Inovação na nutrição parentérica em neonatologia tem permitido maior sobrevivência de recém-nascidos prematuros
Em primeiro lugar, referir que os neonatologistas portugueses estão bem preparados no que à nutrição parentérica diz respeito. Muito devido ao trabalho da Sociedade Portuguesa de Neonatologia que, regularmente, tem emanado recomendações baseadas em normas de orientação internacionais, muito úteis para nortear a prática clínica.
Nas últimas décadas, têm-se registado sucessivos avanços nesta área, sobretudo na composição das respetivas soluções. A comercialização de bolsas de soluções prontas a usar, com estabilidade dos nutrientes assegurada e esterilidade microbiológica é um desses avanços. As inovações, quer na nutrição parentérica preparada individualmente (compouding) quer nas soluções prontas a usar, têm permitido maior sobrevivência de recém-nascidos muito prematuros e melhoria da morbilidade, nomeadamente no seu crescimento, nutrição óssea e nutrição cerebral, refletida pelo desenvolvimento psicomotor. No recém-nascido muito prematuro ainda não é possível substituir o ambiente intrauterino ideal do qual beneficia um feto com idêntica idade de gestação. Assim, após o nascimento, a desnutrição precoce pode comprometer o seu crescimento, saúde óssea e neurodesenvolvimento destes bebés, com consequências a médio e a longo prazo. Sabemos também que o excesso de nutrição, que se reflete num aumento exagerado de peso nos primeiros meses de vida, predispõe à futura obesidade e doença cardiovascular. O desafio é, por isso, nutrir bem, evitando tanto a subnutrição como a sobrenutrição.
Quanto mais prematuro for o bebé, mais imaturo é o seu aparelho digestivo. No recém-nascido com menos de 33 semanas de gestação (muito pré-termo), e especialmente no com menos de 28 semanas (extremo pré-termo), a motilidade intestinal está muito diminuída e a produção de enzimas digestivas é insuficiente. À medida que a idade pós-natal avança, o sistema digestivo amadurece. Nesse intervalo de tempo, em que o tubo digestivo é total ou parcialmente incapaz de receber alimento, digeri-lo e absorvê-lo, é necessário nutrir por via intravenosa, por intermédio da nutrição parentérica.
É a nutrição parentérica que permite fornecer os macro e micronutrientes essenciais ao seu crescimento. Quanto melhor for a qualidade da nutrição parentérica, mais segura e eficaz se torna esta forma de tratamento, fundamental enquanto não é possível usar a via entérica.
Nas unidades de neonatologia, o trabalho de equipa torna-se fundamental e é essencial em vários momentos deste processo. No caso da preparação da nutrição parentérica individualizada em meio hospitalar, é necessária a colaboração entre clínico e farmacêutico no ato de prescrição. Durante a preparação, boa colaboração entre farmacêutico e técnico de farmácia. No momento de administração, treino pela equipa de enfermagem.
As soluções comerciais prontas a usar têm a vantagem de obviar preocupações com os dois primeiros passos, mas exige cuidado na monitorização de desequilíbrios metabólicos ao usar uma solução com composição fixa em recém-nascidos com mais dificuldades de adaptação.
Prof. Doutor Luís Pereira da Silva - Pediatra Neonatologista do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, E.P.E., Hospital D. Estefânia.