Doença Venosa Crónica

Cuidado com as pernas…vem aí o verão!

Atualizado: 
14/04/2021 - 10:20
As pernas são uma parte importante do nosso corpo, logo as queixas referentes a elas não são de desprezar. Falemos então sobre as varizes dos membros inferiores, não pensem que é só um problema estético é uma doença crónica que tem muita importância e pode vir a ter graves repercussões na nossa vida.

Em Portugal a prevalência da doença venosa crónica é de 20% nos homens e 40% nas mulheres. Num inquérito efetuado em 2010 verificou-se que 2 milhões de mulheres com mais de 30 anos de idade sofrem desta doença.

É responsável por 1 milhão de dias de trabalho perdidos por ano. Em cerca de 21% dos doentes existe como motivo para mudança de local de trabalho e leva a reformas antecipadas em 8% destes doentes.

Em outubro de 2010, no jornal “Noticias Médicas” foi publicado um estudo que revelou que 64% das mulheres com 50 anos de idade ou mais, veem a sua qualidade de vida significativamente afetada pela doença venosa crónica.

Como curiosidade histórica a 1ª descrição que existe de varizes dos membros inferiores surgiu em 1550 A.C. no “Papyrus Ebers”, os egípcios descreveram-nas como dilatações serpentiformes, enroladas, endurecidas e com nódulos. Mais tarde Hipócrates (460-377 A.C.) já recomendava a compressão como tratamento e citava os efeitos benéficos do repouso em situações de úlcera.

Galeno (130-200 D.C.) que viveu em Pérgamo, na Ásia menor, descreveu a extirpação das varizes entre duas laqueações e referiu que a dilatação das varizes tinha como causa a quantidade de sangue que existia no seu interior. Foi o cientista que descreveu pela 1ªvez a laqueação cirúrgica.

Ambroise Paré (1510-1590) foi um ilustre cirurgião de Paris, que em 1552 se tornou médico de Henrique II, “o tirano”, que foi acometido de uma úlcera de perna. Já nesta altura foram usados pensos e contensão elástica.

Ao longo dos séculos houve pessoas importantes que tiveram problemas graves do sistema venoso dos membros inferiores, como por exemplo” El Greco” (1541-1614), Henrique VIII e Catherine Parr, sua última mulher.

O que causa as varizes? De uma maneira simplista pudemos dizer que é tudo o que impeça o fluxo do sangue nas pernas. Por exemplo o uso de roupa apertada, a gravidez, determinados desportos (levantamento de pesos), o sentar e cruzar as pernas por períodos prolongados, obesidade, álcool, calor, hormonas (pilula, terapêutica de substituição na menopausa), o estar de pé ou sentado por períodos muito prolongados, uso regular de saltos altos, mas o maior risco é a predisposição genética.

Os primeiros sintomas da doença são pernas pesadas, edema dos tornozelos (inchaço), prurido, cãibras noturnas e dor nas pernas. Os sinais variam desde pequenos derrames, sem qualquer tipo de queixas, passando pelas varizes tronculares, dermatite e em último caso o aparecimento de úlcera de perna.

As dores das pernas podem ter várias origens, não são sempre doença venosa, temos que fazer o diagnóstico diferencial com a osteoartrite, as mialgias, a neuropatia periférica, a tendinite e a claudicação intermitente. O edema também existe noutras patologias, com por exemplo na insuficiência cardíaca, na insuficiência renal, no edema linfático, na lipodistrofia e em casos de hipoalbuminémia.

A avaliação da doença venosa passa sempre pela realização de um ecodoppler, que é um exame ecográfico, minimamente invasivo, que faz o estudo da circulação venosa superficial e profunda que permite determinar se existe refluxo, ou seja, insuficiência das válvulas venosas devido a dilatação ou se existe qualquer obstrução nos vasos. Em casos mais complicados pode se recorrer ao uso da flebografia, que é muito raro atualmente pois o ecodoppler fornece nos todos os dados necessários. Trata-se de um estudo radiológico com utilização de contraste e implica uma punção duma veia do membro inferior (exame invasivo).

Após termos o diagnóstico passamos à terapêutica, e aqui temos vários grupos. Temos a terapêutica médica, compressiva, a escleroterapia, a terapia por laser e a cirurgia.

Os mecanismos de ação da terapêutica oral (comprimidos) traduzem-se num efeito anti edema, um aumento do tónus venoso e um efeito na microcirculação, não tem qualquer ação profilática no aparecimento de varizes. Está indicado fazer a medicação sempre que exista edema, sensação de peso e cansaço, como coadjuvante do tratamento das úlceras de perna, na síndrome pré-menstrual e como profilaxia do edema nos voos de longo curso.

Na terapêutica compressiva consta de dois tipos as meias ou as ligaduras elásticas. A meia apresenta a máxima compressão ao nível do tornozelo, 100% e vai diminuindo conforme se sobe ou seja cerca de 70% na região gemelar e 40% na raiz da coxa. Existem meias até ao joelho, até raiz da coxa e collants, com ou sem biqueira, encontram-se distribuídas por 4 classes, consoante o tipo de compressão, então temos classe 1, compressão suave (até 20 mm Hg), que deve ser usada na prevenção das pernas pesadas em caso de gravidez ou por estar em pé durante muito tempo e até após uma sessão de escleroterapia. Temos a classe 2, compressão moderada (até 30 mm Hg), que deve ser usada em casos de veias varicosas pronunciadas, pernas inchadas, após cirurgia ou quando existem varizes na gravidez. Usar uma classe 3, compressão forte (até 40 mm Hg), após uma trombose venosa profunda ou úlcera de perna. A classe 4, compressão extraforte (até 60 mm Hg), deve ser usada no linfedema.

Existem as meias de descanso, cuja pressão varia entre os 6 e os 14 mm Hg, são exclusivamente para pessoas sem patologia documentada.

É muito importante a compra correta de uma meia pois esta tem que ter a medida certa, pois de modo contrário não vai ser possível calçar e sentir-se bem com ela. Aconselha-se sempre a escolher lojas da especialidade pois tem técnicos que sabem fazer uma avaliação correta do tamanho, não vão mudar a prescrição médica e vão ensinar a calçar e lavar a sua meia.

Quando existem derrames ou pequenos trajetos varicóticos, após um exame clínico e por ecodoppler que mostre que não existe patologia das safenas, pudemos tratar com escleroterapia ou até por laserterapia.

A escleroterapia (vulgarmente conhecida por secagem) consiste numa injeção de um medicamento num pequeno vaso, que vai provocar uma irritação da parede da veia levando à sua esclerose, ou seja, desaparecimento. Este tratamento implica várias sessões, muito bem toleradas, pois a dor da punção é mínima devido a agulha ser de um calibre muito reduzido. Uma noção que é preciso ter é que o facto de esclerosar umas veias não vai aumentar o número noutros locais. Deve ser tomado em atenção que não se pode fazer praia ou solário durante 3 semanas, em virtude do risco de pigmentação da pele, não se pode fazer atividade física intensa até às 48 h, mas pode caminhar, deve usar contensão elástica após o tratamento durante 3 dias e deve aplicar creme nos locais de punção, do tipo gel de arnica ou angiogel, para evitar os hematomas.

Quanto ao tratamento por laser, também são necessárias várias sessões, é praticamente indolor, tem indicação quando os “derrames” têm menos de 1mm, quando existe alergia ao medicamento da escleroterapia ou em caso de “medo das agulhas”. Após o tratamento mantem atividade diária normal.

Autor: 
Dra. Teresa Vieira – Cirurgiã Vascular
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Clínica Milénio