Falta de organização e de meios no SNS

Sindicato dos Enfermeiros denuncia baixa cobertura de vacinação sazonal

Direção Executiva do SNS incluiu as farmácias comunitárias no processo e agora está a pedir às equipas das USF para ajudarem a acelerá-lo. Segundo o Sindicato dos Enfermeiro, a taxa de vacinação desceu por falta de organização e dispersão dos meios.

O processo de vacinação sazonal - uma competência que esteve sempre na esfera dos cuidados de saúde primários, com os enfermeiros na primeira linha - está este ano com uma cobertura abaixo do que se vinha registando nos últimos anos. Isto num ano em que a Direção Geral de Saúde decidiu incluir no processo as farmácias comunitárias.

O presidente do Sindicato dos Enfermeiros, Pedro Costa, considera, a este propósito, que “este foi mais um passo na asfixia do SNS, quando o processo, em anos anteriores, apresentou excelentes resultados”, acrescentando que “os sinais dados foram de alguma subalternização da importância da vacinação e do conhecimento que os enfermeiros de família têm do histórico de cada doente”.

Os dados mais recentes divulgados pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia indicam que, nos últimos quatro anos, Portugal superou as metas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde para a cobertura vacinal de pessoas com mais de 65 anos. Ora, em setembro de 2023, apenas 17% do total de vacinas disponíveis no País foram encaminhas para os centros de saúde.

“Em menos de mês e meio, os centros de saúde já tinham administrado 30% do total de vacinas dadas em Portugal, quase o dobro da percentagem que estava inicialmente prevista”, sublinha o líder sindical, colocando ainda o enfoque no facto de, “em 2022, pela mesma altura, os centros de saúde evidenciarem um desempenho superior de vacinas administradas, nas faixas dos 70 e 80 anos, grupo etário que este ano começou a tomar as vacinas nas farmácias”. Relativamente à vacinação contra a COVID 19, a diferença ainda é mais latente. Em 2022, mais de 22% da população de 70 anos e 16,5% de 80 anos tinham sido já vacinados.

Sendo certo que as farmácias estão a receber 2,5 euros por cada vacina, a realidade demonstra que “estamos a falar do valor mais ou menos correspondente ao necessário para contratar e remunerar mais de 600 enfermeiros em falta no Serviço Nacional de Saúde, mais de 85.000 horas de cuidados de saúde que se perdem”, enfatiza Pedro Costa. Que sublinha que a opção “garantiria a total cobertura vacinal e cuidados de enfermagem qualificados a cerca de um milhão de utentes sem enfermeiros de família”.

Perante as dificuldades, a direção-executiva do SNS solicitou aos profissionais das USF e das UCSP para convocarem urgentemente os utentes com idade superior a 60 anos. “Isto num ano de uma grave crise nos serviços de atendimento à doença aguda e numa altura que total insatisfação dos profissionais de saúde”, afiança Pedro Costa.

O Sindicato dos Enfermeiros mostra-se cada vez mais preocupado com a transferência de verbas públicas para um sistema privado de assistência em saúde, o que revela, mais uma vez, que o SNS está a viver sua pior crise desde a sua criação. “É preciso explicar aos portugueses porque não valorizamos o maior ativo do SNS, os seus profissionais e, em particular, os enfermeiros, é preciso explicar porque hoje metade dos enfermeiros formados abandonam o país, é preciso explicar aos portugueses por que é que o setor privado, que não investe na formação dos enfermeiros os recruta e lapida”, considera Pedro Costa, acrescentando, ainda, que é preciso explicar aos portugueses porque um enfermeiro em início de carreira, com 10, 20 ou 30 anos, ganha exatamente o mesmo dinheiro. Se isto é investir no SNS e no seu maior grupo profissional, então expliquemos aos portugueses que a saúde é para quem tem recursos financeiros, pois no SNS só vai ficar os que não poderem sair”.

Fonte: 
Sindicato dos Enfermeiros - SE
Nota: 
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