Não consegue engravidar? Saiba o que pode estar a acontecer
“Para que um casal tenha um filho é necessário que o ovário da mulher liberte um óvulo, que o testículo do homem produza espermatozoides, que o espermatozoide chegue ao encontro do óvulo e que o útero possa acondicionar o óvulo fertilizado”. Quem o diz é Marta Osório, especialista em Ginecologia e Obstetrícia, do Hospital de Vila Nova de Gaia, para quem é essencial desmistificar este tema. Deste modo, acrescenta, “basta que uma destas condições falhe, para que haja infertilidade”.
Por isso, se pensa em engravidar, o ideal é que faça uma consulta para avaliar os fatores de risco. É que, embora existam alguns sinais de alerta – como a irregularidade no ciclo menstrual, a idade avançada (considerada quando a mulher está perto dos 40), história de doença testicular (tumores, cirurgia, traumatismo, infeção) ou disfunção erétil -, cada caso é um caso.
As causas da infertilidade
A infertilidade é um problema que afeta tanto o sexo feminino quanto o masculino, embora os homens ainda tenham alguma dificuldade em falar sobre o assunto.
De acordo com Marta Osório as causas mais frequentes da infertilidade são a alteração do número ou da qualidade dos espermatozoides – o que ocorre em 30% dos casos -, a obstrução das trompas de Falópio, os distúrbios da ovulação e a diminuição do número e da qualidade ovocitária, muitas vezes associadas à idade avançada da mulher.
“A infertilidade feminina representa também cerca de 30 % das situações”, refere a especialista acrescentando que há ainda casais em que ambos têm um fator que dificulta a gravidez, e uma minoria de casos em que não se consegue identificar a sua causa. É a chamada infertilidade idiopática, que representa aproximadamente 10% dos casos.
No entanto, apesar das causas para a infertilidade estarem associadas a alguma anomalia do aparelho reprodutor, a verdade é que há alguns fatores relacionados com o estilo de vida que podem interferir com a concepção:
- A obesidade e a magreza extrema, explica Marta Osório, podem causar disfunção ovulatória na mulher e alterações da produção de espermatozoides no homem;
- O exercício físico intenso pode também ser nocivo para a fertilidade masculina e feminina;
- O stress intenso pode diminuir a libido, afetar a ovulação e a produção de espermatozoides;
- A exposição ao calor intenso, designadamente nas profissões que implicam o contacto prolongado com temperaturas elevada, pode prejudicar a produção de espermatozoides;
- O consumo de esteroides anabolizantes também tem consequências nefastas na produção de espermatozoides;
- A exposição profissional a solventes orgânicos, a alguns metais como o chumbo, cádmio ou mercúrio, e agentes químicos, é também uma causa reconhecida de agressão à fertilidade.
Infertilidade tem tratamento?
De acordo com a especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Marta Osório, há várias formas de ajudar os casais com infertilidade, “dependendo da causa”, nomeadamente através do recurso a técnicas de procriação medicamente assistida:
Inseminação Intrauterina (IIU) – trata-se de uma técnica minimamente invasiva e que consiste na “introdução de esperma, previamente tratado, na cavidade uterina, antes da ovulação”.
A sua taxa de sucesso situa-se entre 20 a 25% por ciclo e depende, não só da causa da infertilidade, como da idade da mulher, da qualidade o esperma e da duração da infertilidade.
Fertilização in vitro (FIV) – Consiste na estimulação do ovário com medicação hormonal injetável, que induz o crescimento de vários óvulos. Esses óvulos, quando estão maduros, são removidos do ovário (através de uma técnica chamada punção folicular) e colocados junto com os espermatozoides “num meio de cultura”.
Os óvulos fecundados (chamados embriões) são depois selecionados e transferidos para o útero. “Idealmente é transferido apenas um embrião”, explica a médica referindo que, apenas em situações muito particulares, podem ser transferidos dois. Todos os outros embriões, caso apresentem qualidade, podem ser criopreservados.
De acordo com Marta Osório, esta “é a técnica que permite ultrapassar a maioria das causas de infertilidade, quer femininas quer masculinas”, sendo que as suas taxas de sucesso podem chegar aos 40% por ciclo.
Microinjeção intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI) – trata-se de uma variante da fertilização in vitro que “difere apenas no processo laboratorial dos gâmetas”.
A Injeção Intracitoplasmática (ICSI) é uma técnica de procriação medicamente assistida que consiste na seleção dos melhores espermatozoides (os que apresentam melhor mobilidade e morfologia) para a fecundação. Após esta seleção procede-se à microinjeção dos ovócitos.
As taxas de sucesso da ICSI são bastante variáveis e dependem essencialmente de dois fatores: a causa de infertilidade e a idade da mulher.
Quanto mais complicado for o diagnóstico de infertilidade e mais velha for a mulher, menor será a probabilidade de sucesso do tratamento. Nos homens, embora a idade não seja tão relevante, as probabilidades de sucesso aumentam nos mais jovens.
Durante o tratamento, os casais devem manter hábitos de vida saudáveis, como não fumar, não beber bebidas alcoólicas nem consumir drogas. É aconselhado que pratiquem exercício físico e que façam uma alimentação saudável, com vista ao sucesso do tratamento.
Principais desafios
Segundo Marta Osório, “o tratamento não é um processo fácil, sobretudo a nível psicológico”. Isto porque, tal como explica a especialista, há um investimento emocional muito grande, criam-se muitas expectativas e por outro lado “há muito receio que o tratamento não corra bem”. De um modo geral, afirma, o tempo que decorre entre a primeira consulta e o início do tratamento é vivido com bastante ansiedade.
A nível físico, diz que este é um processo bastante mais fácil. “São tratamentos em que habitualmente se recorre a injeções subcutâneas, administradas diariamente”, começa por explicar. As agulhas são finas, não provocam “grande desconforto” e os efeitos secundários são mínimos, garante.
Um aspeto que importa ainda salientar, é o facto de ser necessário existir um investimento financeiro, o que pode constituir um desafio para os casais. É que mesmo nos casos em que o tratamento é realizado num centro público, e nos quais não há pagamento de taxa moderadora, “os casais (…) têm que pagar a medicação utilizada e que é uma medicação dispendiosa”.
Quanto à duração média de um tratamento, desde a primeira consulta até à gravidez efetiva, a especialista adianta que nos centros públicos de PMA existe uma lista de espera “que ronda os 8 a 12 meses”. Se esta não existisse, o tratamento poderia ficar concluído em 3 ou 4 meses.
É que, de acordo com Marta Osório, “são necessários cerca de 1 a 2 meses para estudo do casal e avaliação da causa de infertilidade”. A estimulação ovárica, que se inicia após este período, dura em média entre 10 a 15 dias. “Depois da colheita dos óvulos e da sua inseminação, no caso de FIV, coloca-se o embrião com 3 – 5 dias na cavidade uterina e aguardam-se duas semanas para fazer o teste de gravidez. No caso de estes ser positivo, confirma-se a gravidez ecograficamente quatro semanas após a transferência do embrião”, explica.