Opinião

O Estigma e preconceito face à doença mental nos adolescentes

Atualizado: 
21/02/2024 - 11:18
Nos tempos atuais, a doença mental ainda é encarada segundo uma imagem fortemente negativa. Na perspetiva da população geral, a pessoa portadora de doença mental é vista como perigosa, instável, imprevisível e que o desenvolvimento desta se deve a fatores comportamentais, tendo a pessoa poder de escolha para tal. A adolescência é uma fase de desenvolvimento, crescimento e transição, contudo culmina com um período de maior instabilidade emocional relacionado com fatores físicos e psicológicos e sociais. Todos estes fatores favorecem o aumento da incidência e prevalência de casos de preconceito e estigma por parte de grupos de pares e sociedade, na qual os jovens estão inseridos.

O estigma pode ser definido como sendo a rejeição pela sociedade de indivíduos com particularidades diferentes do dito, conceito de normalidade que ainda se encontra patente na sociedade, apresentando várias consequências negativas. Algumas das atitudes estigmatizantes incluem a rejeição e discriminação dos jovens em meio escolar e social resultado em absentismo escolar e exclusão da participação ativa na sociedade. Além disso, o estigma não afeta apenas o bem-estar psicológico e o desenvolvimento das pessoas com patologia mental, mas também atua como uma barreira na procura de cuidados de saúde, compromete a adesão terapêutica e integração na sociedade com impacto na saúde pública.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a definição de saúde demonstra a importância da saúde mental tem na sociedade, sendo definida como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidades.

Atualmente, a doença mental é uma das causas de maior mortalidade na infantojuvenil e de incapacidade laboral na vida adulta, sendo por isso perentório controlar variáveis como estigma, discriminação e preconceito que afetam negativamente a saúde dos jovens.

Assim sendo, uma maior aposta na vertente educativa, sustentada na evidência científica, potencia a literacia em saúde mental, permitirá por parte dos jovens uma mudança no paradigma do que é a saúde mental. Estas são condições essenciais à desconstrução de crenças negativas, assim como ao desenvolvimento de competências de identificação e reconhecimento de fatores de risco e sinais de alerta relacionados com determinadas perturbações mentais.

Os programas de prevenção e intervenção na área da saúde mental, nomeadamente, ao nível do estigma e preconceito, permitiram incutir na sociedade um maior conhecimento, confiança e empatia por quem desenvolveu uma doença mental e uma maior perceção que estes jovens, futuros adultos, podem desempenhar um papel ativo na sociedade e viver a vida normalmente, desde que estabelecida uma eficaz rede de apoio e reduzir os fatores que comprometam o bem-estar destes.

A adolescência é, assim, uma idade chave para atuação, tendo em consideração um público-alvo promissor devido à fase de desenvolvimento em que se encontram. Estes representam, ainda, a próxima geração tornando o seu papel indispensável no que se refere à redução do estigma.

Autor: 
Rúben Miranda - Enfermeiro
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Freepik