Cancro do ovário: 5 sinais que não devemos ignorar
Em Portugal são diagnosticados, todos os anos, cerca de 474 novos casos de cancro do ovário. Um tumor que se caracteriza essencialmente pelo crescimento anormal de células de localização ovárica e que, de acordo com as estimativas, resulta na morte de 30 mulheres a cada mês.
O carcinoma epitelial do ovário, que tem origem nas células do epitélio (tecido que recobre o órgão), é o tipo mais frequente, estando dividido em vários subtipos dos quais se destacam “pela sua frequência e/ ou agressividade, o carcinoma endometrioide, o carcinoma seroso de alto grau ou o carcinoma de células raras”.
Habitualmente diagnosticado após a menopausa, o cancro do ovário pode surgir, no entanto, em mulheres um pouco mais jovens com história familiar deste tipo de tumor. “Numa mulher de 35 anos, tendo havido história de cancro de ovário num familiar, aumenta a probabilidade de desenvolver esta patologia, durante a vida, de 1,6 para 5%”, começa por explicar Noémia Afonso, especialista em Oncologia no Hospital Cuf Porto.
Por outro lado, as mulheres com síndromes de cancro do ovário hereditário têm entre 25 a 50% mais probabilidade de desenvolver a doença ao longo da vida.
A par da obesidade, também “a nuliparidade, menarca precoce (antes dos 12 anos), menopausa tardia (após os 52 anos), endometriose, síndrome do ovário poliquístico e a exposição a terapêutica hormonal de substituição” constituem importantes fatores de risco para o desenvolvimento desta neoplasia.
“As manifestações iniciais do cancro do ovário são frustes, pouco valorizadas pela mulher e muitas vezes atribuídas a outras causas, o que permite que o cancro cresça silenciosamente e, só numa fase avançada, quando surgem sintomas que a preocupam e a levam a procurar ajuda médica, é feito o diagnóstico”, revela a especialista que alerta para a importância de estar atenta aos sintomas.
Assim, numa fase inicial a doença pode manifestar-se com os seguintes sinais:
- Dor pélvica persistente
- Alterações do ciclo menstrual ou hemorragia vaginal
- Distensão pélvica/abdominal
- Queixas urinárias
- Alterações do trânsito intestinal
“Numa fase mais avançada pode ocorrer aumento do volume abdominal, alterações do estado geral como cansaço, náuseas/vómitos, diminuição do apetite e emagrecimento involuntário”, explica a médica.
O diagnóstico é, geralmente, feito através de exames de imagem, como a ecografia endovaginal, a TAC ou a ressonância magnética pélvica. “Frequentemente associa-se a avaliação, no sangue, do marcador tumoral CA125 que, apesar da sua inespecificidade, em caso de estar elevado aumenta a suspeita de carcinoma do ovário”, acrescenta a especialista do Hospital Cuf Porto.
No entanto, o diagnóstico definitivo só é feito após a remoção do tumor e avaliação anatomopatológica. Só nesta altura “é confirmado o diagnóstico de cancro do ovário e descritas as suas características, nomeadamente o subtipo histológico”.
Apesar do tratamento depender do estádio em que se encontra a doença, passa, habitualmente, pela combinação de cirurgia e quimioterapia. Em estádios mais avançados, a opção cirúrgica é avaliada caso a caso.
“A cirurgia cito-redutora consiste na remoção do máximo de tumor possível, idealmente na remoção total. A quimioterapia surge após a cirurgia para completar este tratamento, ou previamente se a cirurgia não for exequível, ou em casos de doença avançada”, explica a médica oncologista que acrescenta que a associação do anti-angiogénico bevacizumab tem demonstrado bons resultados no controlo da doença “em situações específicas”.
“Atualmente, na prática clínica está também preconizada a manutenção com fármacos designados por inibidores da PARP, de administração oral, e particularmente eficazes na presença de mutação BRCA. Pode ainda considerar-se o estudo genómico do tumor para identificação de alterações que sugiram benefício com outras terapêuticas, nomeadamente com imunoterapia”, acrescenta.
Ao nível do prognóstico, a sobrevivência por tumor do ovário depende do estádio em que se encontra, estimando-se que a taxa de sobrevivência caia cerca de 40% entre os estádios iniciais e os avançados. “Aos 5 anos a sobrevivência é de cerca de 50%, considerando a doença localizada ou locorregional, e de apenas 15% para a doença diagnosticada em estádio IV”, refere Noémia Afonso reforçando assim a importância do diagnóstico precoce. “É de sublinhar a importância de as mulheres consultarem regularmente o seu ginecologista para vigiar possíveis alterações”, termina apelando que não descure a sua saúde.