Demora do diagnóstico e a falta de informação são desafios fequentes do Cancro do Pulmão de Pequenas Células
No Mês de Sensibilização para o Cancro do Pulmão, é tempo de sensibilizar para este tipo de tumor que, segundo António Araújo, “pelas suas características, tem tido pouco desenvolvimento em termos de tratamento: durante décadas, era a quimioterapia e a radioterapia e não havia mais alternativas”. Mas, reforça, “hoje em dia, felizmente, têm surgido nesta área algumas alternativas que vêm melhorar um pouco o panorama do tratamento”, o que nem sempre se traduz num acesso atempado ao mesmo em Portugal.
De facto, explica o médico, apesar de Portugal ter, nos últimos anos e no que diz respeito à inovação, “dado alguns passos para estar a par com os restantes países europeus”, perante “as dificuldades que o Serviço Nacional de Saúde atravessa, devido aos constrangimentos quer a nível estrutural como de pessoal, é evidente que pode haver algum atraso no diagnóstico e estadiamento das doenças oncológicas e mesmo no início do tratamento. Especificamente a nível de tratamentos médicos, Portugal também é um dos últimos países da Europa a integrar a inovação no arsenal terapêutico disponível no SNS”.
É por essa razão que o momento do diagnóstico é de grande importância, já que, refere Isabel Magalhães, presidente da Pulmonale - Associação Portuguesa de Luta contra o Cancro do Pulmão, este “é particularmente difícil, sendo que, para grande parte da população, continua a ser associado a uma sentença de morte. Para além disso, ocorrendo com maior incidência em fumadores ou ex-fumadores, há ainda um sentimento de culpa, um estigma associado à doença”.
A presidente da Pulmonale defende, por isso, a necessidade de um trabalho de capacitação da população em saúde ao longo da vida, promovendo a prevenção, o diagnóstico precoce e uma postura informada no caso de a doença ocorrer. “O facto de o diagnóstico no cancro do pulmão continuar a acontecer maioritariamente em estádios avançados contribui para a perceção existente sobre a doença”.
No que diz respeito ao Cancro do Pulmão de Pequenas Células, “é um tipo de tumor intimamente ligado ao consumo do tabaco no passado e no presente e, portanto, surge em doentes com uma elevada carga tabágica. É um tumor que classicamente se diz ser muito sensível à quimioterapia e à radioterapia, isto é, que responde muito bem ao primeiro tratamento que fazemos, mas que rapidamente ganha resistências”, explica António Araújo. E isto porque, acrescenta, “muitos doentes são diagnosticados tardiamente (geral para todos os tipo de cancro do pulmão) e pelo facto de não haver grandes alternativas de tratamento eficazes face ao comportamento biológico do próprio tumor”.
Porque este apresenta sinais e sintomas comuns a muitas outras doenças benignas - aparecimento ou agravamento de falta de ar, da tosse e da expectoração - “como acontece com a asma ou a DPOC, isso faz com que o agravamento dos mesmos pareça apenas mais um episódio de agravamento dessas doenças, o que contribui para que os doentes demorem mais tempo a recorrer ao médico.”
“Sendo o cancro do pulmão a doença oncológica com maior mortalidade associada, o que em grande medida decorre de os diagnósticos ocorrerem em fase avançada” e porque também, “embora não sendo uma doença exclusiva de fumadores, ocorre maioritariamente em quem fuma”, Isabel Magalhães considera que “o caminho passará necessariamente pela prevenção do tabagismo. No entanto, é absolutamente indispensável mudar o paradigma atual do cancro do pulmão, reduzindo a taxa de mortalidade, através do diagnóstico precoce, para o qual contribuirá de modo decisivo a implementação do rastreio de base populacional”.
Ainda assim, a mensagem é de esperança. “O que queremos é que os doentes tenham mais quantidade de vida e melhor qualidade de vida. Para isso, devem ter esperança, porque estão sempre a serem descobertos novos tratamentos e, para os receber, devem manter-se nas melhores condições físicas e psicológicas para permitirem que os seus médicos encontrem as melhores soluções de tratamento”, reforça António Araújo.
Aliás, existem, atualmente, vários estudos em fase avançada para fazer face a esta doença, nomeadamente a partir de invertebrados marinhos - pelo facto de não terem sistema imunitário, percebeu-se que deveriam ter mecanismos de defesa para sobreviver à evolução dos tempos. Com estas hipóteses, a PharmaMar realiza expedições em todos os mares e oceanos do mundo, à procura de compostos anticancerígenos. Luís Mora, Diretor Geral das unidades de negócio de Oncologia, Virologia e Identificação Genética da PharmaMar explica que “as amostras dos organismos marinhos são estudadas para conhecer a sua taxonomia e avaliar a sua atividade biológica nas células tumorais. Se existir uma atividade anticancerígena do organismo inteiro, procedemos a um "fracionamento" para isolar a substância responsável pela atividade e estabelecer a sua estrutura química. Atualmente temos cerca de 350.000 amostras marinhas, que representa a maior coleção do mundo”.