Esteatose Hepática atinge 20% dos jovens com excesso de peso
Vulgarmente conhecida por Fígado Gordo, a Esteatose Hepática é já considerada a doença do fígado mais frequente, embora pouco se oiça falar dela. Atingindo mais de um milhão de portugueses, esta condição resulta da acumulação de “triglicéridos e ácidos gordos livres nas células do fígado” que, em casos mais graves e avançados, pode evoluir para cirrose.
“A esteatose hepática é uma doença que começa muitas vezes na vida intrauterina, em casos de diabetes gravídica. Calculando-se que a incidência da EH seja de cerca de 20% nos jovens com menos de 20 anos. O diagnóstico pode ser feito em qualquer idade”, começa por explicar Rui Ribeiro, coordenador do Centro Multidisciplinar da Doença Metabólica da Clínica de Santo António.
Entre os grupos de risco estão assim os “doentes portadores de obesidade ou diabetes tipo 2 e aqueles com um estilo de vida desregrado, com dieta rica em gorduras ou açucarados ou bebidas alcoólicas”. De acordo com o especialista, o sedentarismo é também um grande fator de risco e “o consumo de tabaco precipita, de forma independente, o agravamento da doença”.
“Doentes com Síndrome do Ovário Poliquístico ou o Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono são igualmente grupos de risco”, acrescenta o cirurgião.
Embora tipicamente assintomática, a Esteatose Hepática pode provocar cansaço e dor ou desconforto no abdómen. O primeiro sinal de alerta pode ser mesmo e apenas a presença de “abdómen proeminente de forma desfasada com o restante corpo, associado – nunca é demais repetir – a uma dieta hipercalórica e um sedentarismo comprometedor”.
Na verdade, de acordo com o especialista “quem assume uma dieta rica em hidratos de carbono, gordura ou álcool, sem fibra, hipercalórica e não pratica qualquer tipo de exercício físico é um sério candidato a ter fígado gordo e fica exposto às consequências dessa doença silenciosa”.
Em casos mais avançados, com lesão ou inflamação do fígado, podem surgir outros sintomas como perda de apetite, náuseas e vómitos, icterícia, febre, abdómen dilatado, hemorragias nasais ou pernas inchadas.
Apesar do diagnóstico definitivo chegar apenas após uma biopsia do fígado, as análises laboratoriais, onde se detecta aumento das enzimas hepáticas em doentes obesos, diabéticos ou dislipidémicos, pode levantar a suspeita da doença. A ecografia abdominal revela o aumento do volume do fígado.
“O fígado gordo não tem tratamento farmacológico. A única forma de o controlar ou fazer regredir é emagrecendo e mantendo um estilo de vida saudável, com uma dieta rica em fibras e produtos naturais sem gordura ou açucarados a par de exercício regular”, afirma o coordenador do Centro Multidisciplinar da Doença Metabólica.
No entanto, explica que, embora algumas pessoas consigam baixar o peso, o perfil crónico das doenças de base – obesidade e diabetes – levam a que a grande maioria volte a recuperar o peso.
“O único tratamento eficaz e que consegue taxas muito elevadas de emagrecimento definitivo e redução marcada da quantidade de gordura no fígado é o tratamento com cirurgia da obesidade ou da diabetes”, acrescenta Rui Ribeiro.
Embora a maioria dos casos apresente uma evolução benigna, as principais complicações da Esteatose Hepática são a cirrose e o cancro do fígado, estimando-se que a neoplasia se desenvolva entre 2,5 a 12% dos casos.
“Calcula-se que o fígado gordo será, em breve, a principal causa de cancro do fígado em todo o mundo bem como a principal causa de transplante”, adverte o especialista reforçando a necessidade de se adotar uma atitude preventiva quanto a esta matéria, optando por um estilo de vida mais saudável.
Uma dieta pobre em gorduras saturadas, rica em fibras e com abstenção alcoólica é o primeiro passo para a manutenção de um peso saudável, melhorando a qualidade de vida. Rui Ribeiro recomenda ainda a prática de exercício físico “regular e superior a 150 minutos semanais” e acompanhamento médico.