Opinião

Tecido do cordão umbilical promissor no tratamento da diabetes mellitus tipo 2

Atualizado: 
06/07/2021 - 10:52
O artigo de revisão “Human umbilical cord mesenchymal stem cells in type 2 diabetes mellitus: the emerging therapeutic approach”, recentemente pulicado na revista científica Cell and Tissue Research, reúne os principais benefícios terapêuticos das células mesenquimais do tecido do cordão umbilical no tratamento e controlo da diabetes mellitus tipo 2 e comorbidades associadas.

A diabetes é uma doença crónica e progressiva, que pode trazer graves consequências para a saúde e bem-estar individual e está associada a elevados custos sociais e dos sistemas de saúde. Torna-se assim importante e urgente conter o aumento constante da prevalência da diabetes através de consciencialização os cidadãos, mobilização da sociedade em geral e desenvolvimento de novas terapias. A diabetes tipo 2 é a forma de diabetes mais comum, cuja prevalência tem vindo a aumentar, e ocorre em adultos, geralmente obesos, sedentários e com histórico familiar de diabetes. De uma forma simplificada, esta patologia carateriza-se por uma deficiente produção de insulina pelo pâncreas e o pelo facto da pouca insulina produzida apresentar um “mau funcionamento”. Ou seja, os tecidos deixam de ter a capacidade de reconhecer a presença da insulina, fazendo com que o açúcar presente no sangue não consiga ser utilizado pelas células (processo que se conhece como resistência à insulina). Para além disto, com a progressão da diabetes tipo 2 podem surgir complicações em vários órgãos. Pode-se dividir em microvasculares, como as complicações associadas ao olho, rim e pé (retinopatia, nefropatia diabéticas e o pé diabético), e macrovasculares que podem, por exemplo, conduzir ao enfarte agudo do miocárdio e ao Acidente Vascular Cerebral (AVC).

As células estaminais mesenquimais provenientes do tecido do cordão umbilical apresentam propriedades imunomodulatórias, não imunogénicas, secretórias, migratórias (apresentam uma aptidão de, depois de estarem na corrente sanguínea, se dirigirem para o local inflamado exercendo os seus efeitos benéficos), proliferativas e multipotentes que fazem com que estas células sejam consideradas candidatas ideais para aplicação em medicina regenerativa e terapia celular em várias patologias, nomeadamente na diabetes tipo 2.

Para a escrita deste artigo foram consideradas as investigações que avaliaram os efeitos das células estaminais mesenquimais do cordão umbilical na progressão da diabetes tipo 2 e das complicações associadas, como por exemplo a nefropatia, retinopatia e neuropatia diabética. Após uma específica e detalhada pesquisa dos vários estudos e ensaios clínicos mundialmente realizados até ao momento, foram considerados todos aqueles que apresentaram resultados importantes, fiáveis e representativos usando modelos experimentais (por exemplo: avaliação dos efeitos das células mesenquimais em vários tipos celulares pancreáticos, endoteliais, hepáticos, entre outros), observações pré-clínicas e ensaios clínicos (avaliação dos efeitos das células mesenquimais em pacientes com diabetes tipo 2 que incorporam este tipo de ensaio e portanto, são transplantados com estas células).

Este artigo reúne vários estudos que têm demonstrado que o transplante de células mesenquimais derivadas do cordão umbilical e o tratamento com o secretoma destas células (todos os fatores libertados pelas células mesenquimais) combatem os efeitos prejudiciais da hiperglicemia e progressão da diabetes tipo 2, através da atenuação da inflamação crónica e disfunção das células β pancreáticas. Pode-se salientar, entre vários efeitos, a melhoria na

recuperação funcional do tecido muscular cardíaco isquémico, o atraso da progressão da retinopatia diabética, a exibição de efeitos nefroprotetores, a melhoria da função imunológica global e a diminuição da inflamação crónica e da disfunção das células β pancreáticas. Além disso, as células estaminais mesenquimais do cordão umbilical revelaram-se promissoras na aceleração da cicatrização de feridas diabéticas pelo incremento do processo angiogénico, favorecendo a reparação de tecido e revascularização.

Conclui-se que investigações extensas sobre as aplicações terapêuticas das células mesenquimais do cordão umbilical representam assim um avanço na área da saúde, nomeadamente no combate à progressão da diabetes tipo 2 que aflige a vida quotidiana de milhões de pacientes, uma vez que conjuntamente com outra terapia ou sozinhas podem fazer parte de um plano de cura devido à sua capacidade de regeneração tecidular.

No entanto, para que haja a possibilidade de utilização destas células num futuro próximo ou distante, com padrões de qualidade garantidos, é necessária a sua criopreservação. Claro que a decisão de criopreservação é uma decisão pessoal, que deve abranger a recolha de informação fidedigna obtida por meio de aconselhamento de profissionais e autoridades de saúde. Após o parto, o destino do cordão umbilical é uma decisão dos pais da criança e estes podem eleger a crioconservação das células estaminais do cordão umbilical num banco privado, sendo estas armazenadas para uso exclusivo da criança ou de um familiar, ou podem também optar pela doação das células estaminais do cordão umbilical ao banco público, podendo posteriormente serem utilizadas por qualquer doente que delas necessite. A segurança passa por guardarmos as nossas células, no entanto, caso não seja de interesse próprio, pode-se sempre doar este material biológico que pode ser extramente importante para a saúde de outra pessoa. Portanto, a criopreservação das células do cordão umbilical, após o nascimento, é um passo crucial para se seja possível o posterior uso das mesmas.

Autor: 
Dr.ª Andreia Gomes - Diretora Técnica e de Investigação e Desenvolvimento do laboratório de tecidos e células estaminais BebéVida
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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