Reabilitação do AVC: a aposta necessária e custo-efetiva
Os avanços nos cuidados agudos significam que mais pessoas sobrevivem com sequelas, com grandes implicações para as suas vidas, as suas famílias e a sociedade em geral (2).
Após 15 anos do diagnóstico de AVC, a literatura aponta que dois terços (63%) das pessoas vivem com alguma incapacidade física, quase dois em cada cinco (39%) apresentam depressão e mais de um quarto (30%) desenvolve compromisso cognitivo. Além disso, são muito mais propensos do que pessoas que não sofreram AVC a viver com outra doença (3).
Com o objetivo de otimizar a funcionalidade e autonomia, a reabilitação pode constituir um serviço poderoso que salva vidas, reintegra pessoas e minimiza custos para as famílias e sociedade (4).
Neste âmbito, a Fisioterapia, sempre em conjunto com outras profissões da área da reabilitação (Fisiatria, Terapia da Fala, Terapia Ocupacional, Psicologia e Enfermagem), pode ajudar os sobreviventes de AVC a participar nas atividades de vida diária, na vida familiar e, quando em idade ativa, a recuperar a participação profissional (5).
A reabilitação, no entanto, não tem sido priorizada em muitos países e frequentemente apresenta poucos recursos. Esta situação não é uma surpresa, pois a reabilitação é muitas vezes vista como uma estratégia de retorno quando as intervenções preventivas, promocionais ou curativas falham, e como um serviço específico para alguns elementos da população. Em contraste com a fase aguda, a reabilitação e as fases posteriores do circuito de cuidados e tratamento do AVC têm sido relativamente negligenciados pelos sistemas de saúde e de investigação (8).
Na verdade, os sobreviventes de AVC em toda a Europa enfrentam inconsistências no tipo e na qualidade das terapias a que tem acesso, muitas vezes dependendo do local onde vivem. Aguardam demasiado tempo para que suas necessidades imediatas de reabilitação sejam avaliadas e as terapias iniciadas, em geral recebem cuidados sem a intensidade suficiente ou por períodos demasiado curtos (7, 8).
Na Declaração de Helsingborg de 2006, a meta para 2015 de que todos os pacientes com AVC na Europa deveriam ter acesso a um atendimento contínuo, desde o tratamento agudo até a reabilitação em unidades dedicadas ao AVC falhou (5).
Felizmente, há evidências convincentes de que o AVC é altamente evitável, tratável e gerível e existe o potencial para reduzir drasticamente a carga do AVC e suas consequências a longo prazo (9). Há suporte científico e segurança para afirmar que muitas intervenções da Fisioterapia e restantes áreas da reabilitação são custo-efetivas na melhoria dos resultados funcionais e podem ser usadas como modelos de sucesso no cuidado destes pacientes (9).
O planeamento das etapas de alta e transferência entre níveis de cuidados e acompanhamento devem ser garantidos (11). Estes aspetos melhoram a satisfação e permitem criar circuitos mais eficazes dentro do sistema de saúde. Por outro lado, o envolvimento ativo dos pacientes e familiares parece ser benéfico, e os serviços de saúde precisam entender e abordar as lacunas neste apoio ao longo do processo de reabilitação (9).
Para cumprir as metas ambiciosas estabelecidas para 2030 pelo Plano de Ação Europeu para o AVC, os decisores políticos precisam de reconhecer a necessidade de desenvolver vias coerentes de tratamento e reabilitação do AVC, que reduzam os atrasos no tratamento e garantam uma melhoria na qualidade (9).
Referências
1. Johnson CO, Nguyen M, Roth GA, Nichols E, Alam T, Abate D, et al. Global, regional, and national burden of stroke, 1990–2016: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2016. The Lancet Neurology. 2019;18(5):439-58.
2. Rajsic S, Gothe H, Borba HH, Sroczynski G, Vujicic J, Toell T, et al. Economic burden of stroke: a systematic review on post-stroke care.
3. Crichton SL, Bray BD, McKevitt C, Rudd AG, Wolfe CD. Patient outcomes up to 15 years after stroke: survival, disability, quality of life, cognition and mental health.
4. Lijing L Yan CL, Jie Chen, Rong Luo, Janet Bettger, Yishan Zhu, Valery Feigin, Martin O’Donnell, J Jaime Miranda, Dong Zhao, and Yangfeng Wu. Stroke. In: Prabhakaran D, Anand S, Gaziano TA, et al., editors. Cardiovascular, Respiratory, and Related Disorders. 3rd edition. Washington (DC): The International Bank for Reconstruction and Development /The World Bank; 2017.
5. Matchar DB, Bilger M, Do YK, Eom K. International Comparison of Poststroke Resource Use: A Longitudinal Analysis in Europe.
6. Stucki G, Bickenbach J Fau - Gutenbrunner C, Gutenbrunner C Fau - Melvin J, Melvin J. Rehabilitation: The health strategy of the 21st century. (1651-2081 (Electronic)).
7. The Changing Role of the Hospital in European Health Systems. Cambridge: Cambridge University Press; 2020.
8. Stevens E, Emmett E, Wang Y, McKevitt C, Wolfe C. The Burden of Stroke in Europe: Stroke Alliance for Europe; 2017.
9. Norrving B, Barrick J, Davalos A, Dichgans M, Cordonnier C, Guekht A, et al. Action Plan for Stroke in Europe 2018-2030.
10. Dee M, Lennon O, O'Sullivan C. A systematic review of physical rehabilitation interventions for stroke in low and lower-middle income countries.
11. Forster A, Brown L Fau - Smith J, Smith J Fau - House A, House A Fau - Knapp P, Knapp P Fau - Wright JJ, Wright Jj Fau - Young J, et al. Information provision for stroke patients and their caregivers.