Será que é fibromialgia?
A fibromialgia é uma doença que se caracteriza por dor músculoesquelética generalizada, difusa, muitas vezes migratória e por um aumento da sensibilidade a uma variedade de estímulos que podem causar dor e desconforto, como o esforço, stresse ou os ruídos.
Em Portugal, estima-se que existam cerca de 300 mil doentes diagnosticados e, embora se desconheça o motivo, as mulheres são as mais atingidas, sobretudo depois dos 40 anos. De acordo com o especialista em reumatologia, José António Pereira da Silva, para além de este ser um reconhecido fator de risco, “a história familiar da doença, especialmente na mãe ou no pai”, aumenta também o risco de desenvolver a patologia. Por outro lado, o especialista admite que, “com base na ciência e na experiência pessoal”, “os antecedentes de depressão e, sobretudo, os traços de personalidade caracterizados por preocupação permanente, tendência a remoer nos problemas, perfeccionismo e necessidade de estar permanentemente ativo, a trabalhar, são indicadores de um terreno fértil para a fibromialgia no futuro”.
Quanto à forma como se manifesta, e embora a dor seja o sintoma predominante, o cansaço excessivo, “por vezes ao ponto de exaustão”, é apontado pelo especialista como uma manifestação “quase universal entre estes doentes”.
Outros sintomas como as perturbações da concentração e da memória, a par das dificuldades com o sono – “é bastante frequente o doente acordar tão cansado como quando se deitou” –, são também comuns. “Alguns doentes têm episódios recorrentes de sintomas que sugerem a infeção urinária sem que os exames confirmem a presença de bactérias”, acrescenta o reumatologista.
No entanto, apesar de estes serem sintomas comuns, a verdade é que cada doente apresenta um conjunto próprio de sintomas, que podem até variar consoante as fases ou dias, constituindo um verdadeiro desafio ao seu diagnóstico. “Consoante os sintomas predominantes e a sua descrição, os médicos podem ser levados a pensar numa variedade de doenças”, admite o médico.
“O sofrimento é indubitavelmente real e intenso”
Apesar de hoje, mais do que nunca, se falar sobre a patologia, a verdade é o seu diagnóstico nem sempre é claro ou chega com a rapidez que o doente deseja. Para além do carácter inespecífico dos sintomas, “o problema é agravado pelo facto de que todos os exames, laboratoriais e de imagem”, não apresentam quaisquer alterações. “Isto exige do médico que tenha conhecimento e, sobretudo, sensibilidade para estas manifestações”, explica José António Pereira da Silva, para quem “há ainda muito por fazer para evitar que os doentes sejam expostos a essa causa adicional e sumamente injusta de sofrimento” que é a desvalorização das suas queixas.
De acordo com este especialista, é fundamental destruir o mito “que parece persistir na cabeça de muitas pessoas, e até alguns profissionais de saúde, de que os doentes com fibromialgia inventam ou, pelo menos, exageram grandemente nas dores que descrevem”. “A ciência atual não deixa qualquer margem para dúvida: o sofrimento é indubitavelmente real e intenso. O facto de não o sabermos explicar completamente não é, certamente, culpa do doente! Não é aceitável que acrescentemos às dores e ao cansaço, o sofrimento de ver invalidados os sintomas que deveras têm”, afirma José António Pereira da Silva.
Entre as patologias com que a doença se pode confundir estão as doenças reumáticas. “Artrose, Artrite Reumatóide, Espondilite Aquilosante e Miosites (inflamação dos músculos) estão entre as dúvidas mais frequentes”, admite o especialista revelando ainda que a prevalência da fibromialgia “é muito alta em coexistência com as doenças reumáticas inflamatórias e autoimunes como o Lúpus e a Síndrome de Sjogren”. Segundo José António Pereira da Silva, também a depressão, o hipertiroidismo e a falta de vitamina D podem simular a fibromialgia e devem, por isso, ser estudadas.
“A felicidade pode vencer a fibromialgia”
Quando fala em tratamento, o especialista reconhece que esta é uma doença “difícil de tratar”. Para já, sem cura conhecida e sem que exista um fármaco específico para a controlar, podem ser recomendadas várias classes de medicamentos como os antidepressivos, relaxantes musculares e analgésicos. No entanto, a sua eficácia “em geral, deixa muito a desejar”.
“Com base na ciência disponível e do meu conhecimento profundo de mais de 2000 doentes prescrevo, há anos, uma receita em que tenho profunda confiança e provas dadas: construir felicidade, fazer exercício físico regular, saborear banhos quentes e todas as outras formas de mimos”, revela o especialista segundo o qual é possível, com esta estratégia, obter excelentes resultados sobre as dores e sobre a vida em geral. “Acredito firmemente que a Felicidade pode, de facto, vencer a fibromialgia. É um caminho difícil, longo e exigente, mas não há caminhos fáceis para controlar esta doença”, afirma.
Segundo o especialista, para controlar e combater a fibromilagia, o doente deve compreender bem a doença e os fatores que agravam os seus sintomas “e conduzir a vida de acordo com isso”. “O doente tem que conhecer-se muito bem, sem subterfúgios, abrir a mente para aceitar o papel fundamental do stresse na sua vida e na sua doença, para reconhecer o poder absoluto da mente sobre o corpo, e usar isso para, no fundo de si mesmo, refazer o seu contra com a vida”, sublinha.
Foi a pensar nesta premissa que foi criado o Instituto Virtual de Fibromialgia, uma ferramenta clínica online que oferece uma variedade de instrumentos que procuram ajudar o doente a conhecer a melhor forma de diminuir o stress, aumentar o seu bem-estar e tranquilidade, promovendo a diminuição progressiva dos sintomas que potenciam a doença.
Em Myfibromyalgia® (www.myfibro.org) é possível encontrar informação atual sobre Fibromialgia, ferramentas de rastreio da doença e ter acesso a testemunhos reais de doentes. Para além disso, mediante subscrição, os doentes podem aceder a conteúdos exclusivos como um curso sobre o modelo de entendimento e tratamento da Fibromialgia, recomendações ajustadas ao perfil de cada um, aconselhamento individualizado através de consultas virtuais e um fórum de discussão e partilha.
“Esperamos melhorar continuamente os serviços que prestamos, pelo contributo dos utilizadores, pelo recurso a novos instrumentos e tecnologias, e também pela investigação própria que aqui pretendemos desenvolver. Myfibromyalgia® almeja constituir-se numa grande comunidade de entreajuda e de investigação em Fibromialgia”, afirma José António Pereira da Silva, diretor científico deste projeto pioneiro.