Estudo ESTeSC-IPC confirma relevância da ecografia na deteção de cancro da mama
Apesar de ser a ferramenta de diagnóstico mais utilizada no rastreio do cancro da mama, a mamografia apresenta algumas limitações. “A densidade da mama – que é maior na população jovem – pode mascarar algumas patologias que, no entanto, podem ser detetadas através de ecografia”, explica Rute Santos, docente da unidade científico-pedagógica de Imagem Médica e Radioterapia na ESTeSC-IPC e responsável pelo estudo “Ultrasound as a Method for Early Diagnosis of Breast Pathology” (realizado com o apoio de estudantes da ESTeSC-IPC e em colaboração com Ana Raquel Ribeiro, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, e Daniela Marques, da clínica Joaquim Chaves Oncologia), publicado no Journal of Personalized Medicine.
No estudo, 105 mulheres (com idades entre os 18 e os 79 anos) foram submetidas a exames de ultrassonografia mamária. Em 31 casos, a ecografia revelou alterações do tecido mamário – sendo que apenas sete mulheres revelaram ter conhecimento prévio dessas alterações. “A ecografia permite detetar quistos e fibromas que nem sempre são identificados através do exame físico e da mamografia e que podem, ou não, evoluir para quadros mais adversos”, justifica a investigadora. Na amostra estudada, pelo menos nove mulheres mantinham sinais de alteração num segundo exame de ultrassonografia, realizado três meses depois.
Apesar dos resultados, a ecografia não deve substituir-se à mamografia. “São exames distintos e complementares”, frisa Rute Santos, explicando que a ecografia pode ser utilizada como meio de diagnóstico precoce – sendo uma alternativa à mamografia em populações jovens, que genericamente apresentam maior densidade mamária – mas deverá ser utilizada apenas de forma complementar a partir dos 50 anos, idade a partir da qual a Direção Geral de Saúde recomenda o rastreio bianual através de mamografia.
“É uma questão de prevenção”, sublinha a docente, lembrando ainda importância do autoexame. “Não pretendemos alarmar a população, mas sim mostrar que, com a evolução que a ultrassonografia tem registado ao longo dos últimos anos, esta pode ser um aliado importante no rastreio do cancro de mama e também de outras patologias”, nota. Até porque, “sendo uma técnica não invasiva, que não utiliza radiação ionizante e é mais bem tolerada pelo doente, podendo ser portátil também, pode chegar facilmente a toda a população”, acrescenta.
Em Portugal, o cancro da mama é a neoplasia maligna mais frequentemente diagnosticada na população feminina, sendo considerada a segunda principal causa de morte nas mulheres (ainda que a doença possa também afetar a população masculina). Em 2020 foram detetados 7000 novos casos, que resultaram na morte de 1800 pacientes.