Contraceção verde: o impacto dos estrogénios na mulher e no meio ambiente
Existe uma diversidade de métodos contracetivos disponíveis, para responder às necessidades específicas de cada um. O aconselhamento é crucial, garantindo que as pessoas possam escolher o que funciona melhor para elas, tendo em consideração fatores como o estilo de vida, saúde, planos futuros e expetativas. Os métodos contracetivos vão desde opções hormonais, como pílulas contracetivas, anel vaginal, adesivos e injeções, a métodos de barreira, como preservativos e diafragmas, e contracetivos reversíveis de longa duração (LARC), como dispositivos intrauterinos (DIU) e implantes. Cada método tem o seu próprio conjunto de benefícios e riscos potenciais e, ao oferecer opções diversificadas, as pessoas podem encontrar o que melhor se adapta às suas preferências e necessidades.
Segundo um estudo sobre as tendências em contraceção na população portuguesa, NEST-C, realizado em 2021, a pílula continua a ser o método contracetivo mais utilizado - 70% dos casos. O atributo mais apreciado na pílula é o controlo da menstruação e as principais características apontadas de uma pílula “ideal” são o bom controlo do ciclo, menor risco de trombose e a redução da menstruação.
Este estudo revela também novas preocupações das mulheres em relação ao meio ambiente: 28% já ouviram falar sobre o impacto negativo das hormonas nos ecossistemas naturais, especialmente aquíferos, sendo este conhecimento mais prevalente nas mais jovens (entre os 15 e os 19 anos), que consideram o uso de pílulas com menor impacto ambiental.
De facto, os estrogénios naturais e sintéticos encontram-se frequentemente nos ecossistemas, em particular nos aquáticos, devido à sua utilização na alimentação do gado e à utilização no ser humano em contracetivos orais ou no tratamento da menopausa. O seu impacto é uma preocupação crescente, tendo já sido incorporados na lista de compostos sob vigilância da União Europeia. Nas águas portuguesas foram já calculados valores médios destas hormonas em quantidades capazes de provocar consequências negativas. Os estrogénios, designadamente o estriol, o estradiol e o etinilestradiol (este último presente na maioria das pílulas disponíveis no mercado), podem induzir, mesmo em baixas concentrações ambientais, efeitos nocivos ecotoxicológicos sobre o sistema endócrino e imunitário de algumas espécies animais. Nomeadamente, reduzem o crescimento dos peixes e afetam o seu desenvolvimento sexual e capacidade reprodutiva.
Recentemente, foi introduzido no mercado um contracetivo hormonal oral com um novo estrogénio na sua composição, o estetrol. Este é sintetizado exclusivamente pelo fígado fetal durante a gravidez e produzido para uso clínico a partir de fontes vegetais. Tem um mecanismo de ação singular, atuando conforme o tecido alvo. Desta forma, classifica-se como um estrogénio nativo com uma atividade tecidual seletiva, que apresenta um menor impacto endócrino e metabólico, nomeadamente no fígado, mama e metabolismo lipídico. Por isso, parece apresentar melhor perfil de segurança para a mulher, mantendo a eficácia contracetiva, quando comparado com as restantes pílulas. A somar a estes benefícios para a mulher, o estetrol diferencia-se dos restantes estrogénios quanto ao impacto ambiental, pois a sua degradação não produz resíduos metabolicamente ativos. Além disso, os estudos de avaliação de risco ambiental com estetrol sugerem que este estrogénio nativo não afetará o ecossistema aquático e apresenta um perfil ambiental mais favorável do que o etinilestradiol e é menos suscetível de afetar a capacidade reprodutiva dos peixes. Estaremos assim perante a chamada contraceção verde?
Atualmente, os avanços na medicina, para além de irem ao encontro das necessidades do ser humano, mas cada vez mais, têm de entrar em linha de conta com as preocupações ambientais e com a crescente importância do conceito de sustentabilidade.
Neste Dia Mundial da Contraceção, celebremos os esforços desenvolvidos para empoderar os indivíduos a fazerem escolhas que estejam de acordo com os seus objetivos de saúde reprodutiva. Ao proporcionarmos o acesso a uma multiplicidade de métodos contracetivos e ao promovermos a tomada de decisões informadas, podemos contribuir coletivamente para sociedades mais saudáveis, para a igualdade de género e para uma melhor qualidade de vida em todo o mundo.