Campanha alerta “O Cancro do Pulmão não tira férias”
Até porque, tal como refere António Araújo, diretor do serviço de Oncologia Médica do Centro Hospitalar Universitário do Porto, refere: “temos assistido a uma série de atrasos e falhas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) a nível de acesso aos cuidados de saúde primários e das urgências, que se refletem, naturalmente, em demoras de diagnóstico”.
De acordo com o especialista, “é natural que no período de férias haja consultas e exames ainda mais atrasados. Porque já existem no SNS muitas dificuldades a nível da imagiologia, da radiologia e da radiologia de intervenção, essenciais para fazer o estadiamento do cancro do pulmão e que leva, muitas vezes, a atrasos na realização dos exames já em tempo normal. Assim, é natural que no período de férias as coisas se agravem mais”.
É importante estar atenção aos sinais e sintomas, também neste período de férias, sobretudo porque “o cancro do pulmão é muitas vezes confundido com outras doenças”, o que tem a ver com o tipo de sintomas: tosse, expetoração, falta de ar, “associados a doenças mais benignas”.
Embora o tabagismo continue a ser a causa predominante de cancro do pulmão, a incidência, desta patologia, em não fumadores é um importante problema de saúde pública, como refere António Araújo: “A população, e mesmo, às vezes, os próprios médicos de família, acaba por pensar em primeiro lugar no que é mais frequente e esquecem-se de pôr na equação a possibilidade de ser cancro do pulmão. O que muitas vezes resulta em atrasos no diagnóstico.” E, recorda o médico, “Numa doença que tem um prognóstico reservado, quanto mais avançado for o estádio, ou seja, quanto mais avançado estiver o tumor, a probabilidade de sobrevivência do doente diminui. Daí ser fundamental fazer o diagnóstico o mais precoce possível, para aumentar as possibilidades de sobrevivência”.
António Araújo reforça ainda que, “com os novos medicamentos que têm surgido, conseguimos dar mais tempo e melhor qualidade de vida aos nossos doentes. Com o advento da terapia dirigida a alvos, conseguimos aumentar muito a sobrevivência nos casos que têm alvos moleculares que podem ser potencialmente tratados, o que corresponde, a cerca de 25-30% da população com cancro do pulmão”. A este novo armamentário terapêutico junta-se, ainda, “a imunoterapia, que foi um avanço enorme e uma mudança no paradigma no tratamento do cancro do pulmão”.
António Araújo defende também, em prol do diagnóstico precoce, que está na hora de criar um rastreio em Portugal para o cancro do pulmão. “Existe já evidência científica que justifica a implementação de, pelo menos, um programa piloto de rastreio. Sendo o diagnóstico precoce uma arma fundamental para darmos mais qualidade de vida aos nossos doentes, o rastreio seria um utensílio de enormíssima importância para conseguirmos diagnosticar os doentes mais cedo, podendo ainda ser usado para promover a cessação tabágica. Está na altura dos políticos encararem com interesse a sua implementação.”
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