APU utiliza futebol de recreação para minimizar o impacto da doença oncológica
Esta é uma iniciativa dirigida a doentes com cancro da próstata e visa melhorar a sua saúde, bem-estar e aptidão física, quebrando tabus e desmitificando o facto de doentes com cancro não poderem realizar prática de desporto.
De acordo com a Liga Portuguesa Contra o Cancro, a investigação estabelece um papel clinicamente relevante do exercício físico ao longo da jornada do cancro e mostra que os doentes, que se exercitam com frequência, experienciam uma diminuição dos sintomas de depressão e de ansiedade, melhoram a resposta aos tratamentos, melhoram a sua autoestima e energia, e sentem-se mais ativos no combate à doença ou na prevenção da sua recorrência.
Apesar de existirem evidências sobre a importância do exercício físico para a minimização dos efeitos adversos dos tratamentos, continua a ser um desafio incentivar os doentes com cancro da próstata a serem mais ativos. Miguel Ramos, médico urologista e presidente da APU, sublinha que “os profissionais de saúde são responsáveis por ajudar a motivar estes homens a praticar atividade física regularmente, começando por informá-los e orientá-los neste caminho.”
De modo geral, os doentes com cancro são menos ativos do que os indivíduos que nunca atravessaram um processo de doença oncológica, sendo que a prática de exercício diminui substancialmente após o diagnóstico. Para mudar esta realidade, a APU desenvolveu o programa PCaGoal que, segundo Susana Póvoas, um dos membros impulsionadores deste projeto, “reúne dois fatores determinantes para instigar os doentes a serem mais ativos: um desporto que realmente gostam (futebol) e colegas de equipa que vivem realidades semelhantes.”
O PCaGoal utiliza o futebol de recreação para assegurar uma maior adesão à atividade física a longo prazo e contribuir para a redução do impacto do cancro da próstata. É um desporto com características adaptadas aos doentes e requer a orientação por um treinador profissional, assim como o acompanhamento e monitorização por profissionais das Ciências da Saúde e do Desporto.
“O acompanhamento realizado pela equipa multidisciplinar do projeto permitiu-nos avaliar a viabilidade e o impacto de um programa de exercício físico supervisionado e aconselhamento nutricional concomitante, no perfil metabólico, risco de doença cardiovascular e saúde mental. E os resultados preliminares foram muito positivos. A taxa média de participação nos treinos foi acima dos 70% e, em quatro meses, verificámos logo um decréscimo significativo da média da pressão arterial sistólica (baixou de 133 mmHg para 122 mmHg) e diastólica (passou de 77 mmHg para 72 mmHg)”, destaca Miguel Ramos.
O exercício físico demonstrou ser eficaz na redução dos sintomas, na melhoria da saúde mental, na melhoria da agilidade na execução dos movimentos (o tempo médio diminuiu de 5,8 segundos para 4,9 segundos), na redução da pressão arterial e na melhoria da resistência (inicialmente, os participantes percorriam 536 metros em seis minutos e passaram a percorrer 592 metros no mesmo espaço de tempo), o que representa um forte potencial na redução dos fatores de risco cardiovasculares.
Tendo em conta o sucesso da primeira edição do PCaGoal, a APU pretende dar continuidade ao projeto e está a trabalhar para a implementação do mesmo noutras zonas do país.