Células estaminais do cordão umbilical permitem melhorar visão de pessoas com doença ocular
A neuropatia ótica refere-se a um conjunto de doenças decorrentes de lesão no nervo ótico, a estrutura responsável pelo transporte da informação visual captada pelo olho até ao cérebro. Na origem destas lesões podem estar causas hereditárias ou outros fatores, como traumatismos, infeções e doenças, como o glaucoma. A progressão da neuropatia ótica conduz à atrofia ótica, com morte das células do nervo ótico e perda irreversível de visão devido à falta de capacidade de regeneração destas células.
Este ensaio clínico, realizado na Turquia, incluiu 23 doentes, com idades compreendidas entre os 19 e os 82 anos, que apresentavam atrofia ótica, com duração média de 11 anos, devido a diferentes causas, como glaucoma, traumatismo, intoxicação química e diabetes. Durante o processo, todos os participantes foram tratados com células estaminais mesenquimais numa intervenção cirúrgica sob anestesia local.
Os autores justificam a opção por células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical pelas suas múltiplas vantagens, nomeadamente a sua grande capacidade de multiplicação, baixo potencial para induzir reações imunológicas, por serem células muito jovens, e pela facilidade de obtenção, através de um processo simples e indolor, na altura do parto.
“As células estaminais mesenquimais libertam fatores de crescimento capazes de promover a sobrevivência celular e ativar mecanismos intrínsecos de reparação, sendo a terapia com estas células considerada, atualmente, como uma estratégia promissora para o tratamento de doenças que afetam o nervo ótico”, explica a Dr.ª Bruna Moreira, investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal.
Após o tratamento, os doentes foram sujeitos a avaliação passado 1, 3, 6 e 12 meses. A acuidade visual, que se refere à capacidade para distinguir com precisão a forma e contorno dos objetos, e o campo visual, que é a extensão do espaço que o olho consegue ver quando está parado a olhar em frente, foram dois dos parâmetros avaliados.
Os resultados deste estudo revelaram-se positivos, uma vez que os participantes apresentaram melhorias significativas na acuidade visual e no campo visual um ano após o tratamento. De realçar que, no acompanhamento feito antes deste tratamento, estes doentes não manifestaram quaisquer melhorias nestes parâmetros no ano anterior ao estudo, sendo o seu estado de atrofia ótica considerado estável ou progressivo.
Durante os 12 meses de seguimento, não foram observados efeitos adversos graves ao nível ocular. Assim, o tratamento com células estaminais do cordão umbilical pode constituir uma alternativa segura e eficaz para melhorar a visão de doentes com neuropatia ótica e atrofia ótica. Os autores reforçam, no entanto, a importância da realização de mais ensaios clínicos que confirmem estes resultados.