Entrevista

«A telemedicina é sem dúvida um serviço que veio para ficar»

Atualizado: 
01/06/2021 - 15:34
Ao longo do último ano, foi através dela que muitos portugueses conseguiram chegar ao médico. A Telemedicina, embora já tenha sido implementada há uns anos em Portugal, só recentemente, e em contexto pandémico, chegou a casa de um maior número de portugueses. Uma necessidade que veio mostrar que este serviço veio para ficar, tornando a saúde acessível a todos. Em entrevista ao Atlas da Saúde, Liliana Gomes, médica formada em Saúde Pública e Coordenadora Clínica do Serviço Médico Online da Médis, explica que, para além de permitir o “alívio” dos serviços de saúde, a telemedicina desempenha um papel importante no acompanhamento dos doentes crónicos, “permitindo a continuidade do tratamento e o atendimento célere (…), com maior proximidade”.

Implementada há poucos anos em Portugal, a Telemedicina teve, no último ano, um crescimento exponencial face ao contexto pandémico. Neste sentido, quais as principais vantagens de um serviço que disponibiliza consultas médicas online?

A telemedicina assumiu um papel crucial na prestação de cuidados médicos à população (adulta e em idade pediátrica) em tempos de pandemia, sendo a principal vantagem a flexibilidade e facilidade de acesso a consultas médicas, sem necessidade de se deslocar a uma unidade de saúde, minimizando o risco de contágio de infeção pelo novo coronavírus.

Através de uma teleconsulta, seja por voz ou vídeo, em poucos minutos é possível um médico avaliar situações de doença aguda, mas também permite manter o acompanhamento médico dos doentes crónicos, de forma continuada, seja por rotina ou devido a agravamento da doença. Por outro lado, a disponibilidade de videochamadas é uma mais-valia, dado que permitem fazer uma avaliação mais global do estado geral do doente e realizar parte do exame objetivo como, por exemplo, a observação da pele e das mucosas, permitindo fazer o diagnóstico de patologias que antes não era possível realizar à distância.

Desta forma, a telemedicina permite realizar aconselhamento e triagem médica, encaminhando para avaliação presencial apenas os doentes que realmente necessitam e reduzindo a carga nos serviços de saúde a nível dos cuidados de saúde primários e a nível dos hospitais.

Tendo em conta a experiência do “Médico Online”, considera que este é um serviço que veio para ficar? E em que circunstância? Neste sentido, quando deve o doente recorrer à telemedicina e quando deve recorrer à consulta presencial?

A telemedicina é sem dúvida um serviço que veio para ficar. Durante este período pandémico, o Médico Online teve um papel fundamental no acompanhamento de doentes, uma vez que houve períodos de grande congestionamento nos serviços de saúde, e em que havia dificuldade no acesso a consultas médicas e no acompanhamento presencial. Este serviço conseguiu colmatar algumas destas falhas e tornar a saúde acessível a todos.

Existem várias situações em que os doentes podem recorrer à telemedicina, nomeadamente em situações de doença aguda que podem ser rapidamente resolvidas, como por exemplo infeções respiratórias agudas (eg. amigdalites agudas, bronquites, sinusites), infeções do trato urinário, patologia do foro dermatológico, entre muitas outras. Por outro lado, também podem recorrer a este serviço os doentes que necessitem do acompanhamento de rotina, da realização dos rastreios adequados ao seu grupo etário, género ou situação clínica. Por último, os doentes crónicos que necessitem de realizar pedidos de exames complementares de diagnóstico de rotina ou de medicação crónica.

Por outro lado, em caso de dúvida, o Médico Online pode ser uma solução para solicitar aconselhamento médico, sendo realizada uma triagem médica que permite orientar o doente da forma mais adequada à sua situação: a) medicar e permanecer no domicílio, b) encaminhar para consulta presencial (no domicílio ou numa unidade de saúde, de forma urgente ou programada, e especialidade a observar o doente), c) serviço de atendimento urgente nos cuidados de saúde primários, d) serviço de urgência de um hospital ou e) ligar para o 112 (se se tratar de uma emergência médica). Contudo, em situações de emergência e em situações graves, os doentes devem deslocar-se diretamente a um serviço de urgência ou pedir ajuda através do 112, nomeadamente perante uma suspeita de AVC, de enfarte agudo do miocárdio, hemorragia aguda, traumatismo ou na presença de queixas respiratórias graves.

Quem é o utilizador típico do serviço de telemedicina?

Hoje em dia, o perfil do utilizador dos serviços de telemedicina é muito variado, dado que as novas tecnologias, e serviços como o Médico Online, são bastante intuitivos e de fácil utilização. Por vezes, com uma simples orientação dos profissionais da Linha Médis ou com o apoio de um amigo ou familiar, o doente consegue rapidamente instalar a aplicação da Médis e agendar uma consulta. Doentes com maior dificuldade na utilização de novas tecnologias poderão solicitar uma teleconsulta por telefone na Linha Médis e, de forma simples, falar com um médico.

Se, inicialmente, os doentes adultos eram maioritariamente jovens (entre os 30 e 50 anos), hoje em dia recorrem a este serviço doentes de todas as idades, incluindo nas faixas etárias mais seniores (por exemplo dos 65 até aos 80 anos).  

