«Se não for atempadamente identificado, o tromboembolismo venoso pode ser fatal»
É considerada uma das principais causas de morte em todo o mundo, estimando-se que atinja cerca de 10 milhões de pessoas. Os números relacionados com esta condição mostram ainda que o tromboembolismo venoso mata mais que o cancro da mama, da próstata e os acidentes de viação. Para quem desconhece, em que consiste o TEV? E qual a sua prevalência em Portugal?
O tromboembolismo venoso (TEV) caracteriza-se pela formação de coágulos nas veias, mais frequentemente nas veias das pernas (trombose venosa profunda - TVP), que podem libertar-se e migrar para o pulmão (embolia pulmonar - EP). O tromboembolismo venoso é umas das principais causas de morte e incapacidade a nível mundial, responsável pela morte de 1 em cada 4 pessoas. A prevalência em Portugal de embolia pulmonar é estimada em 35 casos por 100 000 habitantes, embora estes dados estão provavelmente subestimados. Havendo uma tendência crescente na última década.
Quais os principais fatores de risco associados a esta condição? E neste sentido, a partir de que idade se pode desenvolver? É verdade que também pode afetar crianças?
Embora existam várias causas para o tromboembolismo venoso, a principal – o tromboembolismo venoso associado à hospitalização – é potencialmente prevenível. Estratégias para a identificação dos doentes em risco de desenvolvimento de tromboembolismo venoso durante e após o internamento ou intervenção cirúrgica, pretendem através de dados clínicos, identificar o risco trombótico e hemorrágico do doente. Quando indicado, são tomadas medidas preventivas com o recurso a medicamentos (anticoagulantes) ou medidas mecânicas (como meias de contenção elásticas) para a prevenção do tromboembolismo venoso. Para além da hospitalização, existem outros fatores de risco de desenvolvimento de tromboembolismo venoso, como sejam neoplasia, traumatismo, imobilização prolongada, obesidade, terapêutica hormonal, gravidez, entre outros. Pode ser diagnosticado em qualquer idade. Contudo, a incidência aumenta com a idade, sendo raro nas crianças e habitualmente associado a fatores de risco identificáveis como o internamento.
Quanto aos sintomas, a que sinais devemos estar atentos, tendo em conta que, por vezes, estes podem passar despercebidos?
Os sinais e sintomas mais frequentes do tromboembolismo venoso são: perna inchada, vermelha, com dor e calor (na eventualidade de trombose venosa profunda), falta de ar, dor no peito, tosse e palpitações (nos casos de tromboembolismo pulmonar). Contudo, por vezes, o doente pode não ter sintomas associados, ou os sintomas serem atribuídos a outras patologias mais frequentes, como o síndrome coronário agudo, infeção respiratória, insuficiência cardíaca ou infeção da pele.
Como é feito o seu diagnóstico e quais os principais desafios associados?
O diagnóstico é baseado na clínica e confirmada por um exame de imagem que confirme a presença de TEV. Em casos de TVP, o diagnóstico é feito habitualmente por ecodoppler venoso dos membros inferiores. No caso de embolia pulmonar, o exame de imagem de eleição é a angio-TAC de tórax.
Como se trata o Tromboembolismo Venoso?
Perante o diagnóstico de TEV, a anticoagulação é o tratamento de primeira linha, sendo a estratégia terapêutica com maior eficácia comprovada no tratamento do TEV existindo raras contraindicações para o seu uso.
A escolha do anticoagulante deve ter em consideração as características do doente, do evento agudo, as suas comorbilidades, eventuais contraindicações e preferências, não havendo uma solução “one size fits all”.
Quais as principais complicações associadas a esta condição?
Se não for atempadamente identificado, o tromboembolismo venoso pode ser fatal. Se não for adequadamente tratado, as complicações, como a síndrome pós-trombótica (após trombose venosa profunda) e hipertensão pulmonar tromboembólica crónica (após tromboembolismo pulmonar) podem ser incapacitantes.
Em matéria de prevenção, quais os cuidados a ter?
Um estilo de vida com hábitos saudáveis como mantendo um peso saudável, evitando o sedentarismo e tabagismo é a melhor forma de prevenir o TEV. Em caso de viagens prolongadas, evite estar sentado durante toda a duração da viagem, assegure que se levante e exercite as pernas, pelo menos, a cada 2 horas. Em caso de internamento, ou cirurgia deve aconselhar-se com o seu médico sobre eventual necessidade de profilaxia do tromboembolismo venoso.