Parasitose

Doença de Chagas: em Portugal, maioria dos doentes não sabe que tem a doença

Atualizado: 
14/04/2020 - 15:46
A doença de Chagas afeta cerca de 7 milhões de pessoas em todo o mundo. Transmitida pela picada de insetos, estima-se que, em Portugal, cerca de 900 pessoas vivam com a doença sem o saber. Silenciosa, esta parasitose pode evoluir para doença cardíaca ou intestinal grave.

A doença

A doença de Chagas, também conhecida como Tripanossomose Humana Americana, é uma doença potencialmente fatal, causada pelo parasita protozoário Trypanosoma cruzi (T. cruzi), encontrando-se maioritariamente em zonas endémicas da América Latina, onde é transmitida do vetor para o ser humano através do contacto com fezes de uma família de insetos denominados de triatomíneos.

Apesar de ser endémica na América Latina, em função dos intensos fluxos migratórios de latino-americanos para os Estados Unidos da América, Canadá, vários países da Europa e alguns países do Pacífico Ocidental, a doença de Chagas começou a ter expressão global no fim da década de 90.

A falta de informação sobre a doença e o tratamento, associados ao estigma – uma vez que é tradicionalmente vista como uma doença dos pobres -, têm vindo a contribuir para o aumento do número de casos e a evolução para complicações graves.

Transmissão

“A doença de Chagas é transmitida pela picada de insetos nas Américas, mas pode também ser transmitida pelo sangue, transplantação ou da mãe para o feto”, explica Jorge Seixas, médico e professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical.

Sinais e sintomas

As manifestações clínicas da doença variam conforme as fases da doença: aguda, latente ou crónica.

“A fase aguda da doença é um quadro de febre e cansaço que geralmente se resolve espontaneamente em 4 a 6 semanas. Depois desta fase, o parasita permanece no organismo, principalmente no músculo cardíaco e nervos”, explica o especialista do IHMT.

No entanto, na maioria dos casos, esta é uma doença assintomática. E embora possam existir evidências parasitológicas e/ou sorológicas de infeção por T. cruzi, durante a fase latente, o doente raramente apresenta sintomas, achados físicos anormais ou evidências de envolvimento cardíaco ou do trato gastrointestinal mesmo quando avaliado por meio de exames especializados.

A doença crónica desenvolve-se em 20 a 40% dos casos, após uma fase de latência que pode durar anos ou décadas. Nestes casos, a insuficiência cardíaca, síncope, morte súbita resultante de bloqueio cardíaco ou arritmia ventricular, tromboembolismo ou doença do trato gastrointestinal são as principais complicações associadas.

Diagnóstico

O diagnóstico da Doença de Chagas pode ser realizado por microscopia para detetar a presença do parasita no sangue (fase aguda) ou através de exames sorológicos (fase crónica).

“O diagnóstico laboratorial é imprescindível para identificar todos os portadores da infeção. Todas as pessoas nascidas ou tendo vivido em área geográfica de transmissão de doença de Chagas podem beneficiar em fazer um teste de deteção desta infeção. O seu médico poderá solicitar um teste de deteção, que se positivo, deve ser confirmado no laboratório de referência do Instituto de Higiene e Medicina Tropical”, revela Jorge Seixas.

Por outro lado, uma vez que existe um grande risco de transmissão da doença pelo sangue, “desde 2015 que o Instituto Português do Sangue e da Transplantação realiza um teste de laboratório para doença de Chagas em todos os dadores que apresentam risco de ser portadores do parasita. Desta forma, a segurança do sangue está assegurada em Portugal. Os doentes positivos são encaminhados para os especialistas em doenças infeciosas da área de residência para avaliação completa, tratamento e seguimento”, acrescenta o médico.

Tratamento

“Existem medicamentos que podem levar à eliminação do parasita, impedindo a transmissão pelo sangue e órgãos, a passagem do parasita da grávida ao filho e o desenvolvimento de doença grave”, esclarece Jorge Seixas.

No entanto, os antiparasitários estão apenas recomendados para os casos de infeção em fase aguda.

Quando a doença já se encontra na sua fase crónica, e com comprometimento de outros órgãos, o tratamento é individualizado, sendo considerado como medida de suporte às complicações associadas.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Fonte: 
Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT); MSD Manuals
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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