Fibrilhação auricular é um problema sério, mas nem sempre damos por ela
Em Portugal, estima-se que 9% da população acima dos 65 anos sofra de Fibrilhação Auricular. Embora a idade esteja associada a um risco aumentado para o seu desenvolvimento, esta pode ocorrer em idades mais jovens. Sabe-se, aliás, que a sua prevalência no nosso país é de 2,5% a partir dos 40 ano de idade.
Entre os principais fatores de risco associado “encontramos o tabagismo, o stress, o consumo de bebidas alcoólicas, estilos de vida sedentários, o consumo de drogas, a toma incorreta de alguns medicamentos ou o consumo de cafeína em excesso”. Para além disso, tal como explica o cardiologista, Gonçalo Proença, “a presença de algumas comorbilidades como a diabetes, a obesidade, a insuficiência cardíaca, a hipertensão arterial, a síndrome de apneia obstrutiva do sono ou a doença coronária, entre outras, favorecem a ocorrência de FA”. “
Sendo a arritmia cardíaca mais comum em todo o mundo, a Fibrilhação Auricular caracteriza-se, mais frequentemente, por batimentos cardíacos rápidos, geralmente irregulares. “Uma das consequências desta arritmia é a redução do débito cardíaco que pode atingir os 20 – 30%. Aplicado à mecânica de um automóvel, é o equivalente a um motor de 4 cilindros funcionar apenas com 3. Esta perda de rendimento do coração explica o cansaço e falta de ar referidas por muitos doentes. Outros sintomas frequentes são as pulsações rápidas e irregulares, sensação de aperto ou dor no peito, episódios de sensação de desmaio ou mesmo perda de consciência”, explica o coordenador Unidade de Cardiologia Hospital de Cascais quanto aos sinais de alerta. No entanto, esta é uma condição frequentemente silenciosa, “não causando qualquer sintoma podendo assim passar despercebida”.
Sendo o Acidente Vascular Cerebral uma das mais importantes complicações da Fibrilhação auricular, estimando-se que a sua incidência seja 5 vezes maior entre estes doentes, importa clarificar esta relação tão perigosa.
“Num coração em fibrilhação auricular, a atividade elétrica das aurículas torna-se caótica, desorganizada e extremamente rápida, o que leva à perda da sua capacidade contráctil. Quando as aurículas não contraem, o esvaziamento de sangue para os ventrículos passa ser menos eficiente. Uma vez que o sangue deixa de circular de forma rápida, tende a formar trombos que se podem deslocar subitamente e entrar na circulação, causando o entupimento de um vaso sanguíneo. Um dos locais onde isto ocorre com maior frequência é a circulação cerebral e por isso o principal risco desta arritmia é o AVC “, explica o coordenador Unidade de Cardiologia Hospital de Cascais. De acordo com o especialista, estes AVCs são “frequentemente extensos, deixam sequelas graves e apresentam uma mortalidade significativa”.
Em matéria de prevenção, recomenda-se a adoção de estilos de vida mais saudáveis. Embora não seja possível controlar fatores como a idade, há outros fatores que podemos tentar reverter. “A alteração do estilo de vida e o cumprimento dos tratamentos de acordo com as indicações médicas podem reduzir o risco de desenvolver não só a Fibrilhação Auricular, como as suas complicações”, esclarece o especialista.
Não obstante, quando a Fibrilhação Auricular é já uma realidade, há medidas que podem ajudar a reduzir o risco de comorbilidade, nomeadamente, o Acidente Vascular Cerebral. Segundo Gonçalo Proença, “a redução do risco destes eventos, potencialmente catastróficos, faz-se mais vulgarmente com recurso a medicamentos designados anticoagulantes orais”. No entanto, apenas os doentes com menos de 65 anos e sem outras doenças associadas podem dispensar este tratamento. Todos os outros devem se medicados, o mais precocemente possível, afirma o médico cardiologista.
Disponíveis há cerca de uma década, estes medicamentos, “designados anticoagulantes orais diretos”, para além de eficazes, apresentam um baixo risco de hemorragias graves, “poucas interações com outros medicamentos ou alimentos o que os torna de fácil utilização não exigindo, ao contrário de outros fármacos mais antigos, constantes análises de controlo”. No entanto, Gonçalo Proença adverte: “facilidade de utilização não deve ser confundida com “facilitismo” não se devendo descurar as consultas periódicas com o seu médico nem menor rigor no cumprimento da prescrição”, explicando que se se falhar a sua toma, o efeito protetor perde-se em poucas horas o que significa que se pode ficar novamente exposto a um risco elevado de AVC.
Uma vez que esta condição é responsável por 20 a 30% dos acidentes vasculares cerebrais isquémicos, torna-se urgente compreendê-la e estar alerta. “Apostar na prevenção e na deteção precoce, é fundamental para obter um bom controlo. Não arrisque. Aconselhe-se com o seu médico”, reforça o coordenador da Unidade de Cardiologia do Hospital de Cascais.