Quanto aos doentes em idade pediátrica, consultamos doentes literalmente desde que nascem até aos 18 anos, exclusive. Os pais recorrem muito a estes serviços para solicitar aconselhamento médico, por forma a evitar expor os mais jovens a riscos de saúde adicionais. Nesta faixa etária recorrem ao Médico Online sobretudo crianças e jovens com doenças agudas (amigdalites, otites, febre, infeções respiratórias, problemas de pele). Já nos adultos, o motivo da consulta varia muito, podendo ser devido a doença aguda ou a doença crónica.

Já no contexto das doenças crónicas, e para além da pandemia, quais as vantagens de contar com a telemedicina? Não só sobre a perspetiva do doente, mas também das unidades de saúde.

Com a telemedicina tornou-se possível acompanhar os utentes com doenças crónicas de forma regular, e sempre que surgem necessidades pontuais como, por exemplo, a necessidade de aconselhamento médico em caso de agudização da doença, a renovação do receituário crónico e a emissão de alguns exames complementares de diagnóstico de rotina, para monitorização da sua situação clínica. Desta forma, evitam-se inúmeras deslocações presenciais às unidades de saúde (centros de saúde e hospitais), e garante-se o acompanhamento adequado e atempado quando os doentes mais necessitam, permitindo a continuidade do tratamento e o atendimento célere destes doentes, com maior proximidade. A telemedicina contribui assim para a prevenção de complicações das doenças crónicas (eg. Diabetes e Hipertensão Arterial), e por conseguinte, para a redução da morbilidade e mortalidade associada às mesmas, reduzindo a carga da doença e contribuindo para melhorar a qualidade de vida dos doentes. Tudo isto tem benefícios que se traduzem na otimização dos recursos existentes, os quais são escassos, e na poupança com complicações da doença (eg. idas aos serviços de urgência, internamentos, incapacidade temporária para o trabalho, entre outros).

Convém igualmente ressalvar que a telemedicina tem algumas limitações, tais como o facto de por vezes não haver acesso ao histórico clínico do doente, pelo que é recomendável que os doentes tenham sempre consigo os relatórios médicos que documentam a sua situação clínica, para um atendimento médico mais célere e adequado às suas necessidades.

Sabendo que a telemedicina, embora tenha o objetivo de facilitar o acesso aconselhamento médico à população, a verdade é que esta ainda não está ao alcance de todos. Na sua opinião, o que ainda falta fazer ou é preciso fazer para que este seja um serviço que chegue a todos, em qualquer parte do país?

De facto, ainda existem algumas limitações na implementação e disponibilização de teleconsultas, bem como no acesso à telemedicina, a nível nacional. Por um lado, devido a constrangimentos tecnológicos, por outro devido a ausência de recursos. Contudo, na Médis essas restrições não se aplicam conforme expliquei anteriormente. Qualquer cliente Médis tem acesso a uma consulta médica (Medicina Geral e Familiar ou Pediatria) por voz e/ou vídeo numa questão de minutos, bastando recorrer à aplicação ou à linha de apoio clínico da Médis, seja em Portugal Continental e Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, ou até quando se encontram deslocados noutro país, por exemplo, em trabalho ou em férias.

Para terminar, quais as principais ideias-chave sobre este tema?

A principal ideia-chave é que a telemedicina é um serviço inovador e imprescindível no atual contexto da pandemia de COVID-19, e um passo em frente no setor da saúde, permitindo apoiar os doentes com maior proximidade. Se havia dúvidas quanto ao funcionamento e à capacidade de resposta da telemedicina, creio que estas se têm vindo a dissipar ao longo do último ano e meio. A pandemia deu um impulso adicional à telemedicina e permitiu compreender que esta é uma ferramenta funcional e capaz de complementar ou até de substituir, de forma adequada e dentro das limitações que conhecemos, consultas e outros atos presenciais, aliviando a pressão nos hospitais e nos centros de saúde.

No caso do serviço Médico Online, disponível via aplicação da Médis, os médicos estão disponíveis para atender os doentes 24 horas por dia, 7 dias por semana, o que representa uma mais-valia porque as pessoas sabem que podem contar connosco em qualquer momento. Basta solicitar uma consulta na hora ou realizar um agendamento num dia ou numa hora à sua escolha. Em alternativa, a Médis disponibiliza também teleconsultas que podem ser agendadas através da sua Linha de apoio clínico. A segurança dos doentes deve ser o elemento chave da atuação médica, pelo que mesmo com limitações, as teleconsultas podem servir como uma forma de triagem médica, e se se tratar de uma situação urgente com indicação para encaminhamento para o hospital, em poucos minutos fazemos a análise da situação clínica do doente e conseguimos ajudá-lo a perceber quais são as medidas que deve adotar e quais os cuidados que deve ter, ou se deve optar por pedir ajuda através do 112.

Por fim, a telemedicina está em constante evolução, pelo que nos próximos anos iremos certamente assistir a grandes progressos tecnológicos nesta área, melhorando assim, os meios e os dispositivos médicos disponíveis para a realização de teleconsultas.  

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.