Uma história sobre a diabetes no centenário da insulina
Contemos a história de como era tratar um jovem cuja diabetes aparece depois de 1921...
Seguimos o João:
O João tinha 14 anos, quando um dia chegou a casa do seu jogo de futebol, mais cedo do que era habitual. O João vinha muito cansado e a mãe estranhou. Acerca-se dele e pergunta-lhe se está bem! O jovem responde com voz arrastada:
“Sinto-me muito cansado!”
Preocupada, a mãe insiste! “Passa-se alguma coisa?” “Não, mãe, só me sinto mais cansado”, responde João. Deita-se, mas nada o ajuda a recuperar as forças.
Passa agora os dias a dormir. Perde peso e está sempre a beber água. Os pais resolvem levar o João ao Dr. Sérgio, médico da família.
O médico ouve atentamente a história, faz um breve exame e pede uma amostra de urina.
O Dr. Sérgio chama os pais à parte e, solene dá-lhes a notícia: "Lamento dizer que seu filho tem diabetes." A mãe, que teve uma avó com diabetes, entende muito bem o que o médico realmente lhes diz.
Em agosto de 1922, um especialista de Chicago ouve falar do novo tratamento descoberto em Toronto e consegue - através de colega amigo - fornecer ao Dr. Sérgio insulina recém-descoberta.
O médico do João começa a administrar insulina, por via subcutânea, antes das três refeições e ao deitar. João rapidamente começa a urinar menos, e lentamente a recuperar o peso. Um mês depois já joga futebol e regressa à escola.
O João recupera assim uma certa normalidade na sua vida. Tudo devido ao “milagre” da insulina.
Saltemos para 1936
Progressos técnicos permitem desenvolver insulinas com tempo de ação mais prolongado: as Insulinas protamina e protamina-zinco. O João passa a fazer duas administrações por dia. Gosta! É mais cómodo.
Com o progresso imparável, aparece, entretanto, a insulina NPH (Neutral Protamine Hagedorn), com uma duração ligeiramente superior e mais estável. Continua a fazer a sua vida social e profissional.
Em 1953
Em 1953, aparecem as insulinas de combinação com o zinco. As insulinas semi-lentas, lentas e ultralentas. Com a insulina lenta apenas precisa de tomar uma vez por dia.... Parece-lhe um grande avanço.
Em 1970
O João sabe pelo seu médico assistente que surgiram novos tipos de insulinas. Mais puras e, portanto, com menos efeitos secundários e, ao que dizem, mais eficazes. Eram as Monocomponentes (MC). Decide mudar logo, achando ter ficado mais estável.
Em 1980
No início da década de 1980, o João ouve que atribuem a deficiente compensação da diabetes ao aparecimento das chamadas complicações tardias.
Por isso, aceita logo a sugestão do seu médico e passa a fazer duas administrações de insulina de ação lenta (pequeno almoço e jantar), com insulina rápida às refeições. Melhora logo a médias das suas glicémias que faz com tiras teste, agora de sangue e recentemente aparecidas.
Com a melhoria da tecnologia e do conhecimento dos anos 80, João passa para as insulinas humanas. Insulinas com uma constituição exatamente igual à insulina das próprias pessoas. Oferecia mais estabilidade e provocava menos hipoglicemias.
No início deste século, propuseram-lhe mudar para os análogos de insulina.
O João desde logo adotou estas insulinas, nas rápidas - tinham um início de ação muito mais célere, e que permitiam dar insulina às refeições - e nas de ação prolongada, com o seu tempo de ação mais estável e em quase todas serem superior a um dia. João sente-se mais seguro e estável.
Já nos finais dos anos 70 e início dos 80, soube que começaram a ser desenvolvidos dispositivos eletrónicos que permitiam a infusão contínua de insulina. João é uma das
primeiras pessoas com diabetes a utilizar um desses aparelhos, que permitem a administração de insulina de forma contínua e com ajustes horários.
O João foi uma pessoa que aceitou a sua diabetes, sabia gerir a sua diabetes e estava integrado socialmente na sociedade.
Neste processo evolutivo, há a registar três marcos importantes no tratamento da diabetes. O uso das tiras testes de sangue; a HbA1c e, mais recentemente, os sensores da glicémia. Este último é considerado uma autêntica revolução.
Mas, como em tudo na vida, o importante mesmo são as pessoas. As equipas médicas sempre dispostas a apoiar os doentes, e as restantes equipas multidisciplinares.