Cantar pode ajudar quem sofre de doenças respiratórias crónicas
“Cantar é uma função natural do corpo, qualquer pessoa canta desde criança e não precisa de ser profissional para o fazer nem de treino prévio”, começa por explicar Sónia Silva adiantando que esta atividade ajuda na reabilitação das doenças respiratórias crónicas uma vez que “promove uma maior gestão e controlo da respiração, redução do cansaço, uma vez que envolve mecanismos de postura, força muscular expiratória e de estruturas associadas à respiração e fala”.
Deste modo, “qualquer pessoa com doença respiratória crónica pode beneficiar desta terapia como um complemento a tratamentos convencionais por ser uma atividade bem tolerada com benefícios na função pulmonar e qualidade de vida, que aliás já foram comprovadas em artigos científicos”.
Segundo a especialista, de um modo geral, estes doentes apresentam melhorias na “gestão do controlo e flexibilidade ventilatória, maior eficiência respiratória, maior consciência do seu corpo e sobretudo melhorias na autoestima e socialização, que são de suma importância em qualquer doença incapacitante”.
Quanto a regularidade com que esta atividade deve ser desenvolvida, Sónia Silva revela que esta depende do perfil individual do doente, “das suas dificuldades e comorbilidades”.
Baseando-se nestas evidências, a Linde Saúde, prestador de cuidados de reabilitação respiratória, fundou o projeto “Respirar a Música”, um coro que reúne pessoas com doença respiratória crónica, sob a direção do maestro Dale Chappell.
“Este coro musical iniciou a sua atividade em fevereiro de 2019, como complemento à reabilitação respiratória, pois cantar promove um maior controlo da respiração, reduz a falta de ar e melhora a qualidade de vida e bem-estar. Em abril de 2020, devido à pandemia e até ao momento, os ensaios passaram a ser virtuais através de plataforma digital”, revela a Terapeuta da Fala, acrescentando que esta iniciativa, “que combina o canto com exercícios respiratórios específicos”, conta ainda com a colaboração de um fisioterapeuta respiratório.
Segundo Sónia Silva, antes da adesão a este “regime” terapêutico, “há uma avaliação individual e definição da frequência entre a equipa técnica, maestro e obviamente entre o “cantor” e seus cuidadores”.
“Qualquer pessoa com doença respiratória crónica e com vontade de participar neste coro musical pode enviar um e-mail para [email protected].
Serão contactados posteriormente por Catarina Agapito, fisioterapeuta da Linde Saúde e coordenadora do coro, para contextualização do projeto, esclarecimento de eventuais questões e integração nos ensaios”, explica.
Aprendi a respirar musicalmente!
Guilherme Veríssimo, de 71 anos, tomou conhecimento deste projecto “no início de 2019, quando o mesmo foi apresentado no Air Care Center (ACC) da Linde, onde fazia reabilitação respiratória desde 2016”.
Diagnosticado com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica há cerca de 10 anos revela que com “a prática semanal de exercícios respiratórios preparatórios e o exercitar da caixa torácica no ato de cantar, nomeadamente na evolução da capacidade de prolongamento da expiração, aprendi a respirar musicalmente!”
O “cantor”, que começou a apresentar dificuldades respiratórias na prática desportiva, revela que tem conseguido manter o quadro clínico da DPOC, sem agravamento da doença, seguindo “os 3 cuidados diários ensinados pelo corpo clínico do Air Care Center (ACC): medicação; à Capella (limpeza brônquica); e exercício físico”.
Segundo Guilherme Veríssimo, “além do convívio, cantar é um ato de respirar!”, por isso recomenda este projeto a todos aqueles que, tal como ele, sofrem de uma doença respiratória crónica. “Trata-se de um conjunto de pessoas com limitações variadas, que partilha experiências e dores, mas que se apoia, ajuda e preocupa com os outros, que interage (mesmo através do Zoom!) e que desenvolveu relações de amizade, o que é ainda mais importante para este escalão etário e limitado. Tal desidrato só foi possível alcançar graças à exemplar coordenação da Fisioterapeuta Catarina Agapito da Linde e à excecional competência profissional e de relacionamento do Maestro Dale Chapelle”, sublinha.
“Ao longo do ano é importante ter em mente que tanto a terapêutica como a reabilitação respiratória devem ser mantidas de forma consistente”
De acordo com Sónia Silva, e de um modo geral, estes doentes não podem esquecer a proteção e a higiene “das vias aéreas superiores, o afastamento de locais de grande afluência de pessoas, evitar o fumo de tabaco e medidas de proteção do frio nas estações mais adversas”.
Em particular nesta época do ano, “com dias mais instáveis no que respeita à temperatura, é recomendado que as pessoas não “facilitem” os seus processos de reabilitação e mantenham os cuidados habituais, que reforcem a sua imunidade até pelo surgimento de outras doenças respiratórias típicas da época (alergias e não só)”.
É que, embora sejam as estações mais frias aquelas que apresentam maior risco para os doentes respiratórios crónicos, os cuidados devem ser mantidos ao longo de todo o ano, de modo a evitar o agravamento da condição ou a ter recaídas.