Evento da GS1 Portugal debate criação de código de barras único no setor da Saúde
Foi sobre essa possibilidade que incidiram as participações dos oradores internacionais convidados, Georges Nicolaos, Gregory Goger e Gordana Živčec.
Sobre este tema, Georges Nicolaos, Diretor do Serviço Farmacêutico do Hospital da Fundação Adolphe de Rothschild, envolvido na implementação dos standards da GS1 há mais de 15 anos, destacou que “o paciente, quando entra num hospital, está com elevados níveis de stress e, por isso, torna-se vital demonstrar que a segurança é uma prioridade e que o tratamento vai ser o mais adequado”. Nesse contexto, acrescentou que os standards da GS1, por permitirem um acesso rápido à informação dos produtos em qualquer momento do tratamento, reforçam a confiança do paciente nos profissionais de saúde e na eficiência do tratamento. A título de exemplo, Georges Nicolaos apresentou algumas evidências de um estudo que liderou relativo à codificação de instrumentos cirúrgicos no Hospital Ballanger, em França, há 13 anos. Segundo referiu, este estudo permitiu constatar que uma só embalagem de produtos pode conter vários códigos DataMatrix e até sete códigos de barras, dificultando a rastreabilidade. Neste estudo, concluiu a necessidade de encontrar uma nova solução de codificação que consubstancie um código único, capaz de concentrar toda a informação necessária sobre um produto ou embalagem de produtos.
Por seu lado, Gregory Goger, Responsável Global de Rastreabilidade da farmacêutica Abbvie, defendeu a conceção de novas ferramentas e soluções que facilitem o acesso dos doentes e consumidores à informação contida em códigos de barras e bidimensionais de medicamentos e dispositivos médicos. O representante da Abbvie começou por reconhecer que o recurso a codificação é fundamental na comunicação, rastreabilidade e transparência ao longo de toda a cadeia de valor, entre quem produz e quem administra medicamentos e dispositivos médicos, os profissionais de saúde. No entanto, como salientou, é fundamental ampliar o âmbito da codificação em saúde, deixando de ser o utilizador final o profissional de saúde, democratizando o acesso a essa informação, tornando-a acessível para o paciente, de forma simples e clara. Acrescentou ainda que “é necessária a existência de ferramentas que facilitem o acesso à informação sobre os medicamentos e dispositivos médicos, visto que o panfleto que os acompanha, a bula, é algo difícil de ler e não é intuitivo para o paciente”. Para concluir, Gregory Goger afirmou que os produtos de saúde carecem de espaço para informação útil e, assim, é necessário criar novas soluções, assentes na colaboração entre as várias entidades do setor da saúde.
Por último, Gordana Živčec, CEO da Medico Veritas, complementou os testemunhos anteriores apresentando o exemplo do setor automóvel enquanto caso de sucesso setorial de codificação única de múltiplos subprodutos e processos, para ilustrar o modelo que propõe de digitalização do setor da saúde.
Como destacou a representante da Medico Veritas, a saúde deveria desenvolver para medicamentos e dispositivos médicos uma solução de codificação que permitisse uma interação semelhante à que a indústria automóvel encontrou para agregar informação de codificação de componentes e processos envolvidos no produto final. Consciente da dificuldade em reunir informação quando se envolvem vários produtos e prestadores de serviços, como no caso de um ato médico ou processo de tratamento, Gordana Živčec referiu, no entanto, que “não é possível digitalizar o setor sem haver standards que confirmem que o paciente está a receber o tratamento mais adequado às suas necessidades”. Como sublinhou, isso passa, por um lado, pelo desenvolvimento de uma codificação que permita a identificação de todos os produtos e processos aplicados no tratamento de um paciente e, por um lado, pela uniformização da informação de todos os prestadores de cuidados e produtos envolvidos. Conforme concluiu, “a segurança dos pacientes começa com uma identificação única e adequada”.
A mais recente edição do HUG contou, também, com a Gestora de Saúde e Standards da GS1 Portugal, Madalena Centeno, que iniciou a sua partilha com as atualizações relativas ao Regulamento dos Dispositivos Médicos de Diagnóstico in vitro. Madalena Centeno iniciou a sua intervenção com uma breve menção à newsletter da Comissão Europeia (CE), destacando a publicação de duas comunicações: um position paper que possibilita o aumento da resposta dos Organismos Notificados e um guia de boas práticas harmonizadas a ser utilizado enquanto não ocorre a implementação da plataforma EUDAMED.
A responsável pelo setor da Saúde da GS1 frisou ainda, na sua intervenção, o desenvolvimento de um código de identificação adicional (Master UDI-DI Solution) para dispositivos médicos que requerem elevados níveis de codificação, como é o caso das lentes de contacto. Este código, reforçou, vem complementar o uso do UDI – Identificar Único do Dispositivo –, sendo quatro as entidades detentoras de autorização que, em parceria com a CE e a Indústria (MedTech Europe), estão a delinear a estrutura deste novo código.
De seguida, a Gestora de Saúde e Standards da GS1 Portugal identificou a mais recente alteração no GS1 General Specifications – documento no qual estão contemplados todos os standards GS1 –, relativa à data de validade dos produtos de saúde. Como referiu, deixa de ser permitido utilizar a referência “00” como dia na data de validade dos produtos, sendo que, a partir de 2025, será obrigatório incluir um dia em específico, conforme seja aplicável ao produto.
Seguiu-se a intervenção de Nuno Azevedo, Diretor de Serviços Digitais da GS1 Portugal, que deu conta da capacitação da plataforma digital de partilha e sincronização de dados de produto da GS1 Portugal, a Sync PT, para a integração de informação das categorias de medicamentos, cosmética, saúde e bem-estar, sublinhando também a disponibilidade da plataforma para participar em testes-piloto de unidades hospitalares, farmácias e empresas da indústria farmacêutica.
Como destacou, “a plataforma tem vindo a contribuir para a digitalização de vários setores e cada vez mais dá resposta a mais dinâmicas de negócio”. Tendo presente o objetivo de agilização da colaboração entre parceiros, Nuno Azevedo lançou a hospitais, farmácias e laboratórios o desafio de realização de testes-piloto que comprovem a eficiência deste processo.
O evento foi concluído por Sofia Perdigão, Healthcare Manager da GS1 Portugal, que realçou os case studies conduzidos pela GS1 ao nível da rastreabilidade e eficiência logísitica, nomeadamente o projeto de Fiabilidade de Leitura em armazém, implementado em parceria com a MC-Wells e a DHL, bem como o projeto de rastreabilidade das vacinas COVID-19, projeto levado a cabo pela GS1 Irlanda, recentemente publicado pela Organização Mindial de Saúde.
Para concluir a sessão, Mafalda Barreto, Técnica de Relações Corporativas e Eventos da GS1 Portugal, deu nota do próximo evento GS1 Portugal, a 7ª Edição do Congresso da organização, a realizar no dia 20 de outubro, na NOVA SBE, em Carcavelos. O programa pode ser consultado aqui.