O aquecimento global está a piorar a qualidade do sono
A Associação Portuguesa do Sono (APS) associa-se às comemorações do Dia Mundial do Sono, uma iniciativa da World Sleep Society, que este ano se assinala no dia 13 de março, subordinada ao tema "Melhor Sono, melhor vida, melhor planeta". Na comemoração desta data, que é uma chamada de atenção para a importância do sono na saúde e bem-estar, a APS pretende alertar para o impacto das alterações climáticas na qualidade do sono da população mundial e para a necessidade de adoção de medidas conscientes.
Estudos recentes estabeleceram a ligação entre o aquecimento do planeta e as noites mal dormidas. Demonstrou-se que o aumento da temperatura ambiental tem impacto na capacidade de termorregulação do organismo, ao dificultar a diminuição da temperatura corporal, estando assim associada a dificuldades de sono.
Evidências científicas mostram assim que o aumento da temperatura está associado à diminuição da duração e qualidade de sono e agravamento de patologias de sono, como o Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono.
Segundo Mariana Miller, psicóloga clínica e colaboradora da APS, “a termorregulação influencia não só o processo de adormecer, como a manutenção do sono. À medida que o organismo se prepara para adormecer, ocorre uma diminuição da temperatura corporal que se mantém baixa durante o período de sono, aumentando com a aproximação do acordar. Desta forma, ao influenciar a termorregulação, a temperatura ambiente pode afetar o normal funcionamento do sono”.
Nas últimas décadas, tem-se verificado o aumento da temperatura média da Terra, em particular da temperatura noturna. Nos primeiros seis meses de 2019, a temperatura aumentou quase 1ºC e projeta-se que, se a tendência se mantiver, as temperaturas poderão subir entre 3ºC e 5ºC até ao final do século. Desta forma, as alterações climáticas começam já a demonstrar, de forma direta e indireta (pelos stress e trauma causado por desastres naturais), influência na prevalência de problemas e qualidade de sono.
Um estudo conduzido nos Estados Unidos da América demonstrou que o aumento de 1ºC na temperatura noturna se associou a um aumento de três noites de sono insuficiente por 100 pessoas, sendo este efeito mais forte nos meses de verão e na população com baixo rendimento e idosa.
Os autores fizeram ainda uma projeção do número de noites de sono insuficiente, em 2050 e 2099, revelando uma probabilidade de aumento das dificuldades de sono pelo efeito das futuras alterações climáticas.
Atualmente, inúmeros autores e entidades de saúde a nível global consideram o sono insuficiente como um problema de saúde pública.
“Hoje sabemos que desempenhamos um papel ativo na nossa vida e no nosso planeta e, cada vez mais, conseguimos distinguir as relações entre aquilo que se passa connosco e com o nosso planeta”, acrescenta a psicóloga clínica, esperando que “no Dia Mundial do Sono que se aproxima, reflitamos sobre a adoção de medidas conscientes para atingir um “melhor sono, melhor vida, melhor planeta”".