Casos de cancro colorretal estão a aumentar em jovens adultos
Apesar não encontrarem uma justificação para o crescente número de casos diagnosticados, os investigadores apontam a obesidade e uma dieta alimentar pobre como possíveis fatores desencadeantes, e apelam a que não se desvalorizem os sintomas
Por toda a Europa, os programas de rastreio de cancro do intestino incidem sobre a população a partir dos 50 anos, uma vez que o risco de desenvolver a doença é maior nesta faixa etária.
Como resultado, a incidência deste tipo de cancro tem vindo a diminuir nos mais velhos.
No entanto, e uma vez que pesquisas recentes têm demonstrado que os números de casos de cancro aumentaram abaixo dos 50, muitos países optaram por baixar a idade de rastreio para os 45 anos, algo que ainda não acontece em Portugal onde o rastreio continua a ser realizado a partir dos 50 anos.
Incidência aumenta nos mais novos
Um estudo holandês, publicado no jornal científico Gut, analisou os dados de 20 países europeus, utilizando a informação de mais de 143 milhões de pessoas, e encontrou um aumento de casos de cancro colorretal em jovens com menos de 30 anos, entre 1990 e 2016.
De acordo com os dados recolhidos, a incidência deste tipo de cancro cresceu de 0,8 para 2,3 casos por cada 100 mil pessoas, ao longo de 26 anos, sendo que as maiores taxas foram registadas entre 2004 e 2016 atingindo um valor de 7,9% por ano.
No entanto, o número de mortes por cancro do intestino, nesta faixa etária, não tem aumentado apesar da sua incidência, diz o estudo.
Os investigadores da Universidade de Roterdão consideram que, se se continuar a observar esta tendência, as idades de rastreio devem ser reconsideradas.
Estudo realça história familiar da doença
Outro estudo, publicado na revista The Lancet Gastroenterology & Hepatology, vem confirmar o aumento da incidência da doença em jovens adultos nos países mais ricos, como é o caso da Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido.
Entre 1995 e 2014, houve um aumento de 1,8% de casos de cancro do cólon e 1,4% de casos de cancro retal em adultos com menos de 50 anos, dizem os investigadores.
Durante o mesmo período, os casos de cancro caíram 1,2% após os 50, sendo que estes resultados foram similares em muitos dos países avaliados.
Marzieh Araghi, autora do estudo, considera que estes dados mostram que está na altura de agir.
"Embora o rastreio em pessoas com menos de 50 anos não seja considerado custo-efetivo devido a números de incidência relativamente baixos, a história familiar pode ajudar a identificar pessoas mais jovens com alto risco de suscetibilidade genética ao cancro colorretal, para uma avaliação adicional," afirma.
Araghi acrescenta que são necessários mais estudos para “estabelecer as causas do aumento de casos de cancro para se desenvolverem estratégias preventivas e de diagnóstico precoce”.
Por cá, e em resultado destes dados, a Associação Europacolon defende a redução da idade de rastreio do cancro do intestino dos 50 para os 45 anos e que este deve ser acompanhado de uma endoscopia alta para detetar também tumores gástricos.