Esquizofrenia na população geriátrica – desafios para o futuro
O envelhecimento da população com esquizofrenia veio gerar um conjunto de necessidades específicas. Existem vários caminhos possíveis para a melhoria sintomática e recuperação funcional, tendo vindo a ser concebidas novas estratégias para aumentar o leque de opções disponíveis para atender a essas necessidades. A investigação nesta área é ainda escassa e os sistemas de saúde não se encontram devidamente preparados para enfrentar os desafios futuros que esta tendência irá trazer.
A esquizofrenia é uma perturbação mental grave com impacto importante para doente, familiares e comunidade. Quando nos referimos a doentes mais velhos com esquizofrenia, incluímos indivíduos que padeceram da doença durante grande parte da sua vida e casos de esquizofrenia de início tardio (menos frequentes e de maior dificuldade diagnóstica). Duas gerações de adultos mais velhos com esquizofrenia coexistem actualmente: por um lado, os idosos com ≥ 75 anos; por outro, indivíduos na faixa etária dos 55-74 anos. Este grupo de doentes mais jovens tem tendencialmente menor número de admissões hospitalares e maior exposição a intervenções terapêuticas individualizadas.
Os doentes mais velhos com esquizofrenia apresentam défices cognitivos substanciais, tanto a nível geral como no que concerne a domínios específicos; o curso longitudinal da função cognitiva é, porém, um tema ainda controverso. Contrariando as noções prévias, estudos recentes apontam no sentido dos sintomas negativos na população geriátrica com esquizofrenia não serem superiores aos da mais jovem, podendo haver flutuações ao nível da sintomatologia e do funcionamento.
A idade mais avançada não é necessariamente um período de estabilidade social, pelo que existem simultaneamente oportunidade de melhoria e risco de declínio. A investigação relativa ao funcionamento social tipicamente recorre a conceitos unidimensionais como o estado civil, ocupacional ou residencial; uma medida mais abrangente, a integração na comunidade, pode ser considerada como um dos grandes objectivos das políticas de saúde mental. A integração na comunidade constitui um exemplo de como poderíamos começar a abordar a prestação de cuidados à população geriátrica com esquizofrenia, ajudando na redução dos sintomas positivos e da psicopatologia em geral.
A trajectória ideal de recuperação clínica para a população geriátrica com esquizofrenia passaria pela redução significativa ou ausência de sintomatologia psicótica (remissão sintomática), pela integração na comunidade (recuperação funcional) e pelo envelhecimento bem-sucedido (saúde positiva) – sendo esta última a abordagem mais adequada ao grupo etário em questão. A actividade física deve ser promovida e a abordagem colaborativa privilegiada.
A prestação de cuidados aos adultos mais velhos com esquizofrenia implica o reconhecimento das necessidades físicas e psiquiátricas desta população e um investimento na área. Esta população é mais propensa a efeitos secundários da medicação, frequentemente necessitando de doses inferiores. Atendendo a este contexto, diversas estratégias não-farmacológicas têm sido planeadas visando especificamente doentes mais velhos. Vários ensaios controlados e randomizados têm mostrado resultados favoráveis de intervenções como a terapia de remediação cognitiva, o treino de habilidades sociais e a terapia cognitivo-comportamental. É, pois, premente implementar em larga escala medidas dirigidas à população geriátrica com esquizofrenia e fazer face aos desafios impostos por esta realidade.
Referências bibliográficas:
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