Antioxidante revela eficácia na prevenção do fígado gordo não alcoólico
O resultado desta investigação abre portas para estudos de prova de conceito do AntiOxCIN4. Contribui, igualmente, para a sua potencial utilização na terapia contra o fígado gordo não alcoólico, uma doença que afeta cerca de um quarto da população mundial e que está frequentemente relacionada com obesidade e diabetes. Apesar da elevada incidência, ainda não existe um fármaco aprovado para o tratamento desta condição.
O fígado gordo não alcoólico traduz-se numa acumulação excessiva de gordura no fígado, não proveniente do consumo excessivo de álcool (superior a 10 g/dia na mulher e a 20 g/dia no homem), nem do uso prolongado de fármacos hepatotóxicos ou da ocorrência de outro tipo de doenças, como a hepatite C. Está sim, frequentemente relacionada com maus hábitos alimentares e sedentarismo. Esta condição, muitas vezes silenciosa, pode, com o tempo, trazer consequências graves para a função hepática e, consequentemente, para a saúde. Após uma fase inicial benigna, esta condição pode prosseguir para estados mais severos, como a inflamação hepática, cirrose ou mesmo cancro hepático.
O estudo, que lança novas pistas para a prevenção desta doença, foi publicado na prestigiada revista Redox Biology e resulta da colaboração entre duas equipas de investigadores: uma liderada por Paulo Oliveira, investigador principal do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC), responsável pela avaliação da eficácia biológica do novo composto, e outra liderada por Fernanda Borges, Professora associada da Faculdade de Ciências da UP, coordenadora do grupo de Química Medicinal do Centro de Investigação em Química da UP (CIQUP), que idealizou, sintetizou e efetuou os ensaios antioxidantes preliminares do AntiOxCIN4.
Ricardo Amorim, primeiro autor do trabalho científico e investigador do CNC-UC e do CIQUP, explica que o estudo «é o resultado de vários anos de pesquisa com esta molécula (AntiOxCIN4) e a primeira prova de conceito relativa ao uso deste antioxidante modificado na prevenção da FiGNA num modelo animal».
Para validar a eficácia da molécula, os investigadores usaram um modelo animal de ratinhos que receberam o AntiOxCIN4 na sua alimentação diária, durante 16 semanas. Parte dos animais recebeu uma dieta padrão, normal, enquanto que outra parte foi alimentada com uma dieta ocidental, rica em gordura e açúcar. «Verificámos que os ratinhos alimentados com a dieta ocidental, portanto, animais obesos e com fígado gordo, aos quais foi administrado AntiOxCIN4, tiveram uma redução do peso corporal e do fígado (43% e 39%, respetivamente). Nestes animais, verificámos ainda menor dano hepático, com o melhoramento de marcadores sanguíneos hepáticos e a redução da gordura acumulada no fígado», explica Ricardo Amorim. A investigação permitiu concluir que «o AntiOxCIN4 preveniu as consequências do fígado gordo não alcoólico num modelo de ratinhos, tendo um efeito protetor na progressão da doença», esclarece o investigador.
Neste trabalho também participaram investigadores do Nencki Institute of Experimental Biology of Polish Academy of Sciences e do The Children's Memorial Health Institute, na Polónia. O estudo foi financiado por fundos do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), através do Programa Operacional Factores de Competitividade (COMPETE) e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
O artigo científico está disponível em https://doi.org/10.1016/j.redox.2022.102400.