O impacto do colesterol no risco cardiovascular
Hoje em dia temos evidência científica robusta, com décadas de progresso, que nos indica que a concentração no sangue das lipoproteínas de baixa densidade (em inglês low-density lipoprotein), vulgarmente denominada como colesterol LDL, tem uma relação direta com risco de complicações cardiovasculares e daí terem desenvolvido a conotação de mau colesterol.
Sabemos também, fruto em particular dos estudos da colaboração Cholesterol Treatment Trialists, que a redução do colesterol LDL se associa a uma redução do risco de complicações cardiovasculares, redução essa que é tão mais intensa, quanto maior for a redução percentual dos valores de colesterol LDL.
Esta evidência tem levado as sociedades médicas neste campo a recomendar a estratificação de risco cardiovascular global e a determinar alvos de redução do colesterol LDL, ao qual se associam reduções significativas de risco cardiovascular. Em particular, a Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) estratifica o risco cardiovascular em 4 níveis – baixo, moderado, alto e muito alto – para os quais determina alvos de colesterol LDL específicos: 115 mg/dL nos grupos de risco baixo e moderado, 110mg/dL no grupo de risco alto e 70mg/dL nos doentes de risco muito alto.
Para além da divulgação destas recomendações, a ESC tem promovido também os estudos EuroAspire com o objetivo de quantificar a carga dos fatores de risco cardiovasculares, suas complicações e o grau de controlo dos alvos de colesterol LDL. A última edição do estudo o EuroAspire V foi realizado entre 2016 e 2017, em 27 países, nos quais se inclui Portugal, considerando na análise mais de 16 mil registos médicos. O estudo mostra que, apesar de se registar um elevado recurso a terapêuticas cardioprotetoras, os estilos de vida não saudáveis tiveram um impacto adverso no controlo dos fatores de risco. Além disso, no que respeita ao controlo do colesterol LDL, apenas cerca de 31% dos doentes de muito alto risco com pós-evento cardiovascular medicados com anti-dislipidémico atingiram o valor de colesterol LDL de 70 mg/dL, valor consentâneo com a média dos países de 32%.
Os resultados deste estudo demonstram que existe uma grande oportunidade de melhoria da correção dos fatores de risco cardiovascular, bem como uma grande oportunidade de melhoria do controlo do colesterol LDL, em particular nos doentes de muito alto risco. Desta forma, torna-se muito relevante potenciar os profissionais de saúde para capacitarem os doentes na instituição de estilos de vida saudáveis, nomeadamente a revisão da dieta, a prática de exercício físico regular e a cessação tabágica. Adicionalmente, apesar de dispormos de terapêuticas altamente eficazes para o controlo do colesterol, é importante que a abordagem farmacológica no controlo da dislipidemia seja incisiva, procurando por um lado ultrapassar a inércia terapêutica muito frequente neste âmbito, e por outro incentivar o doente a participar de forma ativa no controlo do seu colesterol, promovendo a toma rigorosa da medicação prescrita. O investimento reiterado nestes pontos trará certamente importantes ganhos em saúde da população, com ganho de anos de vida com qualidade e evicção da mortalidade precoce causada pelas complicações da doença cardiovascular.