Mais de metade dos médicos portugueses é a favor da legalização da Eutanásia
O trabalho, conduzido por investigadores portugueses, quis saber qual a opinião dos médicos de algumas especialidades – como Anestesiologia, Medicina Geral e Familiar, Medicina Interna, Oncologia e Psiquiatria - quanto à prática e legalização da eutanásia. Para tal, foram ouvidos profissionais de seis hospitais e de 15 centros de saúde da região Norte do país.
Na sua grande maioria os médicos disseram ser a favor da legalização da eutanásia. Os mais novos, com menos experiência profissional e sem crenças religiosas são, na generalidade, os que mais concordam com a prática, no entanto, o estudo permitiu demonstrar que a opinião dos médicos é fortemente influenciada pelos cenários concretos que lhes são apresentados. “O apelo a um caso concreto é determinante para promover a aceitação da eutanásia”, explica Miguel Ricou, investigador do CINTESIS na área da Bioética e Ética Médica e docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
55% dos inquiridos concordam com cenários de eutanásia voluntária “em circunstâncias em que está explícita a vontade do adulto com doença incurável/terminal, incapacitante, com dor ou sofrimento insuportável”), menos de 40% concordam com cenários de eutanásia involuntária e apenas 20% aceitam a eutanásia num “adulto com doença terminal que ainda goza de boa qualidade de vida”.
“Estes resultados evidenciam que o sofrimento manifestado pelo doente, em consequência da doença, é, para os médicos, um critério mais relevante que o respeito pela autonomia, ainda que esta última seja condição. Por exemplo, nos cenários em que eutanásia ocorre a pedido da família, isto é, de terceiros, o procedimento é tido como inaceitável pela maioria dos participantes”, afirma o investigador do CINTESIS.
Segundo os autores, este estudo reforça a ideia de que, independentemente da evolução aparente do conceito de “boa morte”, “a eutanásia é um tema ainda controverso, representando um problema médico e social em Portugal, sendo necessários mais estudos sobre este tema”.