A importância da vacinação

“A estratégia da prevenção da infeção por HPV tem de ser vacinar, vacinar ... vacinar”

Atualizado: 
03/05/2021 - 16:48
Embora o país tenha evoluído muito nesta matéria, deixando a cauda da Europa no que diz respeito ao controlo do cancro do colo do útero, Daniel Pereira da Silva, presidente do Colégio da Subespecialidade de Ginecologia Oncológica da Ordem dos Médicos, alerta que temos de acelerar o passo para baixarmos os números da doença associada ao HPV. E a vacinação é a melhor arma de que dispomos!

Embora o cancro do colo do útero seja uma das principais complicações associadas à infeção do HPV, este pode ser responsável pelo aparecimento de múltiplas lesões. “O Papiloma vírus (HPV) é um vírus muito prevalente na sociedade contemporânea. São um vasto grupo de vírus que pode infetar a pele e mucosas. Alojam-se e replicam-se nos seres humanos e são transmitidos através dos contactos sexuais”, começa por explicar Daniel Pereira da Silva sublinhando que “todas as mucosas de contacto sexual podem ser sede de lesão pelo HPV em homens e mulheres: genitais, orofaringe e ânus”.

Deste modo, o especialista chama a atenção para a falsa ilusão de que só as relações desprotegidas são as que correm mais riscos. “O uso do preservativo não resolve o problema desta infeção porque não impede o contacto de zonas além da recoberta pelo preservativo e basta um contacto para que a infeção seja possível. A estratégia da prevenção da infeção tem de ser vacinar, vacinar ... vacinar”, afirma.

Com evidências de eficácia e segurança até aos 26 anos nos homens e os 45 nas mulheres, não há, no entanto, um limite de idade para que a vacina contra o HPV possa ser utilizada, sendo os seus benefícios amplamente difundidos. “Neste momento, os rapazes adolescentes já estão a ser vacinados no âmbito do plano nacional de vacinação, mas os que têm neste momento mais de 17 anos não têm direito à vacina pelos serviços públicos e devem fazê-la”, e quanto mais cedo, melhor! “O benefício será deles e com quem se relacionam”, reforça o médico.

No que diz respeito às mulheres, “todas as mulheres com menos de 29 anos de idade tiveram oportunidade de se vacinarem gratuitamente nos serviços públicos. Falta vacinar as que têm mais de 29 anos e, ao contrário do que se diz, elas têm muito a beneficiar com a vacina”. É que, de acordo com o especialista, ao longo da vida, é possível surgir uma nova infeção ou reativar uma antiga. “Um estudo nacional mostra que cerca de 6% das mulheres entre os 50-60 anos tem uma infeção ativa. Não é só um problema das mais jovens! Hoje temos uma vacina nonavalente, muito abrangente e com uma larga proteção. Há demostração de eficácia e segurança da vacina em mulheres até aos 45 anos, mas não há limite de idade para serem vacinadas”, sublinha reforçando a importância da vacinação.

Por outro lado, aconselha a realização do rastreio do cancro do colo do útero, relembrando que só assim é possível identificar lesões. “A infeção é sempre assintomática! Não dá qualquer sinal ou sintoma que leve ao seu diagnóstico. Só as lesões quando estão avançadas é que dão sintomas, como corrimento, hemorragia ou dor”, alerta.

No contexto da pandemia, torna-se ainda mais premente falar sobre este tema. “Esta patologia pode atingir a todos, mas são sobretudo as faixas da população com mais carência de recursos que são as mais atingidas – não fazem a vacina e não fazem o rastreio! Temos de ter uma estratégia para essa faixa da população, especialmente as mulheres”, diz deixando “um apelo às empresas, às instituições de solidariedade social, a todos nós”. “Nós sabemos que a pandemia tornou essas populações muito mais vulneráveis, têm muitas necessidades, mas esta não é menos importante, porque lhes pode roubar o futuro”, reforça.

Por último, Daniel Pereira da Silva, deixa uma mensagem que é transversal a toda a sociedade e que diz respeito aos mitos que ainda persistem sobre este tema: este não é um problema que só acontece aos outros! Não acontece só às mulheres! “O problema é nosso, de mulheres e homens, independentemente da nossa orientação sexual”, conclui.  

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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