A Depressão na Esquizofrenia: suicídio entre uma das principais complicações
Vários estudos têm demonstrado que a depressão é, a par dos sintomas positivos e negativos, uma das dimensões da esquizofrenia, estando presente em todas as fases da doença. Deste modo, começo por lhe perguntar qual o seu impacto na evolução e prognóstico desta doença mental grave?
O prognóstico depende do timing de instalação dos sintomas depressivos no quadro de esquizofrénico. Percentagem significativa de investigadores descobriram que os sintomas depressivos nas fases iniciais da psicose esquizofrénica fazem prever baixos níveis de sintomas negativos no futuro. Já quadro depressivo durante a remissão da psicose faz prever pior evolução. Depressão no curso de esquizofrenia crónica está associada a risco de recidiva de surto psicótico, internamentos, baixa qualidade de vida, suicídio e os familiares relatam mais stress. Se depressão ocorre após um ano de recuperação de quadro psicótico, aumenta risco de recidiva de novo surto psicótico, já se ocorrer até 1 ano tal não ocorre.
Que sinais podem indicar a existência de depressão entre estes doentes, sendo que pode existir alguma confusão com os sintomas negativos típicos? Como é feito o seu diagnóstico, que critérios devem ser tidos em conta?
Vários estudos sugerem que a depressão pode estar associada a sintomas negativos, e as características comuns são redução de interesse social e pessoal, redução do prazer, diminuição da energia, perda de motivação e abulia. Características distintivas de depressão podem ser identificadas: humor depressivo, distúrbios do sono e apetite, sentimentos de culpa e de desesperança e ideias suicidas sugerem depressão, nos sintomas negativos é mais no embotamento afetivo. Mas mais importante do que medir sintomas discretos é identificar a síndrome em si, por isso a importância de especialista em psiquiatria treinado.
Há ainda o facto de os antipsicóticos puderem induzir sintomas semelhantes ao de quadros depressivos, correto? Que sintomas são estes?
Sim, o agravar os sintomas negativos atrás descritos, como seja diminuição da expressão emocional, apatia, embotamento afetivo, diminuição do sentimento de prazer...
Como se trata a depressão dentro de um quadro esquizofrénico? E quais as complicações associadas ao não tratamento? De acordo com alguns estudos, estima-se que aproximadamente 10% dos doentes com esquizofrenia cometem suicídio, e que em mais de 60% destes o suicídio está associado a sintomas depressivos…
Suicídio é uma das complicações, outro é a não colaboração e isolamento crescente, abuso de substâncias e agravamento do quadro clínico.
O tratamento de quadro depressivo inserido num quadro esquizofrénico, depende de quando surgem os sintomas e da sua severidade, intervenção psicossocial poderá ser suficiente, mas muitas vezes é necessário mudança/escolha de antipsicóticos de segunda geração e eventual uso de antidepressivos.
Sabendo que o plano de tratamento da esquizofrenia deve incluir a família, de que forma esta pode contribuir para o sucesso do mesmo? A que sinais deve a família estar atenta (no que diz respeito a potenciais quadros depressivos)?
Sabemos que um bom suporte familiar está associado com a hipótese de melhor evolução de quadro a longo curso e melhoria no funcionamento social do paciente. No que se refere a sua pergunta em específico, a família deve estar atenta aos sinais de agravamento do quadro de insónia, isolamento crescente, labilidade emocional de novo, discurso de culpabilidade ou com ideação autodestrutiva ......
No âmbito deste tema, que ideias chave devemos reter?
Sintomas depressivos são frequentes entre os primeiros surtos psicóticos, o diagnóstico não é fácil dado que os pródromos da esquizofrenia podem se assemelhar a uma depressão (anedonia, défice de atenção, alterações psicomotoras. A taxa de incidência andará numa percentagem de 25% (variando conforme os estudos de 7% a 68%).
A depressão pode preceder a psicose, surgir no decurso ou numa fase pós-psicótica, com diferentes implicações. Por tudo isto é importante não protelar o tratamento e recorrer a especialista de psiquiatria para evitar danos muito superiores quer no próprio quer no seu agregado familiar/social.