Opinião

Tuberculose: será possível eliminar a doença até 2050?

Atualizado: 
25/03/2019 - 12:55
No século XXI a tuberculose continua a ser um problema grave de saúde pública a nível mundial, apesar do número de casos ter vindo a diminuir globalmente e de uma forma sustentada. No entanto, a manter-se esta tendência, será insuficiente para acabar com a epidemia da doença até 2050, conforme está previsto na estratégia “stop tuberculose” da Organização Mundial da Saúde e nos objetivos de desenvolvimento sustentável. O objetivo da Organização Mundial de Saúde é a eliminação da tuberculose até 2050, o que significa ter menos de um caso por ano por 1 milhão de habitantes.

A tuberculose é uma doença infeciosa causada por uma micobactéria – o Mycobacterium tuberculosis - e a transmissão da doença faz-se quase exclusivamente por via aérea. O pulmão é o órgão envolvido na maior parte dos casos, são estes doentes com lesões pulmonares e bacilos na expetoração que transmitem a doença. Quando estes doentes tossem, falam, cantam, espirram os bacilos são eliminados em suspensão nas partículas e inalados pelos indivíduos que contatam com o doente. Dos contatos próximos do doente bacilífero cerca de 30% podem ficar infetados e deste grupo cerca de 10% pode desenvolver doença ao longo da vida. O risco de desenvolver doença é superior para populações com depressão imunidade: crianças até aos 5 anos, doentes com infeção por Virus da Imunodeficiência Humana (infeção VIH- SIDA), doentes portadores de doenças que deprimem a imunidade ou doentes a fazer tratamentos imunossupressores estão entre as populações de maior risco.

Em Portugal, os profissionais envolvidos na definição e na implementação do Plano Nacional e dos Planos Regionais de Luta contra a Tuberculose têm como principal objetivo trabalhar para atingir o mais rapidamente possível as metas do controlo e da erradicação da tuberculose. Nas últimas décadas a incidência de tuberculose tem vindo a diminuir anualmente de uma forma sustentada, tendo ultrapassado o limite definido como de baixa incidência, mas o nosso objetivo é atingir o nível de controlo da doença semelhante à dos países da Europa Ocidental e posteriormente atingir o objetivo principal que corresponde à  eliminação do doença.  Em Portugal, a concentração dos casos de tuberculose continua a verificar-se nos grandes centros urbanos, a associação da tuberculose a problemas sociais, a diferentes comorbilidades e o risco acrescido com alguns dos novos tratamentos imunossupressores torna-a mais difícil de abordar. A bordagem deve ser dirigida em primeiro lugar no benefício do doente tendo em consideração a orientação do diagnóstico, do tratamento e a vigilância. É igualmente importante a abordagem que tem em consideração o benefício do coletivo com vista a prevenir novos casos e deve ser orientada para a redução do risco de transmissão, a identificação das populações de maior risco de exposição e de desenvolvimento de doença quando infetadas, proporcionando tratamento preventivo em todos os casos em que se identifica risco futuro de desenvolver doença.

Numa era em que: a confirmação do diagnóstico, na maior parte dos casos tuberculose contagiosa, pode ser feita em horas; dispomos de tratamentos baratos e eficazes que levam à cura da doença com esterilização; temos possibilidade de em poucas horas identificar tuberculoses multirresistentes, é necessário avaliar o modo como devemos organizar a luta contra a doença. Parece claro que para se conseguir atingir o objetivo do controlo e da eliminação da doença é preciso muito mais do que esperar passivamente para diagnosticar precocemente e tratar corretamente os doentes com tuberculose.

O controlo da tuberculose e a sua eliminação dependem muito da ação dos profissionais de saúde mas sem uma melhoria da acessibilidade aos serviços de saúde, sem políticas de erradicação da pobreza e de diminuição de desigualdades, sem inovação e investigação em tuberculose nunca conseguiremos atingir o objetivo de eliminação da doença.

Dra. Aurora Carvalho - Assistente Graduada Sénior de Pneumologia
Pneumologista do Hospital Lusíadas
Coordenadora do CDP Gaia

Nota: 
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