterações Climáticas e à Degradação Ambiental”, foi publicado em simultâneo na “Revista Clínica Española” da Sociedad Española de Medicina Interna (SEMI) e na revista “Medicina Interna”, órgão oficial da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), e tem como primeiro autor o médico internista português Luís Campos, presidente do Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA) e presidente da Comissão de Qualidade e Assuntos Profissionais da Federação Europeia de Medicina Interna. Luís Campos já anteriormente liderou um apelo semelhante, publicado em outubro de 2022, no European Journal of Internal Medicine, que reuniu as 32 sociedades de Medicina Interna da Europa, Médio Oriente e Norte de África, que integram a Federação Europeia de Medicina Interna.
O artigo considera que as consequências da superpopulação, das alterações climáticas, da degradação dos ecossistemas, a perda da biodiversidade, e o esgotamento dos recursos naturais têm “um impacto devastador na saúde das populações”. Os fatores ambientais são atualmente responsáveis pela morte de 13 milhões de pessoas por ano - cerca de 20% do total de mortes em todo o mundo, contribuindo para o aumento das doenças cardio- e cerebrovasculares, da doença pulmonar obstrutiva crónica, do cancro, asma e alergias, das doenças transmitidas por vetores, das zoonoses (doenças transmitidas por animais, como a pandemia de COVID-19), das doenças relacionadas com a qualidade da água e dos alimentos, dos efeitos das temperaturas extremas e das doenças mentais. Os autores do artigo chamam a atenção para o facto de estes problemas afetarem particularmente as populações mais vulneráveis.
Os autores consideram que este é o desafio mais complexo que a humanidade enfrenta, exigindo uma nova governação à escala global mas também a colaboração de todos, a todos os níveis, enquadrados pelo conceito de One Health, em que a saúde humana, dos animais e das plantas é interdependente. Os profissionais de saúde, como defensores dos doentes– mas também como cidadãos –, têm a obrigação ética de se envolver nesta luta global, da qual depende o futuro das próximas gerações.