Leucemia Mieloide Crónica é quase sempre diagnosticada de forma “acidental”
Mais frequente entre os adultos acima dos 60 anos, a Leucemia Mieloide Crónica “é uma doença oncológica caracterizada por uma desregulação da medula óssea (local onde se produz o sangue)” que resulta na “proliferação desmesurada dos progenitores dos glóbulos brancos”, explica a hematologista do Hospital Lusíadas de Lisboa, Daniela Alves.
Inicialmente assintomática, a progressão da leucemia mieloide crónica é insidiosa e com sintomas inespecíficos como cansaço (por anemia), dor abdominal, enfartamento (por baço aumentado), febre e perda de peso.
Por isso, o a maioria dos casos é identificada de forma “acidental, após a realização de análises de rotina, que mostram “um aumento do número dos glóbulos brancos, à custa de uma produção aumentada de neutrófilos, basófilos e eosinófilos”. De acordo com a especialista, é frequente observar ainda “formas mais precoces destas células, tais como os promielócitos, mielócitos e metamielócitos”.
“Estes 3 tipos de células habitualmente não andam a circular no sangue, encontrando-se somente na medula óssea. Mas, como a medula está a produzir tantas células, fica “cheia e transborda” células para a corrente sanguínea”, acrescenta.
Além dos glóbulos brancos, também as plaquetas podem estar aumentadas.
No que toca ao seu tratamento, se há uns anos a doença apresentava uma esperança média de vida curta, hoje, com a existência de novas opções terapêuticas é possível viver mais e melhor.
“Há 30 anos, após o diagnóstico desta patologia, os doentes tinham uma expectativa de vida de cerca de 20 anos, acabando por falecer por progressão para leucemia aguda. Os tratamentos não mudavam a história natural da doença, à exceção do transplante alogénico de medula que tinha potencial curativo, mas à custa de muita toxicidade e só acessível a indivíduos mais jovens”, refere a especialista.
Embora os fármacos mielossupressores possam ser utilizados, os inibidores da tirosina quinase (TKI) que melhoram de modo significativo a resposta e prolongam a sobrevida, costumam ser o tratamento de eleição.
Com a descoberta da causa subjacente para o aparecimento da LMC – hoje sabe-se que o cromossoma Philadelphia (Ph) está presente em 90 a 95% dos casos de leucemia mieloide crônica – “foi desenvolvido um fármaco que atua especificamente sobre a alteração genética, fazendo “desligar” o sinal que faz as células proliferarem”, explica a especialista.
Reserva-se o transplante alogénico de células-tronco hematopoiéticas para pacientes com LMC na fase acelerada ou blástica ou com doença resistente aos inibidores da tirosina quinase disponíveis.