Doença de origem alérgica

Inflamação tipo 2: Quando uma doença não vem só é preciso olhar para as suas raízes

Atualizado: 
07/10/2020 - 10:08
A asma é uma doença crónica de elevada prevalência, sendo a causa mais conhecida a de origem alérgica, frequentemente associada a um tipo de inflamação designada por inflamação tipo 2. Para além da causa alérgica, outras podem desencadear asma tipo 2, como por exemplo, os vírus ou outros irritantes inalatórios. A asma tipo 2 associa-se com frequência a outras doenças do mesmo espetro inflamatório, como é o caso da dermatite atópica ou da polipose nasal (muitas vezes relacionada com formas mais graves de asma).

Os tratamentos apropriados a estas doenças são, assim, dirigidos à inflamação existente, sendo fundamental conseguir identificá-la.  Para isso, são utilizados biomarcadores que se relacionam com a inflamação tipo 2, cujos doseamentos são elementares para a correta avaliação do doente. Por exemplo, o doseamento dos eosinófilos (no sangue ou na expetoração) ou o doseamento do composto óxido nítrico no ar exalado, são fulcrais para essa avaliação.

Quando identificado este tipo de inflamação e os doentes apresentam formas graves de doença, podem ser candidatos a tratamentos verdadeiramente transformadores da sua qualidade de vida, com melhoria marcada dos sintomas e da sua capacidade para as atividades diárias.

Por exemplo, no caso da asma, a maioria dos casos consegue-se controlar com o tratamento convencional administrado por inaladores (vulgarmente conhecidos por “bombas”) que fornecem ao doente a corticoterapia inalada associada, ou não, a um broncodilatador. Na pequena percentagem de doentes em que a asma permanece não controlada, mesmo depois de todos os fatores modificáveis, incluindo a maximização da terapêutica inalatória, e que rondarão cerca de 5% dos asmáticos, a solução passa por novas terapêuticas sofisticadas (os agentes biológicos). Para os doentes elegíveis (com base nos biomarcadores e noutras características clínicas), estes agentes são hoje de primeira linha em substituição da corticoterapia sistémica (genericamente apelidada de “cortisona”). Os benefícios destas novas terapêuticas, administradas com periodicidade variável (quinzenal, mensal, bimestral), permitem melhorar a qualidade de vida dos doentes, minimizar em larga escala o impacto que a doença tem no seu dia a dia e reduzir os danos colaterais (como a diabetes, osteoporose, cataratas, dislipidemia, hipertensão) relacionados com o uso da corticoterapia sistémica (“cortisona”), que passa a ser menor ou dispensável.

Assim, é essencial sensibilizar a comunidade para a doença e validar os sintomas manifestados pelo doente desde o início, uma vez que o diagnóstico e o tratamento corretos e atempados conseguem evitar os efeitos mais perversos destas doenças inflamatórias e a progressão das mesmas.

As Doenças Inflamatórias Tipo 2, mais especificamente o diagnóstico e o tratamento da dermatite atópica moderada a grave, da asma grave e da rinossinusite crónica com polipose nasal estiveram em debate no “II Fórum Type 2 Inflammation”, uma reunião científica dirigida a profissionais de saúde com uma abordagem multidisciplinar. O fórum inovador realizou-se no dia 18 de setembro em formato Drive in, simultaneamente em Lisboa e no Porto, e foi transmitido via streaming para os profissionais de saúde.


Cláudia Chaves Loureiro, MD, PhD
Serviço de Pneumologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Faculty of Medicine of the University of Coimbra

Nota: 
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