Doença Periodontal e Diabetes: qual a relação?
Trata-se de uma doença que evolui de forma silenciosa, muitas vezes sem sintomas, e que atinge 4 em cada 5 pessoas com mais de 35 anos. A doença periodontal que habitualmente evolui de uma gengivite, sem dor, é considerada a patologia crónica oral mais prevalente no mundo.
De acordo com o médico dentista, Paulo Marques, trata-se de uma patologia “inflamatória crónica de origem multifatorial” provocada pela acumulação da placa bacteriana.
Gengivas edemaciadas, avermelhadas e sensíveis, hemorragia durante a mastigação ou escovagem, aumento da sensibilidade dentária, mobilidade ou alterações no alinhamento dentário e mau hálito, são alguns dos principais sintomas.
E embora se pense que doença esteja intimamente ligada a uma higiene oral deficiente, a verdade é que há vários fatores de risco que condicionam o seu desenvolvimento. Entre eles destacam-se os hábitos alimentares, alterações hormonais, a utilização de medicamentos “que produzem alterações no fluxo e composição da saliva”, as doenças imunossupressoras que reduzem a capacidade de resposta e defesa do sistema imunitário, as doenças inflamatórias sistémicas crónicas, endócrinas, nutricionais e metabólicas, para além dos fatores genéticos.
“A doença periodontal está associada a várias patologias sistémicas, como a diabetes, doenças cardiovasculares, infeções respiratórias, artrites reumatoide, partos prematuros”, começa por explicar o especialista de Clínica Médica Dentária Visdente, esclarecendo que, entre as manifestações orais mais frequentemente associadas a estas doenças, estão as “lesões da mucosa oral, da língua, gengiva, as lesões periodontais, das glândulas salivares, do esqueleto facial e da pele extra oral”.
E justifica: “os dentes, a língua, as bochechas e a gengiva são superfícies da cavidade oral, colonizadas por comunidade microbianas complexas” que servem para a preservar o equilíbrio e a homeostasia na cavidade oral, “ajudando a produzir nutrientes, a manter o pH, a modular a produção de saliva e a gerar substâncias inibitórias, de modo a prevenir a colonização e crescimento de espécies exógenas e patogénicas”.
A diabetes para além de produzir alterações vasculares no periodonto, aumentando assim o risco de infeções, provoca ainda uma diminuição na produção de saliva e altera a sua composição. Facto que contribui não só para a diminuição dos mecanismos de defesa da cavidade oral como favorece a formação e o crescimento da placa bacteriana.
“A semelhança dos agentes patogénicos responsáveis pela periodontite em pacientes diabéticos e não diabéticos sugere que as modificações da resposta imunitária do hospedeiro pode exercer uma ampla influência sobre a maior prevalência e gravidade das lesões periodontais em doentes diabéticos”, revela Paulo Marques.
Deste modo, diz o especialista, “há evidências científicas que mostram uma ligação entre a doença periodontal e diabetes”, estando os doentes com diabetes não controlada mais expostos à doença. Do mesmo modo, “os pacientes com doença periodontal têm maior dificuldade no controlo da glicemia”.
A estreita associação entre estas duas patologias faz com que seja ainda mais importante estar atento aos sintomas. E também o médico dentista tem um papel fundamental, não só no seu diagnóstico como no tratamento.
“Os pacientes bem controlados, sem complicações crónicas, com boa higiene oral e acompanhamento médico regular podem ser tratados sem necessidade de cuidados especiais, uma vez que respondem de forma favorável e da mesma forma que os não-diabéticos”, afirma.
No caso de doentes “descompensados e com múltiplas complicações, o tratamento estomatológico deverá ser paliativo e em situações de urgência, como a presença de dor e de infeção”. O tratamento definitivo só pode ser efetuado depois de estabilizado este quadro.
Segundo Paulo Marques, o diagnóstico e tratamento de doentes diabéticos exige um conhecimento detalhado da patologia. No entanto, “ainda há falta de informação dos profissionais quanto à forma mais adequada de lidar com estes pacientes”.
Para o especialista é essencial realizar a história clínica do doente, incluindo dados que remetam para a sintomatologia da diabetes, níveis recentes de glicose e frequência de hipoglicemia.
“O médico dentista deve ter particular atenção aos fármacos em utilização pelo paciente, à sua dosagem e frequência de administração, e a parâmetros que poderão ser ajustados no caso de uma intervenção maior”, revela.
“As consultas devem ser realizadas ao início da manhã, quando os níveis de glicose do paciente são estáveis e este deve estar previamente alertado para manter a sua dieta e terapêutica antes da consulta”, acrescenta referindo que compete ainda ao médico dentista medir o nível de glicose antes de qualquer procedimento, que não deve efetuar “se os níveis de glicose forem inferiores a 70mg/dL”. E se, por algum motivo, suspeitar que há uma descida dos mesmos durante a consulta, “deve suspender imediatamente o tratamento e proceder à administração de hidratos de carbono (chocolate, água com açúcar) ”.
Em matéria de prevenção, é importante reforçar que a manutenção de bons hábitos de higiene oral é essencial para evitar a progressão da doença periodontal ou outras complicações associadas à diabetes.