Prevenção precoce da fertilidade em mulheres com endometriose aumenta as probabilidades de gravidez
Em abril do ano passado, o IVI apresentou um estudo que mostrou a idoneidade na vitrificação dos óvulos em pacientes com endometriose para preservar a sua fertilidade. Nos casos em que a cirurgia ovárica era necessária, foram observadas as maiores taxas de sucesso quando os ovócitos foram vitrificados antes da cirurgia, principalmente em pacientes com menos de 35 anos. E, como mostram várias publicações científicas, mesmo em mãos de especialistas, a cistectomia pode causar uma diminuição de até 40% nos níveis séricos de AMH, refletindo um envolvimento significativo da reserva ovárica como resultado da técnica cirúrgica e, porque, além de extrair o quisto, o tecido saudável também pode ser removido involuntariamente. Mas, a sobrevivência e o resultado clínico dos ovócitos serão afetados em pacientes com endometriose que preservaram a fertilidade em comparação com mulheres sem endometriose que vitrificaram os seus ovócitos por razões sociais?", questiona Ana Cobo, diretora da Unidade de Criobiologia do IVI Valencia.
Este é o ponto de partida do estudo intitulado "A sobrevivência dos óvulos e o resultado clínico em pacientes jovens com endometriose são prejudicados após a preservação da fertilidade (PF)", liderado pela especialista, e apresentado na 36ª edição do Congresso da Sociedade Europeia de Reprodução e Embriologia Humana (ESHRE).
"Os resultados deste estudo mostraram taxas de sucesso semelhantes em pacientes com mais de 35 anos, mas no grupo com menos de 35 anos, observamos que todos os parâmetros analisados foram estatisticamente menores em mulheres com endometriose. Poderíamos deduzir que isso ocorre porque as pacientes com endometriose provavelmente tinham menos ovócitos e, sim, é um dos motivos, mas não o único. A verdade é que a taxa de implantação, por exemplo, que não depende do número de ovócitos, é cerca de 15 pontos mais baixa (39% na endometriose vs. 55% na preservação por razões sociais), o que pode estar relacionado com a qualidade de ovócitos. A taxa de sobrevivência de ovócitos (85% na endometriose vs. 91% na preservação social) reforça essa tese", acrescenta Cobo.
Neste sentido, os resultados de sobrevivência, implantação e o menor potencial reprodutivo observado em pacientes jovens com endometriose confirmam o impacto negativo da doença na reserva ovárica e, provavelmente, na qualidade dos ovócitos. Soma-se a isso as alterações morfocinéticas observadas por outros autores nos embriões de pacientes com endometriose, o que sugere uma pior qualidade do embrião.
Este é um estudo retrospetivo que incluiu 485 mulheres com endometriose que preservaram a sua fertilidade, uma amostra do estudo apresentado anteriormente, em comparação com as 641 mulheres que realizaram preservação social, sem endometriose, uma amostra do estudo que a Ana Cobo publicou em 2018. Todas elas utilizaram novamente os seus ovócitos vitrificados para conseguir uma gravidez.
"Apesar da alta incidência de endometriose e do crescente número de mulheres que sofrem desta doença e que têm ovócitos vitrificados para proteger a sua fertilidade, pouco se sabe sobre a eficácia da estratégia nestes casos. Este estudo ajuda-nos a esclarecer algumas das principais dúvidas sobre o impacto da endometriose no resultado reprodutivo das mulheres que sofrem com a doença, daí, que aconselhamos todas as mulheres, que querem ser mães com os seus próprios óvulos, a preservar a sua fertilidade numa idade precoce para aumentar a probabilidade de gravidez. Sabendo que a cirurgia não só pode prejudicar a reserva ovárica como a endometriose também pode alterar a qualidade dos ovócitos, afetando negativamente a taxa de gravidez, quanto mais cedo preservarem, maiores serão as garantias de sucesso", conclui a Ana Cobo.