Tumores neuroendócrinos: o que são e como se tratam?
Os tumores neuroendócrinos são tumores com origem nas células neuroendócrinas (isto é, células que apresentam algumas características comuns às células nervosas, e outras típicas das células endócrinas, que têm capacidade de produzir hormonas), que existem em múltiplos locais. Tal como acontece com outros tipos tumores, eles surgem quando uma das células normais sofre alterações que lhe permitem escapar aos mecanismos de controlo do organismo, começando a dividir-se de forma desregulada, dando origem ao tumor. De acordo com a coordenadora do Grupo Multidisciplinar de Tumores Neuroendócrinos, do IPO de Coimbra, Raquel Martins, apesar de não se saber ao certo o que está na sua origem, “conhecem-se algumas situações que aumentam o risco do seu aparecimento e que estão presentes numa minoria dos casos”. São elas alterações genéticas e algumas doenças inflamatórias que atingem alguns órgãos, nomeadamente o estômago.
Apesar de puderem surgir em qualquer parte do corpo, são mais frequentes no estômago, intestino, pulmão e pâncreas.
Dada a sua complexidade, os sintomas podem ser inespecíficos ou surgirem já em fases avançadas da doença. Dor, cansaço ou perda de peso podem ser sinais de alerta. Segundo a endocrinologista, muitos destes tumores “crescem de forma indolente, sem se associarem a sintomas durante muito tempo, até anos, pelo que podem ser diagnosticados apenas numa fase avançada, em que além do tumor inicial já existem múltiplas metástases, impedindo, frequentemente, o tratamento curativo (embora permaneçam disponíveis vários tratamentos para controlar a doença) ”.
Outros produzem hormonas que dão origem a sintomas, que se tornam mais intensos à medida que o tumor ou as suas metástases crescem, como a diarreia, azia ou rubor facial.
Poucos são aqueles que se comportam de forma mais agressiva e “mais semelhante aos cancros mais comuns” e que apresentam como sintomas o emagrecimento súbito e inexplicado. “Contudo, como crescem de forma muito rápida, os doentes comummente já apresentam doença extensa quando são diagnosticados”, explica a especialista.
Para além da dor, as principais complicações estão associadas à produção desregulada de hormonas e dependem do órgão onde o tumor ou tumores, designados de funcionantes, se encontram localizados.
Terapêutica farmacológica utilizada para controlar produção de hormonas
O tratamento dos tumores neuroendócrinos depende de múltiplos fatores como as suas características - o tipo de tumor, se produz ou não hormonas - a localização e presença de metástases. “Sendo (estes) heterogéneos e relativamente raros, o seu tratamento deverá ser decidido, idealmente, em reuniões que estejam presentes as várias especialidades médicas envolvidas na sua orientação, em centros com experiência”, começa por dizer a especialista do IPO de Coimbra.
Entre as várias opções terapêuticas disponíveis estão a cirurgia, a terapêutica farmacológica, os tratamentos de medicina nuclear, as técnicas ablativas por radiologia de intervenção ou a radioterapia.
“A terapêutica farmacológica é utilizada para controlo do crescimento tumoral nas situações em que os tumores são irressecáveis – isto é, quando não é possível remover toda a doença através da cirurgia”, esclarece Raquel Martins. Esta é também a opção utilizada “para controlar a produção de hormonas pelo tumor (e deste modo, melhorar os sintomas do doente) nas situações de neoplasias funcionantes.
“Os análogos da somatostatina são fármacos que imitam a somatostatina, uma das hormonas do nosso organismo que tem como função controlar a libertação de outras hormonas”, explica adiantando que estes além de diminuírem a secreção de hormonas nos tumores funcionantes, permitem controlar o crescimento dos tumores. “Como são muito bem tolerados, são habitualmente a primeira opção terapêutica a considerar nos tumores neuroendócrinos bem diferenciados irressecáveis”, refere.
Segundo a especialista os tipos de análogos de somatostatina mais utilizados são a lanreotida e o octreoctido, “habitualmente administrados de 28 em 28 dias, através de uma injeção subcutânea ou intramuscular, respetivamente”, em regime hospitalar. A novidade é que a lanreotida é agora administrada através de uma nova seringa pré-carregada, “mais ergonómica, que torna mais simples o manuseamento e mais cómoda a aplicação do fármaco, garantindo maior eficiência na sua utilização”.