Pré-eclâmpsia acelera o envelhecimento
Embora o parto seja a única terapia disponível, não significa a cura desta condição. É que como explica a especialista, "mesmo depois de dar à luz, as mulheres podem ter uma tensão arterial perigosamente elevada durante vários dias ou semanas". "E continuam a correr um risco elevado de doenças cardiovasculares e renais décadas mais tarde”, acrescenta.
Através de uma combinação de experiências laboratoriais e estudos epidemiológicos, Garovic demonstrou que as mulheres com pré-eclâmpsia sofrem um estado de envelhecimento acelerado. Isto leva-as a desenvolver doenças relacionadas com a idade, como ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais e insuficiência renal.
A investigação desta especialista está a revelar um potencial mecanismo subjacente à pré-eclâmpsia que poderá resultar na primeira terapêutica concebida para tratar a causa subjacente da doença. O trabalho também realça a importância de um maior rastreio e tratamento das mulheres com antecedentes de pré-eclâmpsia.
A maior parte da investigação sobre a pré-eclampsia baseia-se na premissa de que a doença surge na placenta, o órgão que se materializa em cada gravidez para proteger e nutrir o bebé em desenvolvimento. Os investigadores acreditam que, na pré-eclâmpsia, a placenta segrega moléculas para o sistema circulatório da mãe. Estas moléculas causam inflamação e interferem com a formação de novos vasos sanguíneos, um processo conhecido como angiogénese. Os investigadores acreditam que estas moléculas nocivas causam uma doença sistémica na mulher grávida.
O objetivo é identificar a molécula ou moléculas responsáveis, explica a nefrologista responsável pela investigação.
Durante décadas, os investigadores notaram que as placentas de gravidezes pré-eclâmpticas apresentavam frequentemente sinais de envelhecimento mais rápido do que as placentas de gravidezes normais. "No entanto, era contraintuitivo dizer que a pré-eclâmpsia era uma doença do envelhecimento se olhássemos para o caso de alguém com 25 anos", explica Garovic.
De facto, muitas das moléculas elevadas nas gravidezes pré-eclâmpticas eram marcadores bem conhecidos da senescência, um estado celular que significa literalmente "o processo de envelhecer". Garovic teorizou que a senescência pode ser a via pela qual algumas mulheres desenvolvem pré-eclâmpsia. As células senescentes deixam de se dividir, mas não morrem e nem sempre são eliminadas do organismo. Em vez disso, por vezes acumulam-se nos tecidos e segregam moléculas nocivas.
Utilizando amostras e dados do Projeto Epidemiológico de Rochester, Garovic seguiu vários sinais de envelhecimento e senescência em mulheres com e sem gravidezes pré-eclâmpticas. Juntamente com as ginecologistas obstetras da Mayo Clinic, Wendy White e Yvonne Butler Tobah, descobriu que as mulheres que tiveram pré-eclâmpsia têm um maior número de doenças crónicas mais tarde na vida e desenvolvem estas doenças numa idade muito mais jovem do que as que não têm antecedentes de pré-eclâmpsia.
Também se associou aos especialistas em senescência celular da Mayo Clinic, James Kirkland e Tamara Tchkonia, para demonstrar que as mulheres com pré-eclâmpsia sofrem um envelhecimento acelerado durante a gravidez, tal como demonstrado pelo "relógio epigenético". Estes relógios epigenéticos permitem aos investigadores calcular o envelhecimento biológico do sangue e de outros tecidos, medindo a acumulação de marcadores de metilo (que se alteram ao longo do tempo em qualquer organismo) em centenas de locais do genoma.
Os investigadores descobriram que, durante a gravidez e na altura do parto, as mulheres com pré-eclâmpsia envelheceram, em média, 2,4 anos mais depressa do que as mulheres que não tiveram problemas durante a gravidez.
Garovic está confiante de que os novos medicamentos que estão a ser desenvolvidos na área da senescência irão um dia revelar-se seguros para utilização durante a gravidez e oferecer mais opções às mulheres em risco.
Embora, atualmente, não existam tratamentos específicos disponíveis para tratar as células senescentes em mulheres com antecedentes de pré-eclâmpsia, Garovic acredita que a investigação sobre as associações entre esta complicação da gravidez e problemas de saúde futuros terá um grande impacto.
Os estudos realizados pela médica e por outros profissionais já estão a conduzir à adoção de novas orientações para o rastreio e tratamento de mulheres em risco, com o objetivo final de melhorar os resultados e salvar vidas. Por exemplo, Garovic fez parte de um grupo de trabalho da American Heart Association que analisou a hipertensão na gravidez. Redigiu a declaração científica da associação que defendia mais trabalho para proteger as mulheres das complicações da gravidez hipertensiva e das possíveis consequências pós-gravidez.
"Para as mulheres que tiveram pré-eclâmpsia, é necessário controlar a tensão arterial, verificar o colesterol e acompanhar a função renal", explica. "Temos de acompanhar o IMC e o peso, bem como tentar controlar as alterações do estilo de vida e a saúde da mulher a longo prazo."