Fadiga e dispneia como as principais sequelas da long COVID

A importância da Reabilitação Respiratória no doente pós-covid

Atualizado: 
20/05/2021 - 15:32
Pelo recente surgimento do novo coronavírus (SARS-CoV-2), só agora começa a emergir algum conhecimento sobre as sequelas a médio e longo prazo de quem desenvolve doença por SARS-CoV-2 (COVID-19). Não obstante da importância da fase aguda de internamento hospitalar, as sequelas relacionadas com o chamado long COVID (sinais e sintomas persistentes entre 4 e 12 semanas ou mais após COVID-19, não justificados por outros diagnósticos) estão a ser reportadas tanto por pessoas que estiveram internadas como por pessoas que fizeram a sua recuperação no domicílio.

As sequelas que estão a ser reportadas mais frequentemente após 3 e 6 meses da COVID-19 são a fadiga/cansaço muscular, dispneia/falta de ar, dificuldades em dormir, problemas de concentração, entre outros.

A evidência científica é cada vez mais forte quando aponta os sintomas de fadiga e dispneia como as principais sequelas da long COVID. É neste contexto que a fisioterapia respiratória, enquanto subespecialidade da fisioterapia, pode ter um contributo importante para o tratamento e prevenção destes sintomas, utilizando diferentes abordagens, de acordo com uma avaliação individualizada e detalhada.

Os objetivos principais da fisioterapia respiratória junto da pessoa com sequelas da COVID-19 devem incluir a melhoria e o controlo dos sintomas de fadiga e dispneia, aumento da força muscular, aumento da tolerância ao esforço, promoção da autogestão dos sintomas e aumentar o nível de atividade. As estratégias utilizadas para atingir estes objetivos podem passar por técnicas específicas de fisioterapia respiratória, exercício estruturado e adaptado à condição respiratória e educação sobre estratégias de conservação de energia, aumento e sustentabilidade da atividade física a longo-prazo e suporte na autogestão dos sintomas. Antes de tudo, é imprescindível a avaliação pelo médico e fisioterapeuta para que intervenção seja adaptada às necessidades e objetivos da pessoa em recuperação da COVID-19.

Independentemente da sua importância em todo o processo, o fisioterapeuta não trabalha sozinho! Quando falamos em reabilitação respiratória, dirigimo-nos a programas que incluem equipa multidisciplinares e têm demonstrado excelentes resultados para várias doenças respiratórias. Apesar de não existir evidência de resultados específicos para a COVID-19, este modelo de cuidados pode ser benéfico para esta doença. A OMS publicou orientações para a criação de vias de cuidados coordenados e multidisciplinares com vários problemas onde é necessário intervir: suporte nas atividades relevantes, descondicionamento físico, complicações pulmonares, cognitivas, deglutição, comunicação, entre outras. Assim, podemos entender que a reabilitação respiratória deve incluir profissionais da área da saúde como também das ciências sociais, no sentido de suportar o melhor possível o regresso a casa e/ou a autonomia destas pessoas.

Da experiência que existe do passado, sabe-se que os programas de reabilitação respiratória têm inúmeros benefícios tanto para o participante no programa, como, em termos de poupança, para as famílias e sistema de saúde. Podemos pensar que, por exemplo, se existe redução e melhoria dos sintomas, melhoria das capacidades físicas ou maior capacidade para gerir o seu dia-a-dia sem complicações, levará a uma menor necessidade de recorrer ao serviço de urgência, de consultas extra, maior qualidade de vida e possibilidade de investir o tempo saudável no trabalho ou lazer.

Este é, sem dúvida alguma, um dos maiores desafios de saúde pública com que grande parte das gerações se depararam. As mudanças que esta pandemia mundial provocou em muitos setores da sociedade foram profundas. O conhecimento científico sobre esta área precisa de evoluir rapidamente para dar resposta a uma realidade futura, mas próxima, que são as sequelas a médio e longo prazo da COVID-19. A abordagem multidisciplinar é urgente e, preferencialmente, de uma forma integrada. Neste sentido, parece pertinente pensar em abordagens realmente integradas e multidisciplinares, sendo a reabilitação respiratória uma peça incontornável na recuperação de uma doença que afeta muito mais sistemas do que o respiratório.

Autor: 
Renato Reis - Fisioterapeuta / Patient Care Specialist Linde Saúde
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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