A visão na gravidez
De acordo com a especialista “a gravidez pode alterar a forma como os olhos propagam a luz devido à retenção de água (tal como acontece com o resto do organismo, por exemplo, os pés, dedos e tornozelos que ficam inchados), o que pode alterar a espessura e o formato da córnea causando alterações na visão, nomeadamente o aparecimento ou agravamento da miopia”.
No entanto, chama a atenção, estas alterações são transitórias pelo que se aconselha que se espere pelo menos algumas semanas, após o nascimento do bebé, para consultar o oftalmologista. “O mesmo racional é aplicável a cirurgias com intenção refrativa (independência de óculos ou lentes de contacto); estas devem ser diferidas para pelo menos seis meses do pós-parto”, revela.
Por isso saiba que a visão embaçada ou olho seco estão entre as alterações mais frequentes e que merecem alguns cuidados.
Segundo Ana Figueiredo, “as flutuações hormonais próprias da gravidez podem alterar a qualidade e a quantidade de produção de lágrimas, levando à síndrome do olho seco, com sintomas que incluem lacrimejo intermitente e excessivo, visão enevoada e sensação de corpo estranho. Isso ocorre porque as minúsculas glândulas que revestem as margens superior e inferior da pálpebra (chamadas glândulas de Meibomius) diminuem a sua produção pelos níveis mais baixos de hormonas – os chamados androgénios – na gravidez. Por outro lado, é possível que, ao longo da gestação, a mulher sofra com alguns desses sintomas causados por um desequilíbrio na quantidade de lágrimas ou evaporação excessiva”. No entanto, explica que esta síndrome “não está necessariamente ligada à gravidez e pode ser desenvolvida através do uso excessivo de computadores/ecrãs e à exposição frequente a vento ou ar condicionado, por exemplo”.
Os sintomas de olho seco, revela, “devem ser tratados com recurso a lágrimas artificiais, que podem ser adquiridas livremente na farmácia, sem receita médica. Existem múltiplas formulações disponíveis (frasco, unidose, mais viscosas ou mais fluidas), sendo a mais adequada a cada caso facilmente aconselhada por um oftalmologista. Além disso, o problema pode ser minimizado, evitando permanecer em ambientes com poeira ou vento excessivo”.
No caso do uso de lentes de contato, acrescenta a médica oftalmologista, “o reforço da lubrificação ocular é mandatório para melhorar a sua tolerância”.
Outros sintomas como “visão enevoada, moscas volantes, manchas escuras - escotomas - no campo de visão, sensibilidade à luz ou perda temporária da visão”, devem representar um sinal de alerta para consultar o mais rápido possível um médico oftalmologista, afirma Ana Figueiredo, sobretudo se a grávida é ou está em risco de ser diabética ou hipertensa.
“As futuras mães com diabetes necessitam de ser monitorizadas cuidadosamente, uma vez que a gravidez pode agravar uma doença ocular prévia. Os sinais de retinopatia diabética incluem, entre outros, visão enevoada, moscas volantes e manchas escuras (escotomas) no campo de visão. O aparecimento da retinopatia, ou agravamento da doença pré-existente, podem determinar a necessidade de rápido tratamento com laser, injeções intraoculares ou mesmo cirurgia. Por outro lado, a diabetes gestacional, um quadro que surge durante a gravidez e desaparece após o parto, também pode causar distúrbios visuais, os quais tendem a reverter após o nascimento do bebé”, explica.
Segundo a especialista, “a hipertensão e a proteinúria de início recente (excesso de proteínas na urina) são dois sintomas cardinais da pré-eclâmpsia e, como a pressão arterial, pode subir rapidamente e colocar em risco a saúde da mãe e do bebé, cuidados rápidos e dirigidos revelam-se essenciais”.
Estudos indicam que 5% a 8% dos casos dessa doença são diagnosticados a partir de sintomas oculares como sensibilidade à luz, perda temporária da visão, manchas pretas ou “flashes” no campo visual e, ainda, visão enevoada. “Em ambos os quadros (diabetes ou hipertensão arterial), o seu diagnóstico precoce depende da realização de um exame de fundo de olho, ou oftalmoscopia, durante a gravidez. Por intermédio de um aparelho, o oftalmologista consegue avaliar o status das artérias, veias da retina, bem como do nervo ótico”, revela adiantando que “a redução dos riscos destas complicações oftalmológicas implica um controlo adequado dos níveis de pressão arterial e glicemia no sangue, efetuado através do seguimento apertado das gestações que se compliquem com a presença destas patologias”.
Por outro lado, se sofre de glaucoma, saiba que durante a gravidez, a pressão ocular tende a diminuir ligeiramente. “Em todo o caso, é recomendado um acompanhamento oftalmológico regular com vista à avaliação periódica do valor da pressão ocular e respetivo ajuste, através dos fármacos/colírios que sejam mais seguros usar em cada trimestre da gestação”, alerta a médica.
Sempre que a pressão ocular se mantenha descontrolada e acima do desejável, há perigo de lesão irreversível do nervo ótico pelo que poderá ser equacionada a necessidade de uma cirurgia.
“Assim sendo qualquer mulher grávida com histórico em termos de patologia oftalmológica (alta miopia, uveíte, retinopatia diabética, glaucoma ou relacionada com o mero uso de meios corretivos – óculos ou lentes de contacto), deve conhecer o seu padrão de visão habitual por forma a identificar quaisquer alterações e procurar ajuda diferenciada imediata que possa identificar se se trata de algo fisiológico, e como tal reversível após o parto, ou pelo contrário, é uma patologia que implique vigilância e/ou tratamento ao longo da gravidez”, sublinha Ana Figueiredo, acrescentando que a adoção de medidas de estilo de vida saudável, nomeadamente cuidados na gestão do peso, alimentação equilibrada e prática regular de exercício físico são também elas determinantes na redução do aparecimento de complicações.