Apoio da população portuguesa às medidas restritivas da COVID-19 tem vindo a diminuir
Esta é uma das conclusões da Nota Informativa #2: Análises do Setor da Saúde - Apoio às medidas do governo no contexto da COVID-19 elaborada pelos investigadores Eduardo Costa e Pedro Pita Barros (detentor da Cátedra BPI | Fundação “la Caixa” em Economia da Saúde) no âmbito da Iniciativa para a Equidade Social, uma parceria entre a Fundação “la Caixa”, o BPI e a Nova SBE.
A análise baseia-se nos resultados dos inquéritos regulares do European COVID-19 Survey (ECOS) – que monitoriza as perceções e comportamentos da população ao longo do tempo relativamente à pandemia de COVID-19 – junto de 8 países, abrangendo uma amostra representativa de cerca de 1.000 pessoas da população adulta em cada país.
Em janeiro de 2022, Portugal assume a posição de liderança e apresenta-se como o país que mais apoia as medidas restritivas do governo. Face aos restantes países, que apresentam níveis médios de apoio inferiores a 50%, Portugal destacou-se sempre, ao longo do tempo, registando um nível médio de apoio de 54%, seguido pela Itália, França e Alemanha (com 52%, 51% e 50%, respetivamente). O apoio demonstrado pela população portuguesa poderá resultar de inúmeros fatores (sucesso do programa de vacinação e perceção de evolução da situação pandémica) e, à semelhança dos restantes países, tem variado ao longo do tempo: em momentos de agravamento súbito da pandemia, em que a perceção de risco da população aumenta, verifica-se um maior apoio às medidas de maior restrição da vida normal em sociedade.
A evolução favorável do processo de vacinação em Portugal com a consequente redução da perceção de risco na população portuguesa associada à expectativa de que uma eventual nova vaga não seja tão severa como as anteriores, parecem justificar a tendência decrescente no apoio às medidas do governo em Portugal, particularmente expressiva nas medidas mais restritivas (confinamentos, encerramento de escolas e restrições de eventos públicos). Apesar de Portugal permanecer como um dos países que mais apoia as medidas do governo, é expectável que esses níveis não recuperem os valores verificados no passado, o que poderá traduzir-se numa maior dificuldade na aplicação de novas medidas restritivas pelo governo, caso venham a ser necessárias no próximo Inverno.
“A perceção de risco é afetada por diversos fatores (…) a qualidade da informação disponibilizada relativa à evolução da pandemia, a evolução do processo de vacinação, as opções de tratamento disponíveis, a fadiga pandémica (…) A conjugação de todos estes fatores afetam a capacidade de os Governos conseguirem adotar medidas que sejam subscritas de forma generalizada pela população” referem os investigadores, acrescentando “a redução da perceção de risco reduz substancialmente a disponibilidade das famílias para fazerem novos sacrifícios na sequência de medidas restritivas.”
Quando analisados os dados obtidos no universo dos 8 países, verifica-se a existência de diferenças permanentes nos níveis de apoio às medidas dos governos: para uma mesma medida, os níveis de confiança variam substancialmente entre os países o que, segundo os investigadores, sinaliza diferentes perceções de risco em cada país.
Analisando o nível de apoio a diferentes medidas, verifica-se também uma variação significativa: a violação da quarentena obrigatória surge como a medida que reúne um maior nível de apoio generalizado (que varia entre 59% e 79%, dependendo do país), seguida do encerramento de fronteira (59%), restrições de eventos públicos (50%), encerramento de escolas (42%) e confinamentos (39%). Portugal destaca-se como o país com maior nível de apoio ao encerramento de escolas, multas para violação da quarentena e imposição de confinamentos.
“O excesso de confiança, refletido numa potencial perceção de risco demasiado baixa, contribui para adiar a implementação de medidas necessárias ao controlo da situação pandémica. A comunicação não se pode restringir apenas ao anúncio das medidas de restrição, sem que a população tenha uma noção da evolução dos riscos. Por isso, a comunicação atempada e transparente de informação sobre a evolução da pandemia é essencial para ancorar expetativas e gerir a perceção de risco da população, crucial para garantir apoio a medidas que possam vir a ser necessárias.”