O tratamento do AVC: onde estamos e para onde vamos?
Tratar o doente com AVC agudo impõe dois pressupostos que se complementam: o do tratamento propriamente dito - que no caso do AVC isquémico inclui as terapêuticas de reperfusão química, disponível em grande parte dos hospitais que tratam doentes com AVC, e a mecânica, apenas assegurada pelos hospitais mais diferenciados – e o de um modelo organizacional que o suporte. Em Portugal foi instituída em boa hora a Via Verde do AVC, de particular relevância dado que permite, uma vez contactado o 112, orientar o doente o mais rapidamente possível para o hospital que o possa tratar adequadamente.
Tempo é cérebro é uma frase que nunca é de mais repetir uma vez que quanto mais precocemente for possível recanalizar o vaso ocluído, maior será a probabilidade de o doente recuperar das graves limitações com que potencialmente pode ficar.
Aqui estamos. E para onde vamos? Não é fácil dizer. Contudo, várias outras modalidades de atuação terapêutica têm vindo a tentar demonstrar o seu benefício clínico. Elencarei as que julgo terem maior probabilidade de virem a revelar-se úteis, apesar de ambiciosas: a implementação de uma rede de ambulâncias com TAC incorporada e equipas médicas diferenciadas, o que permitiria antecipar o diagnóstico e definir a melhor estratégia de tratamento (que passaria a ter início na própria ambulância) e orientação do doente; a institucionalização da telemedicina como ferramenta indispensável para colocar em diálogo os profissionais dos diferentes hospitais que avaliam o doente com suspeita de AVC e, de igual modo, os profissionais do pré e intra-hospitalar. E é possível que outros medicamentos possam surgir para proteger o cérebro em sofrimento e evitar o seu edema potencialmente fatal.
Face aos avanços da medicina, neste como noutros domínios, cada vez mais se exige organização e o recurso às novas tecnologias no apoio à decisão.
Mas, como em tudo na vida, a palavra que antecipa o tratamento emerge como a mais importante. E essa chama-se prevenção.
Dr. Gustavo Santo - médico neurologista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e membro da Sociedade Portuguesa do AVC